segunda-feira, dezembro 04, 2006

Cem escovadas antes de dormir



Melissa (María Valverde) vai completar 16 anos. É uma moça bonita de rosto. Olhar expressivo, boca carnuda. O corpo? Virgem e meio fora do padrão de beleza atual e louco para se entregar ao belo mancebo Daniele (Primo Reggiano), por quem Melissa é (ou pensa que é) apaixonada. A adolescente siciliana sempre anota tudo em um diário e anda em companhia da amiga Manu (Letizia Ciampa), mais fofa que ela própria.
Melissa mora com a mãe, vendedora de vestidos de noiva numa loja, e a avó, fumante inveterada, fã de Pet Shop Boys e confidente da neta. É nos diálogos com a avó que Melissa aprende a contar “Cem escovadas antes de dormir”. Preconiza a avó Elvira (Geraldine Chaplin) que a cada 'golpe de escova' nos cabelos, defronte ao espelho, as dúvidas e as culpas vão se dissipando.
Questão a ser discutida entre os psicólogos de plantão: até que ponto a ausência paterna (o pai trabalha longe e só fala com ela pelo telefone) contribui para o comportamento de Melissa. Outra 'explicação' seria o repentino afastamento da avó, colocada numa casa geriátrica.
E que comportamento é esse? Vamos dizer que Melissa demonstra ser o protótipo da menina perdida – o tipo de menina que os homens mais procuram.
Com sua fotografia escura, que enfatiza a sensualidade e o clima de descoberta e experimentação, “Cem escovadas antes de dormir” não é, na verdade, um ensaio sobre a devassidão, nem tampouco uma análise do preconceito de gênero (homem pode ser 'promíscuo', a mulher não?). É sobre um coraçãozinho desiludido que procura a fuga (ou vingança?) no que pode ser considerado por alguns um comportamento sexual reprovável.
Não espere, entretanto, cenas chocantes: o diretor Luca Guadagnino escolheu contar a história de Melissa Panarello (a autora do livro-diário “Cento Colpi Di Spazzola Prima Di Andare a Dormire”) de modo (relativamente) contido e implícito. Ponto para ele.
Sobre María Valverde: nascida em Madri em 1987, venceu o prêmio Goya em 2003 pelo filme La flaqueza del Bolchevique. Com 19 anos e uma filmografia de nove longa-metragens, não é uma atriz “promissora”, como pode achar algum desavisado. É uma esfuziante (e sensual) realidade.

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