domingo, abril 29, 2007

Miss Potter


A escritora e ilustradora Beatrix Potter (1866-1943) encantou gerações com sua série de livros que imortalizaram personagens como Peter Rabbit (The tale of Peter Rabbit, publicado em 1902, vendeu 40 milhões de cópias no mundo todo) e Jemima Puddle-Duck.

Sua vida e arte são abordadas em Miss Potter. Renée Zellweger é a delicada Beatrix e Ewan McGregor é Norman, o inexperiente, porém perceptivo editor das obras de Beatrix. Os seguidos contatos entre a artista e o homem de negócios provocam sentimentos inesperados no coração da solteirona de 36 anos, mas os pais aristocratas de Beatrix não aprovam a amizade.

O diretor australiano Chris Noonan - cuja realização mais famosa é "Babe, o porquinho atrapalhado", de 1995 - conta a biografia da artista londrina de modo enternecedor.

quarta-feira, abril 25, 2007

A colheita do mal

O diretor Stephen Hopkins tem no currículo A Hora do Pesadelo 5 (1989), Predador 2 (1990), A Sombra e a Escuridão (1996) e Perdidos no Espaço (1998). De 1999 a 2001, namorou a atriz Naomi Watts. (Sei, isso não tem relevância alguma.) Em 2004, dirigiu a co-produção da BBC e HBO The life and death of Peter Sellers, com Geoffrey Rush. O realizador nascido na Jamaica e educado em Londres agora ataca com The reaping (A colheita do mal, 2007), cujo maior trunfo é a presença de Hillary Swank. A atriz duplamente oscarizada é Katherine Winters, missioneira que, após um trauma familiar, torna-se uma pesquisadora cética. Através de explicações científicas, desmascara eventos "sobrenaturais" ou "milagrosos". Tipo de pessoa que deve ter como livro de cabeceira O mundo assombrado pelos demônios, a obstinada defesa da ciência magistralmente escrita por Carl Sagan.

Depois de solucionar um caso inicial (o cadáver de um padre intacto por 40 anos no Chile), Katherine é chamada a uma pequena cidade nos Everglades. O rio ficou vermelho e as pessoas acusam Loren McConnell (AnnaSophia Robb), uma menina de 12 anos, de ser a responsável. Com a ajuda de Ben (Idris Elba) e o assessoramento local de Doug (David Morrissey), Katherine procura uma explicação científica para a cor escarlate da água do rio. Retira amostras e manda para o laboratório. In the meantime, novos episódios estranhos acontecem, numa sucessão que imita as dez pragas bíblicas. Katherine tenta se aproximar da menina Loren, o que lhe evoca a lembrança da própria filha e do marido, assassinados no Sudão quando Katherine trabalhava como missionária.

Os problemas do roteiro são o mau uso das idéias e o modo como as 'explicações' são inseridas. A colheita do mal não faz jus ao gênero suspense/fantástico, tradicionalmente defendido por diretores de talento, como Alfred Hitchcock, Peter Jackson e Sam Raimi.

domingo, abril 08, 2007

300

O diretor Zack Snyder, de Madrugada dos Mortos
(http://olharcinefilo.weblogger.com.br/200404_olharcinefilo_arquivo.htm), baseia sua segunda e esperada película no homônimo álbum de HQ de Frank Miller sobre a Batalha das Termópilas, episódio da guerra entre gregos e persas, no século V a.C.

Nessa batalha, o bravo Leônidas recruta 300 dos melhores soldados espartanos, todos com filhos a quem legar o nome, com o objetivo de impedir o avanço das tropas persas por território grego. O plano de Leônidas (Gerard Butler), com a ajuda de 4000 combatentes de outras cidades-estado, é formar uma barreira humana inexpugnável no desfiladeiro das Termópilas - que, na época, possuía uma passagem de 12 metros de largura -, repelir as investidas, infligir perdas no numeroso exército persa (conforme Heródoto, um milhão de soldados; historiadores modernos calculam em 250 mil), e assim abater o ânimo dos comandados de Xerxes (Rodrigo Santoro). Uma das bonitas cenas do filme é o momento em que Leônidas parte com seus 300 soldados e se despede do filho e da rainha Gorgo (Lena Headey).

Há líderes em que a coragem, a obstinação, a estratégia, a ética e o amor à liberdade se reúnem de forma rara; há filmes onde o apuro, a honestidade, a energia, o idealismo e a paixão se unem de modo empolgante. Líderes como Leônidas, o rei de Esparta, e filmes como 300, de Zack Snyder.

Transamerica

Duncan Tucker estréia como diretor contando a história de Bree, diminutivo para Sabrina, cozinheira/garçonete numa modesta lancheria de Los Angeles. Em casa, Bree completa a renda como agente de televendas. Tudo seria normal na vida dessa discreta senhora, não fosse seu pênis. Bree é na verdade Stan, diminutivo para Stanley, um transexual na fila de espera para a operação de redesignação sexual. Para isso, precisa do aval da terapeuta Margaret (Elizabeth Peña). Quando Bree conta à psicóloga sobre a ligação inesperada de Toby (Kevin Zegers, de Madrugada dos Mortos), jovem de 17 anos recolhido a um reformatório que alega ser filho de Stanley, a cirurgia é adiada, a fim de que Bree/Stan possa resolver essa unfinished question.

Bree pega um vôo para Nova York, paga a fiança de Toby, apresenta-se como emissária de uma igreja e oferece ao jovem a possibilidade de acompanhá-la até Los Angeles, e lá começar uma vida nova.
Sem melhor opção, Toby aceita e os dois empreendem uma viagem de carro através da América, passando por muitos lugares, tendo contato com muitas pessoas, como o padrasto de Toby; o andarilho hippie a quem oferecem carona; Calvin (Graham Greene), o simpático descendente de índio por quem Bree se interessa; e a família de Bree, em especial Elizabeth (Fionulla Flanagan, de Os outros), que não aceita a opção do filho, mas se apaixona pelo neto Toby. A relação Toby - Bree evolui ao longo da viagem, à medida que as máscaras caem e as verdades se revelam. O trabalho da atriz Felicity Huffman (a Lynette do seriado Desperate housewives) como a protagonista valeu uma indicação ao Oscar e um Globo de Ouro. A produção do filme ficou a cargo de William H. Macy, marido de Felicity.

O crocodilo

Em Il Caimano (2006), o diretor Nanni Moretti volta a misturar ficção com realidade, e a mesclar temas como a preocupação com as relações familiares, a situação política de seu país e a vida profissional de um diretor de cinema. Aprile (1998) relatava a experiência de um diretor de cinema às voltas com as suas produções fracassadas, o nascimento do primeiro filho e as eleições na Itália, que acabaram levando Silvio Berlusconi ao poder. No seu mais recente filme, o realizador italiano (que em 2002 obteve a Palma de Ouro de Melhor Filme, com O quarto do filho) conta a saga do diretor de filmes B Bruno Bonomo (Silvio Orlando) - cujo casamento com Paola (Margherita Buy) está em fase terminal - no esforço de manter-se no meio cinematográfico, fazendo um épico ambicioso sobre Cristóvão Colombo. O plano soçobra, e a alternativa é um roteiro chamado "Il Caimano", que lhe havia sido entregue durante uma sessão de cinema, por uma moça desconhecida com um bebê de colo. Bruno faz uma leitura 'em diagonal' do roteiro e resolve convencer os produtores a financiar o filme - sem perceber que a história contada por Teresa (Jasmine Trinca) é, na verdade, baseada nos fatos políticos italianos e uma crítica ao primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Em O crocodilo, a exemplo do que fez em Abril, Moretti estabelece um jogo onde a ideologia política é um dos elementos, sem, entretanto, perder a autocrítica; até o próprio Bruno, a certa altura, comenta que é 'muito fácil fazer um filme ideológico'. No âmbito familiar, se o filme de 1998 enfatizava a expectativa de um pai de primeira viagem, agora o foco é a separação de um casal com dois filhos pequenos (um de 9 e um de 7). A solitude de Bruno é tanta que ele passa a dormir no estúdio, numa cama improvisada em meio aos rolos de filmes como "O Mocassim Assassino", "Machistas Contra Freud" e "Cataratas". Uma cena síntese do estilo Moretti é a que Paola e Bruno, após assinar o divórcio, emparelham seus carros no trânsito e trocam olhares, ao som de Blower's daughter, de Damien Rice. Sim: os bons cineastas não têm medo de serem rotulados de piegas.