Mas esse detalhe não diminui o prazer de assistir ao filme. Para quem já leu o livro, é uma oportunidade ímpar de ver personagens inesquecíveis como a desbocada Zazie, o misterioso Gabriel, o rabugento Turandot, o taxista Charles, a serelepe Mado, a suave Albertine e o truculento policial Trouscaillon (sem falar no irreverente papagaio Laverdure) ganharem vida na pele de Catherine Demongeot II, Philippe Noiret, Hubert Deschamps, Antoine Roblot, Annie Fratellinie, Carla Marlier e Vittorio Caprioli, respectivamente.
A jornada de Zazie, que vem do interior com a mãe passar uns dias em Paris com o principal objetivo de conhecer o metrô (que, para o azar e a revolta da menina, está de greve), tem elementos e mostra influências de Lewis Carroll e James Joyce. Em outras palavras, Zazie tem um pouquinho de Alice e também de Ulisses, em sua odisseia para conhecer a cidade luz.
A propósito, no livro Paris, biografia de uma cidade (L&PM Editores) , o historiador britânico Colin Jones cita a obra de Raymond Queneau para frisar como os parisienses confundem os monumentos e prédios famosos, mostrando desconhecimento e falta de senso histórico em relação à paisagem urbana. Já Zazie demonstra é desdém pelos próprios personagens históricos, fato cabalmente exemplificado por seu famoso bordão "Napoleon mon cul" (Napoleão o caralho, na tradução de Paulo Werneck).
Falando em tradução, o leitor brasileiro não pode reclamar: tem duas traduções disponíveis (pelo menos em sebos): a de 1985, assinada por Irène Harlek Cubric (editora Rocco) e a de 2009 por Paulo Werneck (editora Cosac Naify).
O diretor Louis Malle, que iniciou a carreira filmando o mundo submarino em companhia de Jacques Costeau e que realizaria um dos maiores triunfos da carreira em 1987 (o clássico Adeus, meninos - Au revoir les enfants), faz de Zazie no metrô, com humor, surrealismo e non sense, um filme não menos interessante que o livro.
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