Segundo todo manual de roteiro que se preze,
um filme deve estabelecer a linha principal e "prender" o espectador em dez minutos. Sob esse prisma, Valente (Brave, 2012) tem um problema de roteiro: essa recomendação não é seguida à risca. Com eficácia, a roteirista e diretora Brenda Chapman (que tem no currículo a codireção de O príncipe do Egito, de 1998, e colaboração em vários filmes da Pixar) apresenta sua heroína, mas o desenrolar dos fatos é espaçado, sem tanta pressa. Lá pelos 15 minutos, começa a sequência que vai provocar a reviravolta na história. A princesinha Merida, filha do rei Fergus e da rainha Elinor, desafia os pais e não aprova nenhum dos três pretendentes das tribos escocesas rivais. A rigorosa rainha Elinor é quem mais se magoa com a postura rebelde da filha, a qual, por sua vez, toma uma medida extrema para tentar transformar a mãe. Se o clássico Como treinar seu dragão aborda, sob o ponto de vista bem masculino, a relação de um filho com o exigente pai, Valente procura esmiuçar as particularidades da relação entre mãe e filha. A exemplo de romances como Filha é filha de Agatha Christie, Valente aborda como o destino de uma filha depende e se entrelaça com o destino da mãe. Já que o ambiente aqui é a ilha dos anglo-saxões, não é de se admirar que a trama inclua alguns leves toques shakesperianos, vide a importância da bruxa e a existência de um urso espectral. Pais responsáveis não querem apenas estourar uma pipoca e reunir a família em torno da tela. A pergunta fundamental que os pais/programadores se fazem na locadora é: além do entretenimento intrínseco, será que existe algo de valor nesse filme para que eu o programe no meu "cinema particular"? Ao final da sessão, posso dar o meu veredito: Valente passa no teste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é bem-vindo!