sábado, setembro 26, 2015

Chappie

Casado com a roteirista canadense Terri Tatchell (coautora do roteiro de Chappie), o sul-africano Neill Blomkamp chega com Chappie ao terceiro longa-metragem da carreira (após ter realizado Distrito 9, em 2009, e Elysium, em 2013). Apadrinhado por Peter Jackson, Blomkamp tem uma forte queda por ficção científica, direcionada em Chappie para uma abordagem da inteligência artificial. Uma breve sinopse do roteiro do casal Tatchell-Blomkamp seria: a indústria robótica Tetravaal, comandada por Michelle Bradley (Sigourney Weaver) (por sinal, comentam à boca pequena que ela e Blomkamp já fecharam negócio para filmar o Alien 5), tem uma rivalidade latente entre os dois engenheiros Deon (Dev Patel) e Vincent (Hugh Jackman). É do primeiro o projeto que está em alta, a produção dos scouts (escoltas, na dublagem brasileira), um exército de robôs policiais que ajuda no policiamento ostensivo de Joanesburgo (cidade natal do diretor, e, na vida real, uma das cidades mais violentas do mundo, com alta taxa anual de homicídios). Isso deixa Vincent enciumado, pois vê o seu projeto, o robô gigante Moose (Touro, na dublagem brasileira), relegado a segundo plano. Numa cena chave do filme, chefes da polícia local assistem a uma demonstração do Moose e dizem que os escoltas dão conta do recado e que só precisariam de algo assim se a situação da segurança piorasse, e muito. Nesse meio-tempo, Deon tenta avançar seus experimentos com IA, mas acaba sendo raptado pelos esquisitos facínoras Ninja e Yolandi (interpretados por Ninja e Yolandi, membros da esquisita banda sul-africana Die Antwoord) que o obrigam a criar um escolta para ajudá-los num assalto. Dessa situação nasce Chappie, um bebê em forma de robô.

O vínculo criado entre Chappie e Yolandi, que adota o robô como se fosse mãe dele, beira a inverossimilhança, mas é um exemplo da ternura bizarra que permeia alguns trechos do filme.
A parte mais legal de Chappie é justamente a "criação" dele, com Deon ensinando-o a pintar e a dar asas à imaginação, Ninja ensinando-o a ser malandro e a usar armas de fogo e Yolandi lendo para ele, antes de dormir, um livro infantil sobre ovelhas negras. Interessante análise de como o meio pode afetar alguém intrinsecamente bom.
Nesse processo de aprendizado, Chappie é submetido a algumas situações extremas, em algumas das cenas mais tristes dos últimos tempos. Mas o cinema (e a literatura, como na obra O pessoal de July, de Nadine Gordiman) da África do Sul é pródigo nesse tipo de angústia exasperante, de um mundo em que a ingenuidade e a pureza são implodidos pela impactante realidade. Tanto isso é verdade que Chappie me lembrou de outro filme angustiante, também sul-africano: Dirkie (Perdido no deserto), de Jamie Uyis, inspirado na história real de um menino de 8 anos e seu cãozinho numa jornada de sobrevivência. Como Dirkie no deserto de Kalahari, Chappie tenta sobreviver no deserto de harmonia que é o caos de Joanesburgo. O blu-ray de Chappie traz um final alternativo no mínimo digno de nota. Como bônus deste post, um pôster para relembrar um filme assistido há um bom tempo no hoje finado Cinema Brasília de Carazinho:

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