segunda-feira, setembro 21, 2015

Mad Max: Fury Road

Dystopia: imaginary place or state in which everything is extremely bad or unpleasant.
O sucesso de Mad Max: a estrada da fúria confirma uma tendência atual: a avidez por ficção distópica, de adolescentes a adultos. A escritora Alex Campbell levantou a seguinte tese num artigo sobre a crescente popularidade da ficção distópica:
"Será possível uma correlação com a ascensão da ficção distópica e as redes sociais? Enquanto ostentamos nossa felicidade unidimensional em sorridentes perfis no Facebook e fotos no Instagram que colocam tudo num prisma agradável, será que sentimos uma necessidade crescente de satisfazer as áreas mais sombrias da condição humana por meio das páginas que lemos?".

Ou, completaria eu, dos filmes a que assistimos?


É uma tese interessante.
Mas é preciso lembrar que, geração após geração, esse tipo de literatura e de cinema sempre teve um público cativo, para dizer o mínimo. E assim como atrai certas pessoas, também espanta quem é mais pé no chão, pessoas que não gostam de fantasia.

Noutro artigo, a jornalista Francisca Goldsmith listou as principais características da ficção distópica: um mundo ou sociedade futurista; habitantes controlados com mão de ferro; a conformidade é boa, a individualidade é indesejável; falta de consciência da maioria das pessoas; um protagonista frustrado pelos controles que age sem considerá-los; a percepção de um problema no mundo real por meio do exagero no universo ficcional. Desnecessário dizer que todas essas características pulsam no universo de Mad Max.
 Goldsmith entrevistou adolescentes leitores e indagou por que eles gostavam desse tipo de ficção. Algumas das respostas foram: "acho interessante e reconfortador ao mesmo tempo"; "gosto da complexidade!" e "me ajuda a pensar que nosso mundo ou sociedade pode mudar, que eu posso ajudar a mudá-lo". Ela conclui que os motivos pelos quais os adolescentes gostam desse tipo de ficção não são sombrios.


Essa introdução é apenas para dizer que, trinta anos depois, Mad Max está de volta. De 1979 a 1985, o médico George Miller, nos intervalos de seus plantões na sala de emergência, realizou os seus primeiros três longa-metragens: Mad Max (1979), Mad Max 2: Road Warrior (1981, Mad Max 2: a caçada continua) e Mad Max: Beyond Thunderdome (Mad Max além da cúpula do trovão). Por que o diretor australiano demorou exatos 30 anos para revisitar o personagem da trilogia cujo ápice foi o segundo filme não chega a ser um pleno mistério. Natural que o criador, um tanto saturado com sua criação, se afastasse um pouco. Mas quando a tecnologia e a certeza de que ele poderia voltar àquele universo para insuflar mais sangue e mais vida se cristalizaram, havia chegado a hora inexorável de ceder à necessidade latente.
Um problema: encontrar o substituto de Mel Gibson. O preferido do diretor seria Heath Ledger. A escolha então recaiu no londrino Tom Hardy, ator com uma carreira consolidada em minisséries como O morro dos ventos uivantes (2009), em que interpretou Heathcliff, e blockbusters como Batman, o cavaleiro das trevas ressurge (2012), em que interpretou o líder terrorista Bane. Bem diferente da aposta Mel Gibson, que no primeiro Mad Max realizava o segundo filme apenas. Mas para a maioria do público, Hardy ainda é um rosto relativamente novo.

Bullit na areia. O filme de Peter Yates é considerado o supremo filme de perseguição no asfalto. Mad Max: Fury Road é o derradeiro filme envolvendo fugas sobre rodas na areia. Motores e veículos dos mais estapafúrdios (que remetem ao desenho animado Corrida maluca) em cenas trepidantes de incrível habilidade dos dublês e da equipe (que em alguns momentos lembram as performances dos melhores artistas circenses).
O 3-D acaba sendo a tecnologia ideal para maximizar (sem trocadilho) os efeitos artísticos e catárticos do novo pesadelo (sonho para os fãs) de George Miller.

A parceria de Hardy com Charlize Theron, que interpreta Furiosa (talvez a personagem feminina mais enigmática, ambígua e forte do cinema contemporâneo, algo similar ao que Sigourney Weaver fez com a Ripley), é um dos trunfos do filme. Os dois encontram um equilíbrio delicado entre o protagonizar e o coadjuvar (verbinho feio mas existe) e alçam o novo Mad Max a um patamar além da cúpula dos melhores filmes de ação.

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