quarta-feira, agosto 22, 2018

Grease, nos tempos da brilhantina



Resultado de imagem para greaseVárias sequências do filme Grease, nos tempos da brilhantina ficaram imortalizadas, principalmente o dueto de John Travolta (ele, em meio aos amigos em plena arquibancada do Colégio de Ensino Médio Rydell) e Olivia Newton-John (ela, em meio às amigas no refeitório a céu aberto), com a canção Summer Nights, cujo refrão "Tell Me More, Tell Me More" sofreu uma paródia para ser utilizada pela Seven Boys numa famosa propaganda.

Mas uma revisita ao clássico possibilita constatar os motivos pelos quais Grease se imortalizou na cultura pop e é considerado o mais bem-sucedido musical de todos os tempos. Os produtores tinham um faro muito aguçado para o que cairia no gosto do público, apostaram na adaptação do espetáculo da Broadway para o cinema, escolheram o elenco ideal, o diretor que já conhecia Travolta, e que manteve o clima leve durante as gravações, além dos Bee Gees para música de abertura "Grease is the word".

Tudo isso é perceptível ao longo do filme.



Uma sequência de que as feministas podem se orgulhar é a em que Frenchy diz para Sandy (Olivia N-J), para consolá-la sobre o modo como ela foi tratada por Danny Zuko (John Travolta): 

"Homens são ratos. Presta atenção. Eles são as pulgas dos ratos. Pior ainda: são as amebas nas pulgas dos ratos".

No roteiro original: 

"Men are rats. Listen to me, they’re fleas on rats. Worse than that, they’re amoebas on fleas on rats. I mean, they’re too low for even the dogs to bite. The only man a girl can depend on is her daddy."


    - Frenchy, "Grease"


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    Na sequência ela convida a inocente Sandy para participar de uma "festa do pijama" na casa dela, em que várias moças iam passar a noite.

    Esse trecho do filme é o mais relevante em termos de investigar o "universo feminino", e contrapõe a rebelde e ousada Betty Rizzo (Stockard Channing) com a "certinha" Sandy, a australiana que é novata no colégio.

    Ela havia "ficado" com Danny nas férias de verão, mas o jovem mancebo, embora muito interessado nela, preferiu manter a pose de machão do que revelar seus sentimentos, magoando Sandy.

    Outras tramas paralelas são abordadas, como a rivalidade entre o grupo de meninos da Rydell e a gangue dos Scorpions, as fofocas na escola de que Betty está grávida, o esforço de Danny para tornar-se um atleta, tudo isso temperado com corridas de carros, e, é claro, vários bailes e festas, para Travolta e Olivia mostrarem seus grandes talentos como dançarinos.

    Para relembrar a qualidade musical do filme, este pout-porri, digo, pot-pourri, traz as 10 melhores canções de Grease:




    Em duas palavras: diversão garantida!


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    segunda-feira, agosto 20, 2018

    Bergman - 100 anos




    Owen Gleiberman, o crítico da Variety, declarou nesta resenha que este filme é "um dos mais honestos e transbordantes retratos sobre um artista do cinema" já assistidos por ele. Com o título em inglês de Bergman - a Year in a Life, o documentário da recém-cinquentona Jane Magnusson foca o prolífico ano de 1957, em que o cineasta sueco lançou Morangos silvestres e O sétimo selo, além de dirigir duas grandes peças teatrais e realizar um telefilme no entremeio, e aproveita para coletar um mosaico de depoimentos e fatos sobre a vida profissional e pessoal do célebre "helmer".

    A documentarista Jane Magnusson conta nesta entrevista a um site de Portugal que ela não é uma fã incondicional de Bergman e de que foi descobrindo, aos poucos, curiosidades sobre tudo o que Bergman produziu naquele fértil ano. A partir disso, sua decisão de realçar as façanhas de Bergman no ano de 1957 foi reforçada, e, com uma linha narrativa baseada nisso, ampliou o escopo ao retratar aspectos mais gerais e idiossincráticos de Ingmar Bergman, como, por exemplo, sua paixão por bolachas Maria, que ele usava para aplacar as dores de suas úlceras gástricas.


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    Diretora Jane Magnusson, foto do site Nordic Women in Film

    Para quem se interessar em saber mais detalhes sobre a realizadora, este perfil conta que Jane formou-se bacharel em Cultura moderna e mídia cinematográfica em 1992. Em 2010 consagrou-se na indústria fílmica sueca ao assinar o premiado documentário Ebbe - the Movie.

    Por sua vez, no site brasileiro Mulher no Cinema, Luísa Pécora escreveu apropriadamente que Magnusson "rejeita a tentação de só ficar no elogio ao gênio".


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    E o que eu, Henrique Guerra, do blog brasileiro, gaúcho e carazinhense olhar cinéfilo, no ar há 15 anos, penso sobre o filme de Magnusson?

    Assisti ao filme numa sessão do Clube de Cinema de Porto Alegre, emborasmente tenha sido a primeira vez neste ano que compareci a uma sessão do clube. Essa infrequência decorre de um problema geográfico momentâneo: estou morando no interiorrrr.

    Apesar de estar meio "sumido", fui muito bem recebido pelos membros do clube, ouvi a interessante introdução de nosso colega Paulo Casanova e acompanhei a sessão na icônica Sala 8 do Espaço Itaú, a mesma em que já assisti a De tanto bater, meu coração parou, por sinal, o primeiro post do blog olhar cinéfilo no endereço do blogger (antes era weblogger).

    Fiquei feliz ao observar que existe muita gente nova comparecendo às sessões do clube e senti-me ainda um pertencedor a esse intimista ambiente cineclubista.

    Mas pare de fazer digressões, meu caro. 

    E o filme, Henrique Guerra, o que você achou do filme?

    Já chego lá, impaciente leitor.

    Não sem antes afirmar que, aprioristicamente, um cinéfilo não precisa "achar" nada sobre um filme. Ao cinéfilo cabe assistir e cultivar sua paixão. Cada fotograma ou cena a que temos a honra de assistir em uma sala escura é motivo de regozijo. Se estamos em companhia de outros cinéfilos que comungam do mesmo sentimento, tanto melhor.

    Sei que existem cinéfilos e cinéfilos, e muitos deles são muito exigentes.

    Não é o meu caso.

    Em todo caso, mesmo se eu fosse muitíssimo exigente eu teria apreciado o filme de Magnusson.

    Até que enfim, Henrique Guerra, a sua tão esperada "opinião pessoal"!

    Sim, o filme passa rápido. Entre detratores e admiradores, vão aparecendo na tela parentes, ex-companheiras, ex-pupilos, atores que participaram de seus filmes e peças teatrais, que vão desmistificando e humanizando Ingmar Bergmann. Não é preciso ser um especialista em Bergman para apreciar o filme de Jane Magnusson. Ao contrário: é uma boa iniciação ao cinema dele. 

    Não entendo sueco, mas aprecio a musicalidade do idioma.

    É uma pena que esta entrevista não traga legendas em inglês:


    Megatubarão

    Resultado de imagem para meg movieVolta e meia chega às telonas um filme que parece caça-níqueis, mas que na verdade tem uma história bem interessante por trás. É o caso de Megatubarão, cuja produção,
    depois de ser engavetada e ficar no "limbo" por um bom tempo, enfim foi realizada, sob a direção do versátil cineasta Jon Turteltaub.

    Versátil aqui parece um elogio, mas na verdade é um eufemismo para "aparentemente sem personalidade", ou seja, um cara cuja filmografia não parece ter um foco ou um "quê" de autoria. Mas tem força na indústria? Ah, isso ninguém pode negar, E desta vez teve o bom faro de escolher uma boa história para contar, e a perseverança para transformá-la em filme.

    O material original é a série de livros de Steve Alten, que foi iniciada por The Meg. O livro de 1997 investiga a estranha suspeita de que um animal pré-histórico ainda vive em nossos dias. E eis que o animal em questão é o megalodonte, um tubarão-branco de tamanho avantajado, que predou os oceanos primevos.
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    Formado em Educação Física, Mestre em Medicina Esportiva e Doutor em Educação, Steve Alten trabalhava como gerente-geral de uma empresa da indústria das carnes quando foi despedido, numa sexta-feira 13, em 1996. Vendeu o carro para publicar um livro que escrevera aos fins de semana e a altas horas da noite, após anos de trabalho: THE MEG, a novel of  deep terror.
    Quatro dias depois de ser demitido, seu agente literário trouxe a ele uma proposta de uma Editora. A casa editorial Bantam Doubleday oferecia sete dígitos por dois livros. Essa é a história de sucesso de mais este "self-made man" do circuito literário norte-americano. O livro atraiu fãs no mundo todo e possibilitou ao autor desenvolver sua carreira.

    Na versão do cinema, o roteiro ficou a cargo do trio Dean Georgaris, Jon Hoeber e Erich Hoeber.

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    Os destaques do elenco são Jason Statham, mergulhador especializado em resgates, que encarna o herói Jonas Taylor, e Li Bingbing, a oceanógrafa Suyin Zhang, cujo pai, Dr. Minway, é o braço direito do bilionário Jack Morris, financiador de uma ousada missão que investiga a existência de uma seção mais profunda da Fossa das Marianas. Também marca presença a megatatuada modelo australiana Ruby Rose.

    A ideia de ter um núcleo "chinês" no filme foi uma boa jogada de marketing, levando em conta o grande mercado que representa a China.


    Do ponto de vista de ação e aventura, Megatubarão é um filme que tem ritmo e cumpre suas funções. No quesito "criatura x homem", apenas a sequência final, em que o megalodonte se aproxima de uma praia lotada, reserva algumas sensações do tipo de pavor que se esperaria de um filme assim.


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    Em outras palavras, o filme é mais bem-sucedido em sua parte de resgates submarinos. Quando o assunto é evocar medo de uma fera, bem, o bicho é tão grande que vai engolir um humano antes de a pessoa perceber o que está acontecendo. Além disso, o bicho é puro efeito digital, não há um tubarão mecânico como houve em Tubarão (1975). Para fazer o contraponto, deixo aqui o link da entrevista do supervisor dos efeitos especiais de Megatubarão, tentando (literalmente) vender o seu peixe.

    Seja como for, o "terror" evocado pelo filme de Turteltaub não se
    compara ao terror que até hoje sentimos ao ver Tubarão de Spielberg, ou até mesmo ao assistir a algum documentário da Nat Geo Wild nas "quintas-feras", do tipo "Quando os tubarões atacam".

    Ainda assim, Megatubarão tem o mérito de trazer a ideia de Steve Alten às telonas e de chamar a atenção para a importância do equilíbrio nos mais diversos ecossistemas de nosso planeta.

    domingo, agosto 19, 2018

    Dirkie - Perdido no deserto

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    Imagine um filme angustiante.

    Agora, eleve a sensação de angústia à décima potência.

    Assim, terá uma ideia da experiência de assistir a Dirkie: Lost in the Desert.

    Estou numa fase de minha vida de resgate.

    E um dos resgates é este: filmes que marcaram a minha infância.

    O tempo em que eu ia, sozinho, ao Cine Brasília, o cinema de rua de minha cidade natal, Carazinho, para assistir ao filme em cartaz nas matinés dos sábados. 

    Não importava o título, importava o hábito.



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    Religiosamente aquele menino franzino comprava o seu ingresso e procurava um lugar estratégico, com uma criança baixa na frente, ou um lugar vazio.

    Muitas vezes eu tinha que trocar de lugar, pois algum retardatário corpulento chegava e se abancava bem na minha frente.

    Mas esse problema era de fácil solução.



    Bem diferente da situação vivida pelo menino Dirkie DeVries (Wynand Uys, filho do diretor Jamie Uys), de 8 anos.

    O garoto sul-africano sofre de asma, e o pai dele, o pianista Anton DeVries (Jamie Uys, acumulando funções) (sim, o sobrenome certo é Uys, apesar de na época o filme ter sido lançado com o crédito de "Hays"), resolve enviá-lo para uma temporada em outra cidade. A mudança de ares fará bem à saúde do garoto, que põe na mala o remédio para asma, um despertador que toca sempre que ele precisa tomá-lo. O menino vai levar junto em sua jornada o cãozinho da raça Cairn terrier.

    Para a empreitada, o pai de Dirkie contrata os serviços de Tio Pete (Pieter Hauptfleisch), piloto de monomotor que gosta de caçar e chama Anton de "sissy" (maricas), por não apreciar o extermínio dos animais da fauna local.

    O roteiro é veloz e furioso, e demora muito pouco para que o avião precise fazer um pouso forçado em pleno Deserto do Kalahari. Analise o trailer a seguir para ter uma noção:



    "Mayday, crash landing" é a última frase do Tio Pete, que sofreu um ataque cardíaco, motivo da queda.

    A partir daí, o garoto Dirkie e seu inseparável cãozinho serão submetidos a aflições, privações e provações contínuas em sua implacável luta pela sobrevivência.

    O sol inclemente, a falta de água e alimento, a convivência com hienas, elefantes, cobras, escorpiões são apenas alguns dos perigos enfrentados pelos dois indefesos amigos. 

    Buscas são empreendidas com a ajuda de helicópteros, mas o tempo vai passando, e as pessoas ao redor de Anton aconselham o pai do garoto a dá-lo como morto e esquecê-lo.

    De todas as imagens que ficaram no meu cérebro, sem dúvida a mais angustiante é a do menino caminhando sem rumo no meio do deserto, cenas que se repetem ao longo do filme, nas mais variadas circunstâncias, e após um sem-número de aventuras.

    Apesar da forte improbabilidade de que alguém queira assistir a este filme, não vou cometer spoilers e contar mais do que já contei.

    Consegui esta preciosidade num site britânico de filmes raros.

    O filme é de 1969/1970, mas deve ter passado no circuito comercial brasileiro uns dez anos depois disso, quando eu tive a oportunidade de assisti-lo aquela única vez, e a força e a simplicidade daquelas imagens ficaram gravadas no meu cérebro e ajudaram a forjar a minha "resiliência" cinéfila, a capacidade de suportar até as cenas mais angustiantes e apreciar o que o filme oferece de melhor. 


    Segundo Jacob Knight, este filme deveria ser intitulado Trauma Infantil: o Filme.

    Já o blog Planet Nerd, ao resenhar este filme que passou num ciclo intitulado "Fucked Up Kid's Movies" classifica Dirkie como o mais sádico "filme infantil" já imaginado.

    Curiosidades sobre os bastidores de Dirkie podem ser encontradas neste post do site do Ensovoort, periódico de estudos culturais da África do Sul. A referida página traz, além dessas curiosidades, uma minuciosa análise da filmografia de Jamie Uys escrita pelo especialista Jan-Ad Stemmet.

    Em tempo: o cineasta Jamie Uys tem no currículo outro grande sucesso mundial: Os deuses devem estar loucos, comédia premiada no circuito de festivais internacionais.

    Ex-professor de matemática, iniciou-se no cinema realizando documentários, entre os quais o aclamado Beautiful People, sobre a fauna e a flora africanas.

    Uma palhinha do filme na versão brasileira:





    quinta-feira, agosto 16, 2018

    DEL TORO COMEMORA A DECISÃO DO JUIZ

    O cineasta Guillermo Del Toro está de alma lavada.

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    De acordo com a análise do Sistema Judiciário dos Estados Unidos, mais especificamente da Califórnia, não houve violação de direitos autorais na criação do filme

    A forma da água.
    David Zindel ficou a ver navios.

    O juiz considerou muito vagas as semelhanças apontadas com Let Me Hear You Whisper, peça teatral escrita pelo pai dele, Paul Zindel.




    A íntegra da decisão do juiz pode ser lida aqui.

    Estoura a champanhe, Del Toro.

    Agora você pode beijar o seu Oscar e admirá-lo na estante com mais alívio.