O longa-metragem Eu não sou um homem fácil aprofunda as ideias lançadas no curta-metragem e tenta dar umas pitadas de humor na premissa.
É um filme que está sendo promovido na base do "boca a boca", ou seja, está sendo muito comentado por radialistas e usuários de plataformas digitais.
Disso resulta a necessidade de "conferir" para ver se é muito barulho por nada ou se existe algo diferente ali.
A brincadeira de Eu não sou um homem fácil é fazer uma bem-humorada crítica ao machismo, coisa que o curta-metragem havia conseguido com bastante contundência. Apenas o tom do curta é mais sério, e o humor fica em segundo plano.
A diretora-roteirista Eléonore Pourriat (que interpreta a psicanalista no filme) teve de enfrentar o desafio de inserir humor e drama nesse universo de troca de papéis.
Após bater a cabeça num poste e perder a consciência, um solteiro que dá em cima de muitas mulheres desperta num mundo em que os homens são oprimidos sexualmente pelas mulheres.
Essa é outra diferença em relação ao curta, que provoca perplexidade justamente por não explicar a "causa" da inversão de papéis na sociedade.
Nesse mundo alternativo, são as mulheres que correm sem camisa, os homens que são obrigados a transar em posição passiva sem alcançar o orgasmo e engolir tudo que é tipo de sapo para "agradar" as mulheres.
A premissa é a genialidade da coisa, mas será que uma boa premissa resulta em um bom filme de 98 minutos? That's the question.
Sei que é complicado e arriscado criticar este filme. Por isso, antes de eu fazer o meu comentário, vou citar o de Fernanda Brito do Beco Literário: Eu não sou um homem fácil traz o choque para iniciar essa reflexão e nos proporciona momentos de riso com a tão clichê dificuldade masculina de se adaptar ao mundo feminino, porém, não pode ser levado como uma cartilha, pois, em um mundo igualitário, nenhum dos lados deve ser oprimido.
E agora, uma das razões pelas quais ele não funcionou completamente para mim, é a de que
SPOILER SPOILER
SPOILER SPOILER
SPOILER SPOILER
SPOILER QUE AS FEMINISTAS
PODERÃO TACHAR
DE
MACHISTA,
MASCULISTA E
ANTIFEMINISTA
o romance dos dois protagonistas não passou naturalidade.
Em outras palavras, eu não consegui desenvolver uma empatia com os personagens (nem com o homem dominado, nem a com a mulher dominadora), não me identifiquei com nenhuma dessas pessoas estereotipadas ao contrário, não fiquei torcendo para elas "ficarem juntas". Em suma, o amor do casal não me convenceu.
E, no fim das contas, Eu não sou um homem fácil é uma história de amor, apenas com os papéis invertidos.
Claro que a crítica social eleva a categoria do filme e permeia todas as situações.
Um detalhe que considerei espirituoso foi a tomada da estante, em que até os clássicos da literatura mudaram de nome: Ratos e mulheres, Monsieur Bovary.
Por outro lado, acredito que a experiência de assistir ao longa-metragem de Eléonore Pourriat foi válida para mim, como cinéfilo inveterado e ortodoxo.
Foi um exercício de humildade, de dar o braço a torcer aos sinais dos novos tempos.
Um modo de reconhecer a qualidade e a importância dos filmes realizados por iniciativa criativa das plataformas digitais, para o consumo fora das salas escuras do cinema.
Por mais que eu tenha soltado um profundo suspiro ao escrever a frase anterior, é preciso acompanhar as mudanças e tentar aproveitar o que há de artístico nesse processo.
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