sexta-feira, julho 12, 2019

Mistério no Mediterrâneo

Reprodução

O roteirista James Vanderbilt, além de ter um sobrenome e tanto, de inexperiente não tem nada. Só para ilustrar essa afirmação, já assinou o roteiro de filmes como Zodíaco e dois da franquia Homem-Aranha.

É um sujeito com recursos, portanto. A entrevista que ele deu para a Awards Daily é uma prova disso.

Por que cargas d'água se permitiu fazer este Murder Mystery, que no Brasil teve o título melhorado, diga-se de passagem, é um mistério que talvez só um detetive como Hercule Poirot ou Miss Marple  pudesse solucionar.

Não estou falando que o filme é uma droga, longe disso.

É até engraçadinho, do tipo que o espectador assiste com condescendência, tentando perdoar os excessos. O elenco acaba contrabalançando o pouco interesse que a trama suscita.

No frigir dos ovos, Mistério no Mediterrâneo é a prova cabal de uma das máximas do cinema, e do teatro também.

Um filme nunca conseguirá ser melhor do que o roteiro. O mesmo acontece com uma peça teatral.

É o roteiro que posiciona a régua de qualidade, que a fotografia, a direção, a atuação do elenco, a música, podem tentar alcançar e manter.

Mas se o roteiro se entrega a soluções fáceis, a surpresas que não surpreendem, a um humor do tipo um tanto forçado, e a um suspense capenga, bem, aí tudo já começou mal, se é que você me entende.

O diretor Kyle Newachek até tentou entrar na brincadeira, assim como o elenco, e, principalmente, o público norte-americano.

Quase 31 milhões de assinantes assistiram ao filme nas primeiras 72 horas, de acordo com os dados relatados pela plataforma de streaming em 18 de junho de 2019. 

É um recorde para lançamentos Netflix.

Adam Sandler, Jennifer Aniston, Luke Evans, Gemma Arterton e Terence Stamp lideram o elenco e contribuíram para atrair a atenção de um público ávido por... Hum... O público do Netflix é ávido por que será mesmo?

Charlize Theron fez bem em desembarcar desse iate a tempo e ganhou um crédito de produtora executiva.

Não chego aos pés de Poirot e Marple, mas tenho uma ideia para solucionar o mistério sobre o motivo pelo qual James Vanderbilt se permitiu escrever o roteiro de Mistério no Mediterrâneo.

O roteiro diz que um assassinato é cometido por um de três motivos: dinheiro, amor ou vingança.



James Vanderbilt cometeu o seu roteiro premeditadamente.

Com certeza, amor é um motivo aqui. Ele deve escrever por amor a seu metiê. 

Vingança também. Ao escrever (e conseguir vender) o roteiro de Mistério no Mediterrâneo, Vanderbilt se vingou de todas as pessoas que não acreditaram nele in the first time, que disseram que isso é perfumaria, e desdenharam de sua capacidade.

No mundo em que vivemos, a qualidade artística até pode ser valorizada, mas o sucesso comercial é tudo. 

Vanderbilt escreveu o roteiro sob medida para obter um produto pasteurizadinho e de fácil deglutição, uma comédia falsamente "despretensiosa", afinal de contas, ela alcançou a pretensão principal.

Para a indústria, que diferença faz se o roteiro é ruim, mas o filme atinge o objetivo financeiro?

Dinheiro, amor, vingança, tudo isso explica porque James Vanderbilt escreveu o seu roteiro. 

Mas não explica porque Mistério no Mediterrâneo soa como uma homenagem (um tanto duvidosa) a um outro filme que os cinéfilos amam. 

A resposta, meu amigo, o vento está soprando.

Ou melhor, a supracitada entrevista de James Vanderbilt está soprando: 

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"Um de meus filmes favoritos era Assassinato por morte. Um filme de Neil Simon que meu irmão e eu não nos cansávamos de assistir."


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