Cada povo tem seu humor característico. O humor britânico é fleugmático e sutil. O humor francês é irônico e satírico. O humor brasileiro é escrachado. O humor belga é...
Bem, aí que reside o problema. O humor belga parece não ser algo definido. A Bélgica é um país esquisito com influências flamengas e francófanas. O célebre H. Van Loon, na obra O mundo em que vivemos, descreveu a Bélgica assim: "Um país criado por farrapos de papel, rico em todas as coisas, exceto em harmonia interna".
Deve ser por isso que algo na Bélgica me atrai. Curto os cult movies do diretor Harry Kümel. Adoro o surrealismo divertido dos quadros de René Magritte. Nunca me esqueci d'O homem que via o trem passar de Georges Simenon. Sou fã do Hergé. As histórias de Tintim nos fazem viajar pelo mundo, conhecer culturas diferentes, embarcar em grandes aventuras... Mas o bom humor é uma característica importante dos álbuns de Hergé. O humor de Hergé está no nonsense de Milu falando com Tintim. Está nos rompantes e no vocabulário sui generis do Capitão Haddock. Nas idiossincrasias do Professor Girassol. Nas trapalhadas dos gêmeos Dupont e Dupond. Enfim, quem lê Tintim conhece bem o humor belga. Só que é meio indefinível, como o próprio país e o próprio povo.
Ben Stassen é um diretor belga de animação especializado em filmes 3-D. Corgi: Top Dog (The Queen's Corgi, 2019) é o seu novo filme. Ele coassina a direção com Vincent Kesteloot.
O roteiro? É uma parceria da dupla Rob Sprackling e John Smith, da série Gnomeu e Julieta.
Os roteiristas do filme, portanto, são ingleses.
Eles contam nesta reportagem o caminho tortuoso que o roteiro fez até cair nas mãos do belga Ben Stassen. Então na verdade o que temos em Top Dog: Corgi é uma mescla do sutil humor britânico com pitadas do humor belga.
Cinéfilos vão se deliciar com as referências ao filme Clube da luta. Feministas, porém, vão torcer o nariz para os estereótipos femininos, como a volubilidade personificada na cadelinha Wanda.
Num dócil e inocente filme de animação sobre cachorrinhos ninguém esperaria tantas críticas à realeza e ao atual presidente dos EUA. Uma coisa é certa: não espere uma obsessão com o "politicamente correto". Pelo contrário. Algumas piadas beiram o gosto um tanto duvidoso.
Enfim, essa mistura esquisita de humor tem o bizarro potencial de desagradar a gregos e troianos adultos. Já a criançada adorou e bateu palmas no fim da sessão.
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