Bizarra mistura de O anjo exterminador de Luis Buñuel com Uma noite alucinante de Sam Raimi.
De Buñuel, temos aquela velha e saudosa sensação claustrofóbica de ser incapaz de evadir de um determinado espaço.
De Raimi, temos aquele velho e bom recurso do alçapão que dá para um porão escuro e horrendo.
A diferença em relação aos dois filmes é que O bar (2017) não é um filme fantástico nem surrealista.
Pega esses elementos e os transforma numa história perfeitamente plausível, ainda mais nos tempos pandêmicos atuais.
Talvez outra referência pudesse ser citada aqui: Doze homens e uma sentença.
De Lumet, O bar não tem os doze homens. Afinal de contas, são oito homens e três mulheres que ficam presos no bar.
Mas os dois filmes têm em comum uma característica muito própria: a de que a história se desenrola num só ambiente, com personagens interagindo entre si e demonstrando suas fraquezas e pontos fortes.
Sim, o roteiro de O bar poderia perfeitamente ser adaptado e virar uma peça teatral de suspense, crítica social e drama existencial.
Apesar de ser relativamente "pés no chão" (ou seja, tudo acaba tendo uma explicação científica), Álex da la Iglesia (de Crime Ferpeito e O dia da besta) caprichou no gore e no body horror, e nisso também se afasta de dois dos filmes citados, à exceção, é claro, do filme de Sam Raimi, que também é bastante violento e sanguinolento.
Em O bar paulatinamente as pessoas vão descendo às profundezas do subsolo e, ao mesmo tempo, degradando seu grau de humanidade.
Do térreo ao porão, do porão ao esgoto: no descenso as pessoas vão se revelando como realmente são, hediondas e asquerosas como chafurdar nas galerias do esgoto.
Mais uma referência! Os miseráveis.
Diga-se de passagem, aliás, a melhor versão da clássica história de Victor Hugo é a de Richard Boleslawski com Fredric March e Charles Laughton, realizada em 1935.
Um filme que nos faz lembrar de tantos outros filmes bons não poderia ser ruim, é claro.
Mas, e tudo tem sempre um "Mas"...
SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER NÃO ABRA ESTE TENEBROSO ALÇAPÃO
SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER
SÓ ABRA ESTE TÉTRICO ALÇAPÃO
DEPOIS DE ASSISTIR A "O BAR"
FUNESTO FILME
DE HUMOR MACABRO
NA NEFANDA NETFLIX
A única crítica que o diretor e o seu corroteirista poderiam receber é de terem sido politicamente "incorretos"...
Um personagem que até a metade do filme é uma espécie de anti-herói, crítico da sociedade, acaba "sacrificado" pelo roteiro, apenas para ganhar mais alguns minutos de terror.
Esse é um "clichêzinho" que poderia ter sido evitado, mas foi tão irresistível que acabou sendo inevitável, pelo jeito.
Cair em tentação, eis algo que todos bons roteiristas e bons diretores acabam fazendo.
E por cair nessas tentações, seus filmes deixam de ser excelentes para se tornarem apenas bons.
Para encerrar o post em tempos de notícias tristes, uma triste informação: O bar foi o último trabalho da atriz Terele Pávez.
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