sexta-feira, fevereiro 19, 2021

Caos no show dos Strokes: o dia em que Nick Valensi arrebentou duas guitarras

 




quarta-feira, 26 de outubro de 2005


TIM FESTIVAL, PORTO ALEGRE, 25 DE OUTUBRO DE 2005

Acústicos & Valvulados; The Arcade Fire

Às 21 h em ponto subiu ao palco a banda gaúcha Acústicos & Valvulados, para fazer o show de abertura. Em breves e competentes 40 minutos, a banda revisitou velhos hits e mostrou um pouco do novo cd. Terreno preparado, a troupe canadense do The Arcade Fire invadiu o palco a todo vapor com seus sete frenéticos integrantes, cinco caras e duas gurias. O público respondeu bem à mistura de violino, acordeão, percussões diversas, guitarras, baixo, teclado e bateria. Entre as influências oitentistas, The Cure e Pogues. Outras características da banda são os coros pegajosos e a troca constante dos instrumentos entre os componentes, o que, se empresta ao show um certo tom de curiosidade, não contribui muito 'em termos de' unidade e entrosamento. Um dos componentes, inclusive, pareceu um tanto supérfluo, perdido entre tocar pandeiro, xilofone ou surdo. Em certos momentos, pareceu mais atrapalhar que ajudar, como na hora em que ficou balançando uma bandeira lado do guitarrista ou quando, na última música, ensandecido, escalou com seu tambor a estrutura de ferro que sustenta o telhado do pavilhão, correndo o risco de despencar de uma altura de 4 metros em cima do público. Comentei com uma representante do sexo feminino que a banda seria melhor sem ele e a resposta que obtive foi que ele era o 'mais bonitinho'.

The Strokes
Perto da meia-noite, Under Control abre os trabalhos da banda nova-iorquina. O contraste com o som do Arcade Fire é marcante: da sofisticação para o simples, da profusão para o minimalismo: a formação clássica de duas guitarras (Nick Valensi, o destruidor de guitarras, e Albert Hammond Jr., o carregador de pianos), baixo (o come-quieto Nikolai Fraiture, que ficou flertando com as moças bonitas da primeira fila), bateria (Fab Moretti, o carismático) e vocal (Julian 'hello beautiful people of Porto Alegre' Casablancas e seu indefectível casaco azul-marinho). O líder dos Strokes fecha os olhos e toca o peito ao cantar o verso 'I don't wanna give it to you, your way...'
Começar com uma calminha foi uma decisão acertada: Under Control teve a batida exata para cadenciar a excitação da galera, que promovia perigosas ondas de empurra-empurras à frente do palco. A letra de Under Control resume, também, um dos temas recorrentes da poesia de Casablancas e da filosofia dos Strokes: não desperdiçar o tempo.
'You're young, baby - for now but not for long'.
Not for long o público espera rock na veia: The end has no end, entoada com fervor pela massa delirante.
As duas primeiras pertencem ao álbum Room on Fire, de 2003. The Modern Age, do álbum Is this it, de 2001, e seus memoráveis versos 'Oh in the sun sun having fun, it's in my blood / I just can't help it, don't want you here right now', é a terceira do setlist. Na sequência vem uma palhinha do terceiro álbum, First Impressions of Earth, a ser lançado em janeiro. Diga-se de passagem: os fãs brasileiros foram os primeiros a ouvir as novas canções ao vivo. Os setlists dos shows brasileiros incluíram o single Juicebox, mais tocada da semana na rádio BBC, e mais quatro: Hawaii Aloha, Heart In A Cage, Razor Blade e You Only Live Once.
Garantidos por uma 'cozinha' mais que consistente - a bateria fabulosa de Fab Moretti e o baixo nem-um-pouco-fraturado de Nikolai Fraiture - Albert Hammond Jr. e Nick Valensi revezavam-se na guitarra rítmica e na guitarra solo, construindo uma massa sonora poderosa, invólucro ideal para o vocal 'cool' e os versos céticos de Casablancas. O show corria bem até que lá pelas tantas arrebentou uma corda da guitarra de Nick Valensi. O cabeludo jogou-a para trás e pegou a guitarra reserva. Casablancas anuncia Barely Legal e o que vamos presenciar é um daqueles momentos mágicos que só são possíveis ao vivo. Tudo aconteceu errado e certo em Barely Legal. Primeiro, Casablancas perdeu o fio da meada e deixou de cantar uns versos. Logo depois, arrebentaram-se as cordas da guitarra reserva de Valensi, que, incontinenti, a exemplo do que fizera com a primeira, jogou-a longe. Albert Hammond Jr. teve, por uns momentos, que levar sozinho o ritmo, até que Valensi, como último recurso, tomou a guitarra branca reserva de Albert, pediu um cabo, conectou e recomeçou a tocar antes da música chegar no refrão. "And all together it went well..." A banda então retomou a concentração perdida e deu seguimento ao grande show, arrematando com Take or Leave it. Ao sair do palco a primeira vez, Valensi brindou o público com os pedaços de uma das guitarras quebradas. O público não arredou pé e veio o bis com Whatever Happened, Someday e Reptilia.


Henrique - ique | 18:19:07 comentários[2].
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