Caos no show dos Strokes: o dia em que Nick Valensi arrebentou duas guitarras
quarta-feira, 26 de
outubro de 2005
TIM FESTIVAL, PORTO ALEGRE, 25 DE OUTUBRO DE 2005
Acústicos & Valvulados; The Arcade Fire
Às 21 h em ponto subiu ao palco a banda gaúcha Acústicos & Valvulados,
para fazer o show de abertura. Em breves e competentes 40 minutos, a banda
revisitou velhos hits e mostrou um pouco do novo cd. Terreno preparado, a
troupe canadense do The Arcade Fire invadiu o palco a todo vapor com seus
sete frenéticos integrantes, cinco caras e duas gurias. O público respondeu
bem à mistura de violino, acordeão, percussões diversas, guitarras, baixo,
teclado e bateria. Entre as influências oitentistas, The Cure e Pogues.
Outras características da banda são os coros pegajosos e a troca constante
dos instrumentos entre os componentes, o que, se empresta ao show um certo
tom de curiosidade, não contribui muito 'em termos de' unidade e
entrosamento. Um dos componentes, inclusive, pareceu um tanto supérfluo,
perdido entre tocar pandeiro, xilofone ou surdo. Em certos momentos, pareceu
mais atrapalhar que ajudar, como na hora em que ficou balançando uma bandeira
lado do guitarrista ou quando, na última música, ensandecido, escalou com seu
tambor a estrutura de ferro que sustenta o telhado do pavilhão, correndo o
risco de despencar de uma altura de 4 metros em cima do público. Comentei com
uma representante do sexo feminino que a banda seria melhor sem ele e a
resposta que obtive foi que ele era o 'mais bonitinho'.
The Strokes
Perto da meia-noite, Under Control abre os trabalhos da
banda nova-iorquina. O contraste com o som do Arcade Fire é marcante: da
sofisticação para o simples, da profusão para o minimalismo: a formação clássica
de duas guitarras (Nick Valensi, o destruidor de guitarras, e Albert Hammond
Jr., o carregador de pianos), baixo (o come-quieto Nikolai Fraiture, que
ficou flertando com as moças bonitas da primeira fila), bateria (Fab Moretti,
o carismático) e vocal (Julian 'hello beautiful people of Porto Alegre'
Casablancas e seu indefectível casaco azul-marinho). O líder dos Strokes
fecha os olhos e toca o peito ao cantar o verso 'I don't wanna give it to
you, your way...'
Começar com uma calminha foi uma decisão acertada: Under Control teve a
batida exata para cadenciar a excitação da galera, que promovia perigosas
ondas de empurra-empurras à frente do palco. A letra de Under Control resume,
também, um dos temas recorrentes da poesia de Casablancas e da filosofia dos
Strokes: não desperdiçar o tempo. 'You're
young, baby - for now but not for long'.
Not for long o público espera rock na veia: The end has no end,
entoada com fervor pela massa delirante. As duas primeiras pertencem ao álbum
Room on Fire, de 2003. The Modern
Age, do álbum Is this it, de 2001, e seus memoráveis versos 'Oh in the sun
sun having fun, it's in my blood / I just can't help it, don't want you here
right now', é a terceira do setlist. Na sequência vem uma palhinha do
terceiro álbum, First Impressions of Earth, a ser lançado em
janeiro. Diga-se de passagem: os fãs brasileiros foram os primeiros a ouvir
as novas canções ao vivo. Os setlists dos shows brasileiros incluíram o
single Juicebox, mais tocada da semana na rádio BBC, e mais
quatro: Hawaii Aloha, Heart In A Cage, Razor Blade e You
Only Live Once.
Garantidos por uma 'cozinha' mais que consistente - a bateria fabulosa de Fab
Moretti e o baixo nem-um-pouco-fraturado de Nikolai Fraiture - Albert Hammond
Jr. e Nick Valensi revezavam-se na guitarra rítmica e na guitarra solo,
construindo uma massa sonora poderosa, invólucro ideal para o vocal 'cool' e
os versos céticos de Casablancas. O show corria bem até que lá pelas tantas
arrebentou uma corda da guitarra de Nick Valensi. O cabeludo jogou-a para
trás e pegou a guitarra reserva. Casablancas anuncia Barely
Legal e o que vamos presenciar é um daqueles momentos mágicos que só
são possíveis ao vivo. Tudo aconteceu errado e certo em Barely Legal.
Primeiro, Casablancas perdeu o fio da meada e deixou de cantar uns versos.
Logo depois, arrebentaram-se as cordas da guitarra reserva de Valensi, que,
incontinenti, a exemplo do que fizera com a primeira, jogou-a longe. Albert
Hammond Jr. teve, por uns momentos, que levar sozinho o ritmo, até que
Valensi, como último recurso, tomou a guitarra branca reserva de Albert,
pediu um cabo, conectou e recomeçou a tocar antes da música chegar no refrão.
"And all together it went well..." A banda então retomou a
concentração perdida e deu seguimento ao grande show, arrematando com Take
or Leave it. Ao sair do palco a primeira vez, Valensi brindou o público
com os pedaços de uma das guitarras quebradas. O público não arredou pé e
veio o bis com Whatever Happened, Someday e Reptilia.
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