domingo, fevereiro 19, 2006

Mulheres que correm

Ei-las. No parque, na praia. O rabo de cavalo balança de um lado a outro, no ritmo das passadas. Concentração estampada no rosto decidido. A respiração comanda o movimento harmonioso, o jogar equilibrado dos braços, o arremessar das pernas torneadas. Mulheres que correm.

No Parcão, na Redenção... Nas manhãs, nas tardes, na boca da noite... Indiferentes aos olhares e aos flertes, elegantes, tesas, alvoroçadas, sem destino, pensando em nada além da próxima curva, da próxima subida – da próxima volta. O coração palpita. Os poros abrem. O suor escorre... mulheres que correm.

Atravessando as ruas, aventurando-se no meio dos carros, lá vêm elas! Enfim chegam à calma e ao verde dos parques, por seus caminhos se embrenham, misturam sua energia, sua vida, sua essência, acrescentam um toque a mais de viço, saúde e delicadeza ao ambiente.

Correm, esvoaçantes ou pesadonas, esquisitas ou discretas, delgadas ou fofas, desajeitadas ou estilosas... Como gazelas, seriemas e potras... Ou como búfalas, hipopótamas e pingüins. Pra emagrecer, pra manter a forma, pra conquistar um novo namorado, pra manter o atual, pra espantar a preguiça, pra cultivar a disciplina, pra suprir a necessidade imperiosa de correr, correr, correr... Impacientes, impulsivas, irrequietas – mulheres que correm.

Mas não só de corridas literais vivem as mulheres. Atletas ou não, elas sempre estão correndo contra o tempo, por variados motivos. Para chegar ao trabalho, levar as crianças na escola, fazer o super, manter a casa, o penteado, encontrar as amigas, atirar-se aos braços de alguém... Para chegar na hora da aula, fazer o tema, ler uma pilha de livros, escrever o trabalho de conclusão e satisfazer o namorado... Para preparar a lição, ir à reunião, corrigir as provas, revisar a matéria, respirar trabalho, para esquecer o coração...

Elas correm nos eixos – ou descarrilam. Correm na órbita – ou se desviam. Correm na rodovia – ou pegam atalhos. Correm para cumprir os compromissos – ou fugir deles. Correm para evitar o perigo – ou senti-lo nas veias. Correm para se preservar – ou se entregar. Correm para o marido – ou amante. Para o lar – ou motel. Para a redenção – ou perdição! Responsáveis, estóicas, seguras. Delicadas, inconseqüentes, perdidas... Mulheres que correm.

2 comentários:

Seu comentário é bem-vindo!