É difícil escolher o que é melhor em Munique: o roteiro, a fotografia, a montagem, os atores, a música – ou a direção. Deixe-me reformular a frase: ir ao cinema para ver um filme de Steven Spielberg é a certeza de retorno do investimento.
O roteiro, baseado no livro “Vengeance” (1984), de George Jonas, que conta a história do grupo anti-terrorista formado em reação ao ataque que vitimou a seleção olímpica de Israel, em Munique 1972, não é maniqueísta – relata os fatos e dá humanidade àqueles que vão morrer, de ambos os lados. O autor do livro original, “Vengeance”, teve, como principal fonte, o líder do grupo anti-terror, vivido no filme por Eric Bana.
A fotografia sombria do cinegrafista Janusz Kaminski enfatiza cores neutras, dias nublados, luzes difusas, ambientes escuros e ações noturnas, conferindo um efeito estético importante à obra, em que o realismo se sobrepõe à esperança. O sol pouco brilha em Munique.
A edição alterna cenas de uma das ações terroristas mais chocantes da história – a invasão, em 1972, da vila olímpica pelo grupo terrorista palestino Setembro Negro, tomando como reféns os atletas da delegação de Israel, e seu funesto desdobramento – com a operação secreta subseqüente, organizada para eliminar os mentores e colaboradores dos terroristas. A mescla tem dupla função: dinamiza, dá agilidade à história; e, ao mostrar pontos de vista diferentes de maneira sucessiva, procura entender a polarização das verdades de cada povo.
No elenco não há rostos populares. Eric Bana (Tróia, Hulk) é a escolha certa para Avner, o agente líder da equipe que rastreia e mata as pessoas de uma lista que lhe é entregue. De compenetrada, contida, sua personagem passa a desassossegada e atormentada. Geoffrey Rush é Ephraim, a quem Avner presta contas. Destaque também para a novata Ayelet July Zurer, que interpreta Daphna, a fiel esposa de Avner.
Os não poucos momentos de tensão são sublinhados pela trilha angustiante do compositor John Williams.
Last but not least, o diretor que ‘influenciou gerações’ de espectadores e cineastas, Steven Spielberg, não aparece muito. Nascido em 1947, o tempo imprimiu ao estilo de Spielberg uma sobriedade e um recato louváveis. A variedade dos temas e a suprema habilidade de farejar uma história interessante e que vale a pena ser contada são suas marcas registradas. Decidir o ângulo e a posição da câmera? Isso já não o preocupa. Há um bom tempo ele não precisa mais chamar a atenção para si. Inventa cada vez menos, segue o roteiro à risca – e faz filmes primorosos.
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