No Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre, no dia 24 de outubro de 2010, tendo início às 20h15min, realizou-se o concerto popular reunindo a cantora amapaense Fernanda Takai e o cantor gaúcho Nico Nicolaiewsky. O evento patrocinado pela Dana teve a regência do maestro Tiago Flores e os arranjos, em sua maioria, feitos pelo carazinhense Fernando Cordella (Abertura, Feito um picolé no sol, Ana Júlia, Bela baila, Coração de luto, Flor e Só cai quem voa). Os responsáveis pelos outros arranjos foram os músicos Arthur Barbosa (Luz Negra), Daniel Wolff (A vida é confusão), Iuri Corrêa (Com açúcar, com afeto), Pedro Figueiredo (Diz que fui por aí), Michel Dorfman (Ben) e Rodrigo Bustamante (Insensatez). Com um repertório variado que incluiu desde Los Hermanos, Teixeirinha, Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e clássicos como Ben, um dos primeiros sucessos de Michael Jackson, além de canções de Nico Nicolaiewsky, o show se estendeu até as 21h30, com direito a bis da música A vida é confusão. O show teve duas partes distintas. Na primeira, com ênfase no piano e voz de Nico Nicolaeiwsky. Essa primeira etapa teve como pontos altos a homenagem a Teixeirinha (com o belo arranjo para Coração de luto) e a comovente Bela baila, cantada em dueto com Pedro Veríssimo, o coautor da música. Então a convidada especialíssima da noite entrou para cantar a primeira performance de A vida é confusão (música de autoria de Nico). A partir daí quem brilhou foi a cantora do Pato fu, considerada uma das dez melhores cantoras do mundo. Essa etapa do show foi bem diferente da primeira em termos de musicalidade e arranjos, com mais presença da percussão. No bis, o público bateu palma para acompanhar a canção Só cai quem voa e aplaudiu de pé o repeteco de A vida é confusão.
Foto: Andrea Polidori Celia.
domingo, outubro 24, 2010
Piranha 3-D
Diferentemente de Zumbilândia, que nada acrescentou (muito antes pelo contrário) para o gênero trash/zumbis, Piranha 3-D (2010) é um suculento upgrade ao gênero trash/piranhas. A saga piranhística iniciou na década de 1970 com filmes de reduzida expressão. Em 1978, as piranhas se tornaram estrelas nos cinemas de todo o mundo, numa produção de Roger Corman com direção de Joe Dante. Desde então, as vorazes dentuças vêm aterrorizando plateias de várias gerações. A sequência oficial veio em 1981 (Piranhas II: Assassinas Voadoras), com ninguém menos que James Cameron na direção. Agora, turbinadas pela tecnologia 3-D, as sanguinárias piranhas estão de volta, sob a batuta do diretor francês Alexandre Aja, que se lançou no circuito de filmes de horror com Haute tension (2003). Wes Craven assistiu a película e convidou Aja para dirigir o remake de Quadrilha de sádicos (The hills have eyes, 1977). A refilmagem ganhou o título no Brasil de Viagem Maldita (2006). Depois disso, Aja lançou Espelhos do medo (Mirrors, 2008). Como se vê, ninguém pode acusar Aja de incoerência. Escolheu um "gênero" e, nesse processo, se especializou, ou seja, cada filme novo é melhor que o anterior. Guardem o nome dele: esse cara ainda vai fazer um bom filme.
Desta vez, o cenário da carnificina é o fictício Lake Victoria (na realidade o Lake Havasu, Arizona). Na cena inicial, Richard Dreyfuss se presta para encarnar um pescador na hora errada no lugar errado. Falando em se prestar, adivinhe quem é a xerife responsável por tentar controlar uma situação que se tornará incontrolável? A respeitável Elizabeth Shue. Na pele da xerife Julie Forrester, tendo como fiel escudeiro o guarda interpretado por Ving Rhames, Shue enfrenta um dos maiores desafios da carreira: não o preconceito de participar de um gênero considerado menor depois de atuar em dramas como Despedida em Las Vegas, que lhe valeu indicação ao Oscar, mas sim um guloso cardume de piranhas mesolíticas. Um evento sísmico cujo epicentro é o lago abre uma fenda e libera criaturas de milhões de anos, verdadeiros fósseis vivos (e sedentos de sangue). Para a sorte dos insaciáveis peixinhos, está chegando na cidade (cuja principal atração é o lago) uma leva maciça de turistas (que quadruplica a população local) e também a deliciosa equipe de produção de um filme pornô.
Zazie no metrô
Adaptação do romance homônimo de Raymond Queneau, o filme Zazie dans le metro (Zazie no metrô, 1960) consegue transmitir a graça literária desta emblemática personagem. Quando o livro foi lançado, chamou a atenção pela inovação linguística: as personagens falavam em dialetos próprios, com direito a neologismos e modos particulares de expressão. A legendagem para o português em dvd optou pelo pragmatismo e o que se vê são personagens gramaticalmente corretos.
Mas esse detalhe não diminui o prazer de assistir ao filme. Para quem já leu o livro, é uma oportunidade ímpar de ver personagens inesquecíveis como a desbocada Zazie, o misterioso Gabriel, o rabugento Turandot, o taxista Charles, a serelepe Mado, a suave Albertine e o truculento policial Trouscaillon (sem falar no irreverente papagaio Laverdure) ganharem vida na pele de Catherine Demongeot II, Philippe Noiret, Hubert Deschamps, Antoine Roblot, Annie Fratellinie, Carla Marlier e Vittorio Caprioli, respectivamente.
A jornada de Zazie, que vem do interior com a mãe passar uns dias em Paris com o principal objetivo de conhecer o metrô (que, para o azar e a revolta da menina, está de greve), tem elementos e mostra influências de Lewis Carroll e James Joyce. Em outras palavras, Zazie tem um pouquinho de Alice e também de Ulisses, em sua odisseia para conhecer a cidade luz.
A propósito, no livro Paris, biografia de uma cidade (L&PM Editores) , o historiador britânico Colin Jones cita a obra de Raymond Queneau para frisar como os parisienses confundem os monumentos e prédios famosos, mostrando desconhecimento e falta de senso histórico em relação à paisagem urbana. Já Zazie demonstra é desdém pelos próprios personagens históricos, fato cabalmente exemplificado por seu famoso bordão "Napoleon mon cul" (Napoleão o caralho, na tradução de Paulo Werneck).
Falando em tradução, o leitor brasileiro não pode reclamar: tem duas traduções disponíveis (pelo menos em sebos): a de 1985, assinada por Irène Harlek Cubric (editora Rocco) e a de 2009 por Paulo Werneck (editora Cosac Naify).
O diretor Louis Malle, que iniciou a carreira filmando o mundo submarino em companhia de Jacques Costeau e que realizaria um dos maiores triunfos da carreira em 1987 (o clássico Adeus, meninos - Au revoir les enfants), faz de Zazie no metrô, com humor, surrealismo e non sense, um filme não menos interessante que o livro.
terça-feira, outubro 12, 2010
Vincere
O experiente diretor Marco Bellocchio em Vincere (2010) nos conta a desesperadora história de Ida Dalser, amante de Benito Mussolini. Desde que Charlotte Rampling hipnotizou plateias em O porteiro da noite (The night porter, 1974), de Liliana Cavani, nunca se viu nas telas um amor tão doente. Se no filme de Cavani a esquisita e insondável Charlotte Rampling interpretava a mulher de um famoso maestro que reconhece no porteiro do hotel o nazista que a seviciou e numa inexplicável atração volta a se envolver com ele, agora a não menos esquisita e insondável Giovanna Mezzogiorno encarna um tipo diferente e mais comum de doença: Ida Dalser ama Benito Mussolini, que não ama Ida Dalser. Relação em que ela se entrega de corpo e alma e ele apenas de corpo, para utilizar um linguajar clichê. Mas só quem já passou por isso sabe o quanto isso pode ser doentio. Enfim, o amor de Ida é tão forte e visceral que ela se considera a mulher legítima de Benito e engravida dele. Estamos em 1915. A criança é registrada com o nome do pai, e a partir daí a ascensão de Benito Mussolini como líder político afasta o foco do filme do "amor doentio" para "um estranho no ninho". Ou seja, Ida Dalser passa a assediar Mussolini e acaba numa instituição para doentes mentais. O filho é levado à força a um internato. E aí se desenvolve o drama de mãe e filho, obcecados pela figura de um ser carismático, mas maquiavélico.
Certas cenas deste filme são cinema puro, sem diálogos. Como a das explosões na rua, o povo corre para dentro da galeria, e da fumaça surge a anônima mãe empurrando calmamente um carro de bebê. Ou como a de Ida subindo na grade do hospício durante a nevasca e arremessando cartas ao léu. Destaque também para a atuação impressionante de Filippo Timi, primeiro como Benito pai, depois como Benito filho.
domingo, outubro 10, 2010
Comer rezar amar
Dirigido por Ryan Murphy (que assinou o drama mal-recebido pela crítica Running with scissors, 2006), Comer rezar amar é a adaptação fílmica do romance de autoajuda homônimo, de autoria de Elizabeth Gilbert. Não vou entrar nem em detalhes nem no mérito da questão envolvendo os motivos do divórcio de Liz. Tipo, já é louvável que o homem não é pintado como o crápula da história. O fato é que ela se divorcia e tem que reconstruir a vida. Nisso reside talvez o sucesso do livro/filme: são tantas as pessoas que enfrentam essa situação que sempre acaba sendo catártica para essas pessoas a experiência de ler/ver alguém procurando soluções a esse intricado problema. A solução apresentada por Liz é bem didática: comer, rezar e amar são ações que ajudam a cicatrizar quaisquer feridas, por mais profundas.
Na Itália, comer. Na Índia, rezar. Em Bali, amar.
Na Itália, comer. Na Índia, rezar. Em Bali, amar.
Esse é o roteiro do road movie de Murphy, e, como todo e qualquer road movie, a personagem que faz a jornada conhece gente legal e passa por situações reconfortantes mas que não diminuem suas incertezas. A fase mais divertida, colorida e saborosa sem dúvida se passa na Itália. Na Índia é a fase mais introspectiva e meditativa. Por fim, que tal conhecer um brasileiro sedutor em Bali? Voando, pedalando e navegando, Liz procura suas respostas. Julia Roberts? Muitas atrizes já receberam Oscar por bem menos.
Tropa de elite 2
Diferentemente do primeiro filme, onde pairava no ar uma dúvida sobre qual o "lado" defendido pelos realizadores (por conta de uma equilibrada exposição de pontos de vista opostos), em Tropa de elite 2 a máscara cai e o que vemos é um filme maniqueísta, quase beirando o simplório. Em termos cinematográficos, também, a nova película é inferior, com a narração em off substituindo a ação trepidante. A obsessão dos produtores em evitar pirataria parece ter sido o foco, em vez da manutenção dos padrões artísticos. Não que eu não tenha apreciado cada segundo de Tropa de elite 2. Não que o filme não tenha momentos aterradores, engraçados, sarcásticos, irônicos, viscerais e emocionantes.
E alguém poderia com certa razão indagar: o que querer mais de um filme do que momentos aterradores, engraçados, sarcásticos, irônicos, viscerais e emocionantes? Pois Tropa de elite 2 é a prova que um filme pode ter tudo isso e ainda assim decepcionar o espectador. A crítica ao "sistema" acaba soando uma saída fácil demais. Mesmo recheando o filme com momentos que atingem o espectador, parece que na hora de definir "o alvo" o roteiro perdeu o rumo e decidiu "colocar a culpa" em políticos e policiais corruptos.
Fico pensando se talvez eu não tenha dado a este texto um tom mais "crítico" por méritos desses mesmos produtores, roteiristas e cineastas, que conquistaram o público em 2007 e alavancaram os patamares de exigência (e senso crítico) desse mesmo público.
sábado, outubro 02, 2010
15 anos e meio
15 anos e meio (15 ans et demi, 2008) - dirigido e roteirizado pela dupla François Desagnat e Thomas Sorriaux - baseia-se no livro homônimo de Vincent Ravalec. O enredo trata de Philippe Le Tallec (o impagável Daniel Auteuil), o mais americano dos cientistas franceses, que há quinze anos deixou a França para fazer suas pesquisas em Boston.
Agraciado com prêmios de excelência no campo profissional, Philippe tem deixado a desejar no relacionamento com a filha Eglantine (Juliette Lamboley). Afinal, nesta década e meia de ausência, pouco tem convivido com ela; apenas se encontram em viagens esporádicas.
Mas nunca é tarde para uma reaproximação, e a mãe de Eglantine pede a Philippe que venha à França cuidar da menina-moça por três meses. E a primeira coisa que ele faz é preparar para ela um típico desjejum norte-americano, desdenhado pela filha. Durante o período que vai ficar cuidando da filha, Philippe é convidado por um amigo a chefiar uma equipe de cientistas para inventar um tônico capilar. Entretanto, mais difícil que fazer crescer cabelo numa linda moça careca é saber lidar com uma filha de quinze anos e meio.
Para conseguir o intento de estabelecer uma relação de amor e respeito com a filha, Philippe contará com as dicas de duas pessoas. A primeira é um amigo imaginário: ninguém menos que Albert Einstein, com quem Philippe troca ideias quase sempre em momentos insólitos. O segundo conselheiro é Jean Maxence (François Damiens II), autor de livros de autoajuda para pais com filhos rebeldes. Mas a tarefa não será nada fácil. Afinal de contas, Eglantine anda às voltas com pretendentes, paixões platônicas, festas, shows, amigas que escrevem blogs sensuais, enfim, toda a cornucópia de emoções, descobertas e dúvidas de uma adolescente. Na última categoria, é claro, não podia faltar a dúvida entre o descolado Vincent e o tímido Gaspard. O primeiro desperta o interesse dela, enquanto o segundo faz mais o estilo amigão (mas que no fundo nutre por ela 'algo mais').
O que se esperar de um filme com essas características? Não muito, é claro. Mas não vai errar por muito quem esperar bom humor temperado com pitadas de ternura.
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