sábado, dezembro 15, 2018

Roma



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Alfonso Cuarón entrou para a história do cinema ao se tornar o primeiro cineasta a ganhar um Oscar de Melhor Diretor com um filme 3-D (Gravidade, 2013). 

O mexicano nascido em 1961 construiu um currículo curioso em que se destaca a alternância de filmes autorais e blockbusters

Roma, seu mais recente trabalho, pode ser conferido nos cinemas e por streaming. É o sinal dos novos tempos.

O filme começa com a tomada de um piso de lajotas. Todos os créditos iniciais são com essa imagem, que só muda quando água é acrescentada, e sabão, e a abertura prossegue em constantes e cada vez mais contínuas enxaguadas. A água serve também como espelho para refletir o que está acima do piso. Lá em cima, sob as nuvens claras, um avião atravessa discretamente o céu.

Assim Cuarón começa o seu filme. Sem pressa, sem badalação. E o que é mais desconcertante: sem cor. Roma é filmado em preto, branco e incontáveis tons de cinza.


Em uma análise simplista, Roma segue o ponto de vista de Cleodegaria Gutiérrez, ou apenas Cleo, a empregada doméstica que serve de amálgama a uma família de classe média, composta pelo casal, a avó, os quatros filhos e o cachorro Borras, que vive sujando a entrada da garagem.

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A rotina dessa família é desnudada sem a mínima pressa. Os personagens vão sendo apresentados e paulatinamente revelando suas facetas e idiossincrasias. Os dramas particulares de cada um vão sendo expostos.

O drama de Cleo precipita-se quando engravida do namoradinho inconsequente.

O drama da patroa é não menos complicado: o marido parece estar com a cabeça virada e decidido a abandonar a família.


O microcosmos dessa residência convencional com seus dramas convencionais torna-se algo pungente sob o olhar sensível de Cuarón.

Assim, em uma análise mais holística, o ponto de vista de Cleo serve de eixo narrativo para um retrato sociológico mais amplo, um verdadeiro romance de costumes do México do final da década de 60 e começo dos anos 1970. Havia no país uma turbulência, uma insatisfação, com manifestações de estudantes sendo abafadas com violência pelo governo.

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Em entrevista à Variety, o realizador explica as nuanças autobiográficas do filme, que é dedicado a Libo, a babá de Cuarón na vida real.

Como se trata de um filme com elementos autobiográficos, surge a pergunta: quem é Cuarón em Roma?

Resultado de imagem para roma filmeParece-me que Cuarón seria Pepe, o menino mais novo, que vive se fantasiando de astronauta e criando histórias mirabolantes junto com Cleo. Em uma cena de sabor particularmente emotivo, Cleo deita-se numa laje e encosta a cabeça à de Pepe, e os dois fingem estar mortos. Noutra Pepe ajuda a apagar um incêndio na floresta quando a família (sem o pai) está passando a virada de Ano Novo em uma fazenda.



Um perfil interessante de Cuarón pode ser conferido nesta reportagem do New York Times. A jornalista Marcela Valdes faz uma retrospectiva da trajetória do diretor e desemboca nas intimistas ideias e perspectivas de Roma.

Ao mergulhar fundo em suas memórias, Cuarón realiza um filme que tem o poder de evocar lembranças da infância, de trazer à tona momentos importantes e definidores de nossas vidas.
  




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