segunda-feira, janeiro 21, 2019

O mensageiro do diabo


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A trajetória de um(a) cinéfilo(a) pode ser definida por em qual momento em sua vida ele/a enfim conseguiu assistir a The Night of the Hunter

Para mim esse momento foi domingo dia 20 de janeiro de 2019.

O dvd usado comprado por 5 reais na Zílvia Locadora de Passo Fundo foi finalmente disposto no prato do Blu-ray player.

Diferentemente do que costumo fazer, desta vez não convidei mais nenhum outro morador da casa para assistir comigo.

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Primeiro porque não tinha me aprofundado sobre o enredo e segundo porque considerei que um filme clássico dos anos 1950 em preto e branco não atrairia o interesse de minha esposa e de meus filhos.   

Mas eis que o inusitado acontece e a música marcante de Walter Schumann despertou a curiosidade dos guris que logo se sentaram a meu lado. A minha esposa limitou-se a olhar com desdém.* 

O pequeno, de 6 anos, gostou do começo, pois o filme é do ponto de vista das crianças, mas abandonou a sessão após uns quinze minutos; não conseguia ler as legendas com a rapidez necessária.

O primogênito, de 11 anos, assistiu ao filme comigo e ainda reclamou por não ter sido oficialmente convidado.

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The Night of the Hunter! Onipresente nas antologias, cantando em prosa e verso por Movie Guides de todos os estilos e línguas. 

Fracasso de público na época, tornou-se gradativamente muito respeitado por seu valor artístico.

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Roger Ebert incluiu-o em seu livro A magia do cinema.

O grande ator Charles Laughton, porém, não viveu para ter o reconhecimento como diretor.

The Night of the Hunter foi o seu primeiro e único filme. O fracasso comercial e a falta de compreensão com as ousadias artísticas do filme o deixaram abalado. 

Parece que o filme não tinha o perfil necessário para ser comercializado de modo a não perturbar algumas instituições importantes.

Adaptação do romance homônimo de Davis Grubb, publicado em 1953, teve na direção de arte um grande talento, Hilyard Brown.

Ele fazia aquarelas durante a produção, como a reproduzida a seguir:

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 O próprio autor do livro, Davis Grubbs, colaborou diretamente com Laughton, também enviando desenhos de como concebia as cenas. O roteiro foi o último trabalho de James Agee, que faleceu em 1955 devido ao alcoolismo; em 1958, o seu romance autobiográfico A Death in the Family recebeu o Prêmio Pulitzer.

Durante os momentos antes das filmagens, Charles Laughton e o diretor de fotografia Stanley Cortez assistiram a vários filmes do cinema mudo, em especial, os clássicos de D. W. Griffith.

A influência pode ser sentida nas tomadas longas e também na inclusão das clássicas "tomadas íris", em que a câmera parece ir fechando como a íris de um olho humano.

Sobre os métodos de Laughton como diretor, existe um fato bastante revelador sobre como ele sabia lidar com as pessoas, principalmente os atores como ele. Laughton escolheu o elenco sem "passar o texto". Em vez disso, convidava os candidatos a sua casa e passava uma tarde com eles, falando sobre diversos assuntos. Isso já era suficiente para ele tomar a decisão.
Uma das sequências mais belamente aterradoras é a dos irmãozinhos descendo o rio. A pequerrucha entoa a lullaby "Once upon a time there was a pretty fly".



E qual é o sentimento do cinéfilo que enfim tem a oportunidade de assistir a um filme como The Night of the Hunter

O que permanece após a sessão é uma sensação de completude. De alegria por ter esperado o momento certo. E da certeza de que grandes filmes surgem por uma conjunção de fatores, entre eles, a feliz reunião de vários talentos multidisciplinares. 


*Mas, ponto para ela: mais tarde ela sentou-se ao meu lado e assistiu parte dos extras comigo. ;)

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