Cinema iraniano é sinônimo de cinema denso, de um tipo de filme construído sem pressa, com base em diálogos e nas relações humanas. Vide
Gosto de cereja, de Abbas Kiarostami.
Este artigo da BBC faz uma retrospectiva da história do cinema iraniano, desde os primórdios até hoje.
Fui assistir a Todos já sabem para conhecer o cinema de Farhadi, que já tem dois Oscars de Melhor Filme Estrangeiro na estante (A separação e O apartamento). Se bem que vamos combinar: um filme dirigido por um iraniano, mas falado em espanhol e estrelado por um elenco espanhol e argentino já desperta bastante curiosidade, justificando plenamente a visita ao Cine Guion.
Antes da sessão, um tempinho para admirar as esculturas expostas de mestres como Vasco Prado, Xico Stockinger e outros.
Começa o filme no Guion 2.
Coisa boa não saber previamente nada do enredo.
Por isso mesmo não vou entrar nesse detalhe.
Apenas dizer que o filme começa em um ritmo bastante festivo até acontecer uma reviravolta. A partir daí, a história envereda por uma espécie de policial "whodunnit".
Mas isso é apenas um pano de fundo para Asghar Farhadi, o mais novo expoente do cinema iraniano, tratar de temas mais profundos, como amores mal resolvidos ("unfinished questions"), a terra como prisão e outros.
O filme prende muito a atenção e cria em certos momentos uma sensação bastante sufocante de angústia.
As atuações de Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín são bastante convincentes, com destaque também para Carla Campra, que interpreta a adolescente Irene.
O filme, que havia sido recebido com desdém pela crítica no Festival de Cannes, chega em 2019 ao Brasil para também ser malhado: o crítico Inácio Araújo detonou com o filme. Aviso aos cinéfilos: as duas resenhas linkadas neste parágrafo contêm detalhes sobre o enredo, portanto, só clique nos links caso não se incomode com alguns "so-called" spoilers.
A propósito, esses dias uma amiga minha, que eu considero cinéfila até o tutano dos ossos, me surpreendeu ao usar a expressão "vocês, cinéfilos".
Voltando à vaca fria, Todos já sabem tem algumas metáforas importantes. Uma equipe lava as ruas da cidadezinha constantemente. A água aqui é um elemento que simboliza a limpeza da alma, a busca por um cotidiano livre de sujeiras embaixo dos tapetes.
Não à toa algumas das melhores cenas do filme envolvem as célebres "lavações de roupa suja" já esperadas em filmes que revelam as entranhas de uma família.
Por outro lado, as cenas da bela "finca" ou granja vinícola enquadradas com a porta gradeada parecem emoldurar a verdade indissolúvel de como a terra tem o poder de aprisionar mentes e corações.
Asghar Farhadi, que já tem dois Oscars de Melhor Filme Estrangeiro na estante, escreveu o roteiro em persa, mas já com os atores escolhidos em mente. Este artigo do Washington Post conta um pouco do processo, desde a concepção até a realização.
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