segunda-feira, abril 01, 2019

Nós


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Com um par de cenas mal filmadas e mal editadas, com um roteiro autoindulgente que exige demais a colaboração do espectador, Nós é uma tremenda decepção para quem gostou de Corra! e uma contundente amostra do que pode acontecer com o cérebro de um roteirista imaginativo que ganhou um Oscar e agora acha que "pode tudo".





Em pelo menos duas cenas das partes consideradas de "terror", o espectador não consegue acreditar na cena, por um de dois motivos: ou faltou a ela o som de um motor de barco ou um golpe de taco de golfe foi por demais teatral.



Um par de cenas não convincentes em um "filme de terror" não seria algo desastroso se o próprio roteiro fosse mais funcional. E até uma altura o roteiro até que vai. Os personagens são apresentados, as situações são críveis, existe uma tensão no ar. Súbito a coisa "desanda". É como se Peele tivesse chutado o balde e dito a si mesmo: "I got the power". De um ponto em diante, tudo fica por demais forçado.








A questão é basicamente esta: o espectador precisa se esforçar muito para "entrar" no filme, para dar um voto de confiança ao diretor que tinha um excelente crédito. Juro que me esforcei ao máximo para conceder a Peele o benefício da dúvida e tentei embarcar na lancha!




Mas eis que o fundo da lancha estava furado. A inverossimilhança das situações é quase suplantada pela estapafúrdia incongruência das supostas "explicações". 



Com todos esses contratempos, ainda assim Nós consegue ser um filme tolerável, que tem algum estofo para ser comentado. E o fato de eu estar em uma poltrona Premium do Cine Laser de Passo Fundo consumindo um combo de pipoca e refrigerante permitiu que eu conseguisse chegar ao fim do processo que foi assistir a Nós


Aliás, "Estou processando" é sintomaticamente uma das (melhores) falas do filme. O elenco e a música também são aspectos fortes do filme. O problema é que o sarrafo estava bem alto após o triunfo de Corra! 

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 Nós mantém um certo padrão, uma certa linha de ousadia e criatividade. Por exemplo, o sutil humor em alguns diálogos entre a família branca e a família negra imprime ao filme uma qualidade extra, inexistente em outros filmes "slasher". Além disso, Peele se coloca na pele de um dos bandoleiros de Meu ódio será tua herança e dispara sua metralhadora giratória de críticas contra o "sistema". Cunicultura, dismorfofobia, competição social entre vizinhos: sobram "tesouradas" sociais para tudo que é lado. São esses momentos que fazem de Nós um filme melhor.



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Mas, às vezes, tem-se a sensação de que a capacidade de direção de Peele e o seu domínio dos aspectos técnicos não acompanham a sua imaginação desenfreada. Em uma análise do todo, as fraquezas igualam os pontos fortes. 

Como se os problemas inerentes à parte artística não bastassem, nos últimos dias Peele está precisando apaziguar as reclamações de um grupo de pessoas que sofre de um problema neurológico e se ofendeu ao ver o filme. A Associação Nacional de Disfonia Espasmódica (NSDA) fez um protesto formal pelo modo como a atriz Lupita Nyong'o empostou a sua voz para interpretar um dos personagens do filme. A atriz teria se inspirado na voz de Robert F. Kennedy Jr., que tem o problema. 

Kim Kuman, diretora executiva da NSDA, declarou: "A disfonia espasmódica não é uma voz horripilante; não é uma voz assustadora. É uma deficiência com a qual as pessoas convivem e não devem ser julgadas por isso".

Por sua vez, Jennifer Laszlo Mizrahi, presidente da ONG RespectAbility, criticou Nyong'o por utilizar a condição da disfonia espasmódica para definir um aspecto de sua personagem: "Conectar deficiências com personagens malignos marginaliza as pessoas com deficiências". Ela reforçou a necessidade de a sociedade "combater estigmas e criar oportunidades para as pessoas com deficiências".



A atriz já se desculpou. "É um grupo de pessoas bastante pequeno que sofre desse problema... Não pensei que poderia ofendê-los de alguma maneira. Essa não era a minha intenção. Na minha cabeça, eu não estava interessada em vilanizar ou demonizar a condição.(...) Eu compus a Red com amor e cuidado e queria que ela fosse inspirada em algo que soasse real. Por tudo isso, eu peço desculpas a todos que eu possa ter ofendido."



Embora Nós tenha algumas boas ideias, elas não conseguem ser transmitidas com unidade e firmeza. Por isso, é um pouco preocupante o fato de que alguns críticos estejam endeusando Peele e o comparando com Stanley Kubrick, Alfred Hitchcock e Steven Spielberg. As far as I am concerned, Nós permanecerá como mais um dos filmes que eu queria muito ver, mas que saí do cinema constrangido por ter visto. 







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