Com um par de cenas mal filmadas e mal editadas, com um roteiro
autoindulgente que exige demais a colaboração do espectador, Nós
é uma tremenda decepção para quem gostou de Corra! e uma
contundente amostra do que pode acontecer com o cérebro de um roteirista
imaginativo que ganhou um Oscar e agora acha que "pode tudo".
Em pelo menos duas
cenas das partes consideradas de "terror", o espectador não consegue
acreditar na cena, por um de dois motivos: ou faltou a ela o som de um motor de
barco ou um golpe de taco de golfe foi por demais teatral.
Um par de cenas não convincentes em um "filme de terror" não seria algo desastroso se o próprio roteiro fosse mais funcional. E até uma altura o roteiro até que vai. Os personagens são apresentados, as situações são críveis, existe uma tensão no ar. Súbito a coisa "desanda". É como se Peele tivesse chutado o balde e dito a si mesmo: "I got the power". De um ponto em diante, tudo fica por demais forçado.
A questão é basicamente esta: o espectador precisa se esforçar
muito para "entrar" no filme, para dar um voto de confiança ao
diretor que tinha um excelente crédito. Juro que me esforcei ao máximo para
conceder a Peele o benefício da dúvida e tentei embarcar na lancha!
Mas eis que o
fundo da lancha estava furado. A inverossimilhança das situações é quase
suplantada pela estapafúrdia incongruência das supostas
"explicações".
Com todos esses
contratempos, ainda assim Nós consegue ser um filme tolerável,
que tem algum estofo para ser comentado. E o fato de eu estar em uma poltrona
Premium do Cine Laser de Passo Fundo consumindo um combo de pipoca e
refrigerante permitiu que eu conseguisse chegar ao fim do processo que foi
assistir a Nós.
Aliás, "Estou processando" é sintomaticamente uma das (melhores) falas do filme. O elenco e a música também são aspectos fortes do filme. O problema é que o sarrafo estava bem alto após o triunfo de Corra!
Nós
mantém um certo padrão, uma certa linha de ousadia e criatividade. Por exemplo,
o sutil humor em alguns diálogos entre a família branca e a família negra
imprime ao filme uma qualidade extra, inexistente em outros filmes
"slasher". Além disso, Peele se coloca na pele de um dos bandoleiros
de Meu
ódio será tua herança e dispara sua metralhadora giratória de críticas
contra o "sistema". Cunicultura, dismorfofobia, competição social
entre vizinhos: sobram "tesouradas" sociais para tudo que é lado. São
esses momentos que fazem de Nós
um filme melhor.
Mas, às vezes, tem-se a sensação de que a capacidade de direção de
Peele e o seu domínio dos aspectos técnicos não acompanham a sua imaginação
desenfreada. Em uma análise do todo, as fraquezas igualam os pontos fortes.
Como se os problemas inerentes à parte artística não bastassem, nos últimos dias Peele está precisando apaziguar as reclamações de um grupo de pessoas que sofre de um problema neurológico e se ofendeu ao ver o filme. A Associação Nacional de Disfonia Espasmódica (NSDA) fez um protesto formal pelo modo como a atriz Lupita Nyong'o empostou a sua voz para interpretar um dos personagens do filme. A atriz teria se inspirado na voz de Robert F. Kennedy Jr., que tem o problema.
Kim Kuman, diretora executiva da NSDA, declarou: "A disfonia espasmódica não é uma voz horripilante; não é uma voz assustadora. É uma deficiência com a qual as pessoas convivem e não devem ser julgadas por isso".
Por sua vez, Jennifer Laszlo Mizrahi, presidente da ONG RespectAbility, criticou Nyong'o por utilizar a condição da disfonia espasmódica para definir um aspecto de sua personagem: "Conectar deficiências com personagens malignos marginaliza as pessoas com deficiências". Ela reforçou a necessidade de a sociedade "combater estigmas e criar oportunidades para as pessoas com deficiências".
A atriz já se desculpou. "É um grupo de pessoas bastante pequeno que sofre desse problema... Não pensei que poderia ofendê-los de alguma maneira. Essa não era a minha intenção. Na minha cabeça, eu não estava interessada em vilanizar ou demonizar a condição.(...) Eu compus a Red com amor e cuidado e queria que ela fosse inspirada em algo que soasse real. Por tudo isso, eu peço desculpas a todos que eu possa ter ofendido."
Como se os problemas inerentes à parte artística não bastassem, nos últimos dias Peele está precisando apaziguar as reclamações de um grupo de pessoas que sofre de um problema neurológico e se ofendeu ao ver o filme. A Associação Nacional de Disfonia Espasmódica (NSDA) fez um protesto formal pelo modo como a atriz Lupita Nyong'o empostou a sua voz para interpretar um dos personagens do filme. A atriz teria se inspirado na voz de Robert F. Kennedy Jr., que tem o problema.
Kim Kuman, diretora executiva da NSDA, declarou: "A disfonia espasmódica não é uma voz horripilante; não é uma voz assustadora. É uma deficiência com a qual as pessoas convivem e não devem ser julgadas por isso".
Por sua vez, Jennifer Laszlo Mizrahi, presidente da ONG RespectAbility, criticou Nyong'o por utilizar a condição da disfonia espasmódica para definir um aspecto de sua personagem: "Conectar deficiências com personagens malignos marginaliza as pessoas com deficiências". Ela reforçou a necessidade de a sociedade "combater estigmas e criar oportunidades para as pessoas com deficiências".
A atriz já se desculpou. "É um grupo de pessoas bastante pequeno que sofre desse problema... Não pensei que poderia ofendê-los de alguma maneira. Essa não era a minha intenção. Na minha cabeça, eu não estava interessada em vilanizar ou demonizar a condição.(...) Eu compus a Red com amor e cuidado e queria que ela fosse inspirada em algo que soasse real. Por tudo isso, eu peço desculpas a todos que eu possa ter ofendido."
Embora Nós tenha algumas boas ideias, elas não conseguem ser
transmitidas com unidade e firmeza. Por isso, é um pouco preocupante o fato de
que alguns críticos
estejam endeusando Peele e o comparando com Stanley Kubrick, Alfred Hitchcock e
Steven Spielberg. As far as I am concerned, Nós
permanecerá como mais um dos filmes que eu queria muito ver, mas que saí do
cinema constrangido por ter visto.
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