Um dos lançamentos recentes na Netflix é uma incursão no gênero explorado com maestria por Scorsese em Ilha do medo e por Harry Kümel no cult Malpertuis.
O tênue limite entre o real e o fantástico, a sanidade e a loucura.
Com direção de Brad Anderson, cujo trabalho mais importante foi O operário (The Machinist, 2004), estudo sobre paranoia e sanidade mental protagonizado por Christian Bale, Fratura (Fractured, 2019) tem no protagonista seu maior trunfo.
O ator Sam Worthington torna Ray Monroe um personagem crível, com o qual podemos nos identificar. Ou seja, um ser humano falho, recuperando-se do alcoolismo, que já sofreu um grande abalo na vida e está tentando reconstruí-la.
Começando com uma discussão familiar na rodovia que cruza a gélida paisagem, o filme tem um clima bastante soturno e claustrofóbico, pois se passa quase todo dentro de um hospital. Corredores, salas de espera, elevadores, salas de atendimento coletivo, seção de medicamentos, sala de cirurgia, escritório da segurança, recepção... Enfermeiros, médicos, recepcionistas, guardas. Todos esses locais serão frequentados por Ray Monroe em sua busca por respostas. Todos esses profissionais serão colocados à prova ao lidar com esse homem desesperado para achar a família.
A fotografia é granulada, cinzenta e neutra. A atmosfera que o roteiro perpassa mescla o assustador com o horripilante, o revoltante com o paranoico, o grotesco com o arabesco, e pitadas de uma neurose com a "indústria" da doação de órgãos, algo que remete ao clássico literário "Coma".
A pergunta que não quer calar: vale ou não vale a pena assistir ao filme?
Vai depender do quanto você é um espectador resiliente e decidido a tirar proveito da experiência.
Falar mais seria cometer o sempre famigerado
e odiado
SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER
POR FAVOR, SÓ TERMINE DE LER APÓS TER ASSISTIDO AO FILME
Comentar o filme seria incorrer em "tentar explicar" e para isso já tem muitos sabe-tudos na web que fizeram posts do tipo "Entenda o final", "Fãs ficaram chocados", etc.
Sendo assim, apenas vou declarar que pessoalmente fiquei um pouco chateado com o rumo do filme. Em vez de ser o tipo de "Redenção do protagonista em quem ninguém acredita" é do tipo "Prova cabal de que, de médico e louco, todo mundo tem um pouco".
A trajetória do protagonista enerva porque torcemos por ele, para que tudo comece a fazer sentido em sua vida, para que ele se recupere, para que seja tudo verdade.
Mas o filme acaba usando alguns subterfúgios para "enganar" a plateia desavisada. (Claro que jamais vão conseguir "surpreender" uma pessoa que já bebeu da fonte, conforme já mencionei lá no início.)
Considero esse tipo de recurso (mostrar uma coisa "como sendo" real que depois se comprova ser "imaginação" de um personagem) uma espécie de "golpe baixo" narrativo.
Seja como for, Fratura tem lá seus méritos por manter a tensão e a dúvida até o final. E uma informação que ajuda a entender a "reviravolta" final é que o diretor o considera uma tragédia com pitadas de terror.
Ele conta que acrescentou um detalhe que não estava no roteiro, ou seja, aquele olhar de "cair a ficha" que Sam Worthington faz no finzinho foi ideia do diretor Brad Anderson, não do roteirista Alan B. McElroy, de Halloween 4 e da franquia Pânico na floresta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é bem-vindo!