Julie Bertuccelli estreou na direção de longas-metragens com
Since Otar Left (2004). Seu segundo

filme (não contando o documentário sobre o artista Otar Iosseliani, filmado em 2007)
começou a nascer quando uma amiga lhe deu de presente o livro
Our Father Who Art in the Tree, de autoria da australiana Judy Pascoe. Além de estabelecer um curioso intertexto com seu "romance fetiche" (
O barão nas árvores, de Italo Calvino, cujos direitos autorais, havia descoberto Julie, estavam indisponíveis), o livro abordava temas que ela desejava abordar em linguagem fílmica. Esses temas são, nas palavras da própria diretora: "a infância, a força da imaginação e da invenção como fonte de sobrevivência e o inexorável poder da vida superando a tristeza". Dawn (Charlotte Gainsbourg), no auge de seus trinta e muitos anos, vê-se viúva com quatro filhos. Cada um administra a perda a seu modo. Dawn entra numa depressão situacional, mas sai dela por meio do trabalho como auxiliar na loja do encanador George (Marton Csokas), o patrão que toda viúva pediu a Deus. Tim (Christian Byers), o filho mais velho, é o mais prático: não abandona os planos e, ao mesmo tempo, assume o papel de "homem da casa". O introspectivo Lou (Tom Russel) fica meio na dele. Charlie (Gabriel Gotting), o caçula de 3 anos, retarda o início da fala. Mas é Simone (Morgana Davies), de 8, que reage da maneira mais inusitada. Transfere o amor que sentia ao pai à árvore em que o pai soltou o último suspiro. Começa a falar com a imensa figueira e conta à mãe que a árvo

re responde, que na árvore mora o espírito do pai morto. A coprodução franco-australiana (a atriz protagonista e a diretora são francesas, o restante do elenco e os cenários são
australianos) trata do assunto da perda sem pieguice e com momentos de lirismo e plasticidade. Não é para menos que o espectador sente um clima de intenso envolvimento autoral com o tema "perda". Em 2006, durante a pré-produção do filme, o renomado diretor de fotografia Christophe Pollock, então marido de Julie Bertuccelli, faleceu precocemente, aos 52 anos de idade.
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