domingo, julho 20, 2014

Oslo, 31 de agosto

Com direção de Joachim Trier, Oslo, 31 de agosto é um filme que nos desperta sensações ambíguas. Ou melhor, nada a ver usar plural majestático num blog de cinema. E sobre suas próprias sensações, aliás, cada um deve tentar identificar e saber reconhecer. Portanto, vou falar das minhas. Ora, quem é que vai numa sala de cinema alternativa em plena manhã dominical para assistir a um filme norueguês cuja resenha já indica que é do tipo “de cortar os pulsos”? No mínimo, nenhum desavisado. No mínimo, alguém que já sabe que o filme remete a Trinta anos esta noite, realizado por Louis Malle em 1960, adaptação do livro Fogo fátuo, de Pierre Drieu La Rochelle, inspirado na vida do poeta francês Jacques Rigaut. Mesmo assim, não consigo negar que o filme me provocou, a princípio, uma profunda irritação. Mais um filme tedioso composto sob a égide do dogma 95, mais uma película sobre vazio existencial, sucessão de diálogos cotidianos e enfadonhos cujo interlocutor sempre é o mesmo e enfadonho protagonista. Pausa. Respire fundo. Tente ir além. Observe o rigor formal. A arte que involucra a história. A música que não toca, exceto quando há música de verdade, A-ha tocando no rádio do táxi, um piano melancólico tocado em uma casa prestes a ser vendida. Cena após cena, a irritação começa a dar espaço à admiração. Em especial, a cena em que Anders senta sozinho num café e passa a prestar atenção quase involuntariamente nas conversas das mesas ao redor. Identifiquei-me com esta cena. Anders (Anders Danielsen Lie) é meio assim, parece que mesmo sem querer, nada lhe escapa, tem uma audição panorâmica e um radar até meio paranoico, tipo, que nota quando alguém lhe observa ou comenta algo sobre ele. Começo a tentar entender Anders e a me identificar com ele, e não é difícil para ninguém se identificar com um perdedor com QI alto habitante de um país nórdico. Ah, a bela sonoridade das línguas escandinavas! Para desfrutar de Oslo, 31 de agosto, basta isso: baixar a guarda. Entregar-se ao filme e à arte cinematográfica como um suicida imola a alma.

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