Adolescente enviei uma carta à seção do leitor da Som Três. "Compro letras do The Cure." Incrivelmente recebi uma resposta de uma fã carioca do The Cure, e aquilo foi o começo de uma correspondência que resultou, entre outras coisas, em ser apresentado ao maravilhoso mundo dos fanzines.
Apaixonados por escrever, apaixonados por rock, jovens uniam as duas paixões em publicações underground, como o Wall of Sound e o Planet of Sound, que circulavam artesanalmente país afora.
Em uma série de posts que começa hoje, vou resgatar os textos que escrevi para esses fanzines.
Neles, os leitores deste blog conhecerão mais uma faceta minha.
O Henrique Guerra fã de rock alternativo, talvez alternativo até demais. De algumas dessas bandas vocês talvez jamais ouviram falar.
Entre no YouTube, pesquise e se delicie com essas imortais bandas do final dos 80, começo dos 90.
THROWING MUSES
No ano passado, benfazejas correntes oceânicas
trouxeram à nossa costa
um peixe jamais
visto no meio
tupiniquim. Quem tomava contato
com a referida criatura ficava
literalmente atônito pela
expressão de paranoica angústia em seu olhar e,
principalmente, pela incrível e contagiante energia que
fluía de sua bizarra tez.
As
'correntes
oceânicas’ de que falo
são o Es
túdio Eldorado e o selo
Stilleto, por lançarem a coletânea da 4AD
"LONELY IS AN EYESORE" , e o
peixe
é ele próprio: “FISH”, a estraçalhante faixa do THROWING MUSES, de cuja letra
foi extraído
o título da coletânea.
Metáforas
infames à parte,
e com o lançamento de “HUNKPAPA”, seu ·mais recente trabalho, virá bem
a calhar
uma rápida conversa sobre esta brilhante banda.
Foi formada
em Boston por Kristin Hersh,
uma loira já mamãe, responsável pela maioria das composições, o peculiar vocal principal e uma das guitarras; Tanya Donelly,
também loira, guitarrista, vocalista
e compositora; a mulata afro-americana
Leslie Langston, que
manuseia sua bass guitar de maneira exemplar; e, por fim, David
Narcizo, um algo
mais que competente baterista, cuja experiência
na "cozinha" vem da adolescência – quando
era auxiliar numa padaria.
Estrearam em disco
em 86 e, desde então, vêm construindo uma sólida
carreira, sempre calcada
em um rock básico, de sonoridade simples, porém vibrante, costurada por letras carregadas das múltiplas
neuroses da nossa época.
Seguindo
o primeiro LP, homônimo, o THROWING MUSES lançou: CHAIN CHANGED
(EP - 1987), THE FAT SKIER (EP -1987),
HOUSE TORNADO (1988)
e HUNKPAPA (1989).
Levando o nome da divisão dos Índios Sioux liderada por Touro Sentado, “HUNKPAPA"
tem algumas canções dispensáveis, como
"TAKE",
mas que não comprometem a força
do conjunto. Os destaques vão para a desconcertante "BEA", a batida cativante de "I’M ALIVE” e a alucinada
"MANIA".
Sobre esta
última, fico a imaginar o que
o
sábio chefe indígena
faria ao ouvi-la. Uma coisa é certa: sentado,
ele não ficaria.
Henrique Guerra
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