domingo, agosto 19, 2018

Dirkie - Perdido no deserto

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Imagine um filme angustiante.

Agora, eleve a sensação de angústia à décima potência.

Assim, terá uma ideia da experiência de assistir a Dirkie: Lost in the Desert.

Estou numa fase de minha vida de resgate.

E um dos resgates é este: filmes que marcaram a minha infância.

O tempo em que eu ia, sozinho, ao Cine Brasília, o cinema de rua de minha cidade natal, Carazinho, para assistir ao filme em cartaz nas matinés dos sábados. 

Não importava o título, importava o hábito.



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Religiosamente aquele menino franzino comprava o seu ingresso e procurava um lugar estratégico, com uma criança baixa na frente, ou um lugar vazio.

Muitas vezes eu tinha que trocar de lugar, pois algum retardatário corpulento chegava e se abancava bem na minha frente.

Mas esse problema era de fácil solução.



Bem diferente da situação vivida pelo menino Dirkie DeVries (Wynand Uys, filho do diretor Jamie Uys), de 8 anos.

O garoto sul-africano sofre de asma, e o pai dele, o pianista Anton DeVries (Jamie Uys, acumulando funções) (sim, o sobrenome certo é Uys, apesar de na época o filme ter sido lançado com o crédito de "Hays"), resolve enviá-lo para uma temporada em outra cidade. A mudança de ares fará bem à saúde do garoto, que põe na mala o remédio para asma, um despertador que toca sempre que ele precisa tomá-lo. O menino vai levar junto em sua jornada o cãozinho da raça Cairn terrier.

Para a empreitada, o pai de Dirkie contrata os serviços de Tio Pete (Pieter Hauptfleisch), piloto de monomotor que gosta de caçar e chama Anton de "sissy" (maricas), por não apreciar o extermínio dos animais da fauna local.

O roteiro é veloz e furioso, e demora muito pouco para que o avião precise fazer um pouso forçado em pleno Deserto do Kalahari. Analise o trailer a seguir para ter uma noção:



"Mayday, crash landing" é a última frase do Tio Pete, que sofreu um ataque cardíaco, motivo da queda.

A partir daí, o garoto Dirkie e seu inseparável cãozinho serão submetidos a aflições, privações e provações contínuas em sua implacável luta pela sobrevivência.

O sol inclemente, a falta de água e alimento, a convivência com hienas, elefantes, cobras, escorpiões são apenas alguns dos perigos enfrentados pelos dois indefesos amigos. 

Buscas são empreendidas com a ajuda de helicópteros, mas o tempo vai passando, e as pessoas ao redor de Anton aconselham o pai do garoto a dá-lo como morto e esquecê-lo.

De todas as imagens que ficaram no meu cérebro, sem dúvida a mais angustiante é a do menino caminhando sem rumo no meio do deserto, cenas que se repetem ao longo do filme, nas mais variadas circunstâncias, e após um sem-número de aventuras.

Apesar da forte improbabilidade de que alguém queira assistir a este filme, não vou cometer spoilers e contar mais do que já contei.

Consegui esta preciosidade num site britânico de filmes raros.

O filme é de 1969/1970, mas deve ter passado no circuito comercial brasileiro uns dez anos depois disso, quando eu tive a oportunidade de assisti-lo aquela única vez, e a força e a simplicidade daquelas imagens ficaram gravadas no meu cérebro e ajudaram a forjar a minha "resiliência" cinéfila, a capacidade de suportar até as cenas mais angustiantes e apreciar o que o filme oferece de melhor. 


Segundo Jacob Knight, este filme deveria ser intitulado Trauma Infantil: o Filme.

Já o blog Planet Nerd, ao resenhar este filme que passou num ciclo intitulado "Fucked Up Kid's Movies" classifica Dirkie como o mais sádico "filme infantil" já imaginado.

Curiosidades sobre os bastidores de Dirkie podem ser encontradas neste post do site do Ensovoort, periódico de estudos culturais da África do Sul. A referida página traz, além dessas curiosidades, uma minuciosa análise da filmografia de Jamie Uys escrita pelo especialista Jan-Ad Stemmet.

Em tempo: o cineasta Jamie Uys tem no currículo outro grande sucesso mundial: Os deuses devem estar loucos, comédia premiada no circuito de festivais internacionais.

Ex-professor de matemática, iniciou-se no cinema realizando documentários, entre os quais o aclamado Beautiful People, sobre a fauna e a flora africanas.

Uma palhinha do filme na versão brasileira:





3 comentários:

  1. Assisti no início de 70 na minha cidade. M8nha lembrança igual a sua!

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  2. Nunca esqueci a cena no deserto..

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  3. Eu tinha 6 anos (1970) quando minha avó me levou a um cinema em Varginha, numa viagem de Natal na casa de amigos dela. E a imagem que nunca esqueço até hoje, de escorpiões e da serpente que espirrava um veneno nos olhos, acho que do garoto. (Ou do cachorro)

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