sexta-feira, junho 24, 2022

Tributo a Peter Bogdanovich: Na mira da morte e A última sessão de cinema

 A obra "Afinal, quem faz os filmes?" (Who The Devil Made It) focaliza essa figura um tanto desconhecida do "grande público", o diretor de cinema.



INTRO

Sendo filho de uma cinéfila que amava filmes de Ingmar Bergman e Woody Allen, foi algo natural para mim desde cedo começar a escolher filmes pelo diretor.

Após Peter Bogdanovich, o autor do livro citado e também ele próprio um cineasta de carreira respeitável, falecer em janeiro de 2022, estive na Zílvia Locadora em Passo Fundo (sim, estamos em junho de 2022, e a locadora permanece aberta) e aluguei dois filmes dele que ainda não tinha visto.

Targets, sua estreia como diretor, em que Peter também atua como ator, e A última sessão de cinema, talvez o ápice de sua carreira como diretor.


NA MIRA DA MORTE

Targets (Na mira da morte, 1968) é um filme assustador pelo retrato que faz de um franco-atirador, esta figura um tanto enigmática da ficção, e infelizmente, da realidade também.

A história deste filme é interessante. O lendário Boris Karloff devia dois dias de trabalho para o produtor e diretor Roger Corman, que escalou Peter para dirigir e escrever o roteiro, que teve Karloff como o herói que no final é um dos alvos do atirador.



Segundo Quentin Tarantino, Na mira da morte não é um thriller com um comentário social embutido, mas um comentário social com um thriller embutido. Espécie de precursor de Pânico na multidão, continua sendo até hoje um libelo a favor do controle de vendas de armas e munições nos EUA. 

Além disso, o diretor que estreou com Cães de aluguel declarou também que Targets é um dos mais poderosos filmes de 1968 e uma das maiores estreias como diretor de todos os tempos. 

Duas sequências são aterradoras: quando o psicopata surta e sobe em um tanque à margem de uma rodovia e começa a atirar a esmo, abatendo as pessoas como se fossem gado. E a parte final em que o mesmo perturbado personagem invade um cinema drive-in, instala-se atrás da grande tela e começa um novo frenesi assasino, só interrompido por...


A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA

Do ponto de vista artístico, A última sessão de cinema (1971) é o mais admirável trabalho de Peter Bogdanovich como diretor.



É a clássica história de "coming-of-age" de uma heterogênea turminha numa cidade pequena dos EUA. O livro homônimo de Larry McMurtry foi a base do roteiro.

Com atuações magistrais de Timotty Bottoms, Ellen Burstyn, Jeff Bridges e, é claro, Cybill Shepherd, o filme foi rodado em preto e branco, e passa uma melancolia e uma desilusão que muitos filmes de hoje tentam passar, mas não conseguem.




Mas passa também sensualidade, um ar de mistério e os laços que se formam entre verdadeiros amigos.

Segundo Sérgio Vaz, titular do site "+50 anos de filmes":

 Nós todos envelhecemos – mas A Última Sessão de Cinema não envelheceu um dia. Não perdeu nada do seu brilho, não ficou datado, desfocado. Porque é um clássico, em vários dos sentidos da palavra. É modelar, exemplar. É também consagrado, teve seu valor posto à prova e resistiu à passagem do tempo. Mas, sobretudo, é sóbrio, sem excessos, sem modismos. Clássico.

A tristeza explode nas telas quando o cine Royal da pequena cidade vai fechar. A última sessão é um filme de Howard Hawks, Rio vermelho, com John Wayne. As personagens principais do filme comparecem à sessão e aceitam a vida como ela é: os cinemas têm de fechar quando o público migra para outras plataformas de entretenimento, ou simplesmente migra. No caso, os poucos habitantes da cidade preferem ficar em caso assistindo à televisão (a ação se passa no começo da década de 1950).

Só quem mora em cidade pequena e viu o cinema da cidade ser obrigado a fechar as portas sabe das sensações de perda e impotência envolvidas no processo. Mas é inexorável. O cinema fecha.

Na pacata cidadezinha de Anarene, segue o ímpeto irrefreável de peças pregadas pelo destino: temos a ironia de Jacy (Cybill Shepherd) que apesar da beleza (ou talvez por causa dela) tenta, tenta, mas não consegue a tão ansiada perda da virgindade, e o desalento de Duane, que em seu embarque para a guerra da Coreia pede para o amigo Sonny cuidar do seu carro. 

Para culminar, o mascote da cidade, o incompreendido, mas encantador Billy (Sam Bottoms), o garoto que inutilmente varre as ruas em meio às tempestades de areia, vai protagonizar uma das sequências mais tocantes do filme e do cinema. 


CONCLUSÃO

O diretor Peter Bogdanovich (1939-2022) tem um currículo com outros bons filmes, como Esta pequena é uma parada (1972), Daisy Miller (1974), Marcas do destino (1985), Um sonho, dois amores (1993), etc. mas se você assistir a estes dois terá assistido dois de seus filmes mais significativos.









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