sábado, março 04, 2023

O espantalho


 O bom de ser cinéfilo é que sempre acabamos descobrindo que não "entendemos nada" de cinema.

Pois é exatamente assim que o cidadão se sente ao assistir O espantalho (1973).

Esse filme não tem nada de extraordinário.

Uma história banal de dois amigos, um movie road de melancolia e sonhos que sabemos ser meros sonhos...

Mas quando o filme acaba você pensa: seu bobinho, você se achava um entendido sobre cinema e não tinha visto ainda O espantalho.

Seu paspalho!

Onde é que esse filme esteve todos esses anos?

Na estante da Zílvia Locadora, à tua espera.

Antes tarde do que nunca, parafraseando o nome da banda de rock carazinhense.

Gene Hackman e Al Pacino são os amigos que nos levam nessa jornada. 

Hackman declarou que sua melhor atuação na carreira foi esta.

Nesta entrevista do site Film Comment, o cineasta Jerry Schatzberg compara o modo de atuação dos dois, Al Pacino mais imersivo, Hackman construindo no andar da carruagem e apenas diante das câmeras... 

Schatzberg, que antes de ser cineasta tinha uma carreira sedimentada como fotógrafo, foi o responsável por escolher um ator de teatro que depois ganharia Oscar de Melhor Ator em 1993 por Perfume de Mulher.

Al Pacino estreou no cinema em Os viciados (Panic in Needle Park, 1971), também de Schatzberg.



Segundo Roger Ebert, e segundo Henrique Guerra também, o filme nos leva a fazer uma associação com outro clássico com dois atores, um alto e um baixo: em Perdidos na noite, os dois amigos são Joe Buck (Jon Voight) e Enrico Rizzo (Dustin Hoffman). A associação é meio óbvia pelo jeito. Eu pensei, o Ebert pensou, e o site Artifice fez um paralelo entre os dois filmes. Outra associação que Ebert fez foi com Ratos e homens, o livro clássico de John Steinbeck, cuja dupla de personagens principais era Lennie Small e George Milton. Ratos e homens teve várias adaptações ao cinema, mas esse é assunto para outro post.

Os personagens de Schatzberg são Francis Lionel (Al Pacino) e Max Millan (Gene Hackman). Os dois formam uma amizade em que Francis é o palhaço, o brincalhão, e Max é o sisudo, brigão. Max não perde uma oportunidade de entrar numa briga, e por isso, sempre está se metendo em confusão. Em países como os EUA, isso equivale a dizer que Max é um assíduo visitante das casas de correção penal.

Recém-saído da cadeia, conhece Francis à beira de uma rodovia californiana, ambos tentando pegar carona. O objetivo de Francis é chegar a Detroit para conhecer o filho ou filha que deixou para trás. O objetivo de Max é chegar a Pittsburgh para abrir um lava-carros.

No caminho visitam a irmã de Max, e participam de algumas situações que levam a amizade deles a se reestruturar.



Tudo culmina na sequência em que Francis, já tendo sofrido poucas e boas recentemente,
procura a casa da mãe de seu filho. A partir daí temos a sequência que torna o filme um cult.

Contar aqui seria injusto com quem está curioso para ver.

Acredite, você se tornará um cinéfilo melhor.

Para os interessados, a filmografia de Jerry Schatzberg pode ser conferida no site do Festival de Cannes, nesta página.

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