segunda-feira, agosto 22, 2011

Melancolia


Sim, as cenas impressionam pela plasticidade e a força estética. Sim, Dunst, a melancólica noiva, mereceu a Palma de Ouro. Sim, Rampling, a ácida mãe da noiva, quase rouba a cena. Sim, completam o elenco ninguém menos que Charlotte Gainsbourg, a lacônica irmã da noiva, Kiefer Sutherland, o gélido cunhado da noiva, e John Hurt, o pândego pai da noiva. Sim, Melancolia é um convincente estudo da depressão e sim, Melancolia é um banquete para olhos e ouvidos. E por último, mas não menos importante: sim, um diretor que coloca no mesmo filme Charlotte Rampling e Kirsten Dunst merece respeito. No mínimo, o cara entende de mulher.
Mas o que Lars von Trier entende de sex appeal, demonstra desconhecer de astronomia.
Nunca num filme tão pretensioso tantas aberrações astronômicas são apresentadas ao incauto espectador. Antares, a estrela alfa da constelação de Escorpião, uma das 88 constelações da Via Láctea, desaparece do céu. Como se isso não bastasse, o planeta Melancolia, de massa bem superior à da Terra, invade o Sistema Solar, se aproxima da Terra, começa a se afastar dela, e depois volta a se aproximar!
Tá, tudo bem que o filme é pra ser um misto de drama com ficção científica. Na óptica de von Trier, o espectador é convidado a esquecer tudo o que Newton ensinou (a velha e boa lei da gravidade). Involucra essas liberdades científicas num belo mosaico de imagens, e vamos em frente. Verossimilhança é uma palavra em desuso. E pra que verossimilhança, se Melancolia retrata a podridão e a doença com uma beleza impensada?

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