Vencedor da competição internacional do Fantaspoa.
O título do filme remete às cores estadunidenses (um dos protagonistas nas cenas finais usa uma camisa com a bandeira dos EUA costurada às costas). Também nos permite fazer um remoto intertexto com a trilogia do polonês Krzysztof Kieslowski (Três cores: azul, branco e vermelho), mas a evocação é artificial e inadequada. O diretor britânico Simon Rumley cai na tentação do apelativo.
O cenário é Austin, Texas.
A estrutura é meio tragédia em três atos. O primeiro ato aborda a rotina devassa de Erica (Amanda Fuller), moça que sempre anda com as pernas de fora e transa a torto e a direito com desconhecidos sem usar preservativos. Essa primeira parte também mostra o carinho que o calado Nate (Noah Taylor) cultiva por Erica - os dois habitam a mesma pensão. A princípio, ela o despreza, mas depois aceita a ajuda dele para conseguir um novo emprego.
No segundo ato dessa tragédia anunciada, o protagonista é Franki (Mark Senter), guitarrista de uma banda de rock. O espectador mais atento vai lembrar que ele aparece no comecinho do filme - é um dos caras que aproveita a política de "amor livre" de Erica. Aqui o roteiro focaliza a vida de Franki: a banda de garagem cujo cd alcança a marca de mil cds vendidos, a mãe que luta contra o câncer, a namoradinha que depois de uma aventura volta com o rabo entre as pernas. Até aqui o filme demonstra qualidades tanto na edição quanto na direção. E continua mostrando, só que a serviço do sensacionalismo e da exploração da imagem de uma criança.
Não vou entrar em detalhes sobre o terceiro e último ato. Apenas mencionar que a tônica será de vingança e contravingança. E dizer que gostaria muito de elogiar a direção contida de Simon Rumley, sua competência no estudo das tomadas, sua interessante premissa de montagem. Mas, como eu já disse, uma sequência jogou toda essa habilidade na vala comum do - atualmente em voga - uso de crianças em filmes ditos "extremos". Não há explicação nem justificativa para inserir uma criança inocente no meio desse bacanal de tortura.
Em outras palavras, a coisa estava indo bem até uma altura, mas de repente o filme perdeu a credibilidade comigo, pois, de modo gratuito e injustificável, incluiu (como está se tornando habitual entre diretores que pretendem "chocar" a plateia) uma criança no meio.
Sinceramente, sou do tempo em que se respeitavam certos códigos, até mesmo nos gêneros "fantástico", "horror" e "terror". De uns tempos para cá, porém, filmes com pretensas aspirações artísticas mostram sem pudor crianças sendo torturadas física e mentalmente. Estamos na era do vale tudo. E o que antes era considerado de mau gosto, hoje é sinônimo de "coragem" e "ousadia" dos realizadores e motivo de premiação.
Numa análise fria, Vermelho, branco & azul tem qualidades em seu processo artesanal que o credenciam a vencer festivais e ser incensado como cult. O personagem interpretado por Noah Taylor, o mais bem construído do filme, pode ser alvo de muitos debates. Sem dúvida, o diretor Simon Rumley não é nenhum iniciante. Tem no currículo filmes merecedores de atenção (por exemplo, o premiado, cultuado e incensado Distúrbio fatal). Talvez o objetivo de Rumley tenha sido mostrar que um torturador não tem limites. Por sinal, "terror sem limites" é o subtítulo de outro filme que se utiliza de crianças para chocar a plateia.
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