sábado, novembro 08, 2008

REM in POA: Living well is the best revenge


A quinta-feira dia 6 de novembro amanheceu nublada em Porto Alegre. Em alguns pontos da cidade uma fina cerração dava lugar a uma chuva tímida. Tudo levava a crer que poderia chover e estragar as condições do gramado. Mas, para a felicidade geral da nação roqueira, o tempo clareou, e quinze mil felizardos presenciaram o show do R.E.M. no campo do Zequinha (Esporte Clube São José, fundado em 1913 e considerado o time "mais simpático" do RS).

Os colorados torciam para o seu time, que naquela mesma hora enfrentava o Boca Juniors da Argentina pela Copa Sul-Americana. Os gremistas secavam o Inter. Mas todos sem exceção esperavam ansiosos os primeiros acordes da guitarra de Peter Buck, do baixo de Mike Mills e das abençoadas cordas vocais de Michael Stipe.

Abre parênteses. O que faz do R.E.M. uma banda tão apreciada pelos fãs e até mesmo pelos não-fãs, o 'público em geral'? Talvez eles estejam para o rock como o Zequinha está para o futebol gaúcho, ou seja, uma banda que mesmo sem querer agrada a gregos e a troianos, ou pelo menos não desagrada. E volta e meia emplacam hits inesquecíveis e quase unânimes, como é o caso de Imitation of Life e Losing (e não 
"Loosing", como saiu no Correio do Povo!) My Religion, para citar apenas dois exemplos. Fecha parênteses.

Bem, o fato é que às 20 horas e trinta, lá estava eu em companhia da mãe de meu filho de treze meses (que ficou aos cuidados da supervovó) na quilométrica fila para entrar no estádio. Fomos de táxi, por isso aproveitamos para comprar cervejas. 473 ml para cada um depois, adentrávamos no modesto mas (novamente) simpático estádio do Zequinha, que certamente depois deste show tornar-se-á um dos locais do circuito rock porto-alegrense. Tudo preparado, o show de abertura começa, com o Nenhum de nós tocando, entre outras, Camila e Paz e amor. In the meantime, começa o jogo do Inter na Bombonera. O vocalista do Nenhum de nós declara que o R.E.M. é a banda predileta deles. Entonces, com a platéia devidamente aquecida, eles saem e os roadies desmontam a bateria da banda gaúcha.

Como vai ser o show? Qual será o setlist? Melhor que o do Rock in Rio 3, em 2001? Repleto de hits, um show pop? Ou mais direcionado aos fãs de carteirinha, que conhecem as músicas mais obscuras? Ou um meio-termo? Em que situação eu me enquadraria, by the way? Tenho todos os álbuns da banda, mas confesso que escutei pouco alguns deles. Por outro lado, domino bem alguns discos relativamente desconhecidos, como Life's Rich Pageant, de 1986 (o nome desse disco é uma expressão idiomática; 'be part of life's rich pageant/tapestry'; difficult experiences are part of our lives' rich tapestry). Mas felizmente nossa vida é feita de retalhos bons também. Como, por exemplo, ficar imaginando quais canções serão escolhidas de um fantástico repertório.


Living Well is the Best Revenge, a faixa de abertura do recente Accelerate (2008), é a escolhida para iniciar os trabalhos. Depois vieram duas que eu não conhecia, que depois fiquei sabendo serem do álbum Monster, muito admirado por uns mas que ainda precisa me conquistar. Enquanto lá na Bombonera o Inter segurava o empate de 0 x 0 no primeiro tempo, no campo do Zequinha a banda norte-americana de Athens, Geórgia, emendava uma canção após a outra, com extrema competência, mas nem sempre com o domínio pelo público do material apresentado. Parecia que a platéia esperava ouvir uma das mais 'conhecidas'. Foi então que a banda disparou a clássica Drive, a faixa um de Automatic for the People (1992). Com sua atmosfera psicodélica e sua cadência hipnotizante, a canção serviu para aproximar mais o público e engrenar um show até ali um pouco frio. Ao mesmo tempo, na Bombonera, o Inter abriu o placar no começo do segundo tempo. Metade do público do show vibrou e entoou "Vamo, vamo, Inter". A outra metade desdenhou e torceu para o Boca empatar, o que aconteceu dez minutos depois.

No palco, a banda continuava a tecer sua colcha de retalhos, alguns um tanto inesperados mas muito bem-vindos (como o caso de Walk Unafraid, jóia incrustada no álbum Up, de 1998). Enquanto isso, o colorado caminhava sem medo rumo à vitória em plenas plagas argentinas. Depois de jogada de D'Alessandro, Alex marcou o segundo gol gaúcho, para desespero dos gremistas. O R.E.M., por sua vez, marçou um golaço ao tocar Imitation of Life (de Reveal, 2001) . O público animou-se e entoou com ardor o refrão da canção: That's sugarcane, that tasted good /That's cinnamon that's hollywood/ C'mon c'mon no one can see you try... Do álbum novo, mais duas: Man-Sized Wreath e, mais tarde, Horse to Water. Os destaques da primeira fase do show, foram, sem dúvida, além da já mencionada Imitation of Life, The One I Love (do LP Document, de 1987) e It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine), também do Document.

Então a banda retirou-se do palco (lá na Bombonera, o Inter retirava-se do gramado, após o apito final: Boca 1 x 2 Inter). No telão, Stipe brincou com o público mostrando recadinhos manuscritos de "Mais R.E.M.?", "não estou esutando (sic) vocês". Com Mike Mills envergando a canarinho, o bis começou com a esperada Supernatural Superserious, uma das melhores do Accelerate. Então Peter Buck largou a guitarra e pegou a viola com que ele toca um dos clássicos imortais da banda: Losing My Religion, de Out of Time (1991). Depois disso, parecia que nada poderia dar continuidade, era a apoteose consumada. Mas eis que a banda guardava mais surpresas. Uma delas foi fazer subir ao palco a placa "We are Obama too", erguida pelos fãs-porto-alegrenses. Stipe aproveitou a deixa e fez o link com a música seguinte, uma preciosidade pinçada de Life's Rich Pageant: Cuyahoga. A canção fala sobre salvar o Rio Cuyahoga e construir um novo país (ver letra abaixo). Nessa parte do show senti-me um pouco estranho, pois eram poucas as pessoas que como eu cantavam o refrão "Cuyahoga". Depois deste momento inusitado, o que ainda restaria? Duas canções belíssimas do Automatic for the People: Everybody Hurts e, para encerrar uma noite perfeita, Man on the Moon.

Mais fotos e comentários sobre este memorável show, ver
http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp de onde foi retirada a primeira foto (de Omar Jr.) que ilustra este post. A foto do jogo Inter x Boca é do site http://www.scinternacional.net/.

P.S. Escrevi um texto sobre o R.E.M. no zine Wall of Sound. Pode ser lido aqui.







Foto: Rio Cuyahoga no inverno (http://usparks.about.com/od/parkphotographs/ig/cuyahogaphotos)

CUYAHOGA (Berry/Buck/Mills/Stipe)
Let's put our heads together and start a new country up
Our father's father's father tried, erased the parts he didn't like
Let's try to fill it in, bank the quarry river, swim
We knee-skinned it you and me, we knee-skinned that river red
(chorus 1)
This is where we walked, this is where we swam
Take a picture here, take a souvenir
This land is the land of ours, this river runs red over it
We knee-skinned it you and me, we knee-skinned that river red
And we gathered up our friends, bank the quarry river, swim
We knee-skinned it you and me, underneath the river bed (repeat chorus 1)
(chorus 2)
Cuyahoga
Cuyahoga, gone
Let's put our heads together, start a new country up
Underneath the river bed we burned the river down
This is where they walked, swam, hunted, danced and sang
Take a picture here, take a souvenir
repeat chorus 2)
Rewrite the book and rule the pages, saving face, secured in faith
Bury, burn the waste behind you
This land is the land of ours, this river runs red over it
We are not your allies, we can not defend

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