terça-feira, outubro 12, 2010

Vincere

O experiente diretor Marco Bellocchio em Vincere (2010) nos conta a desesperadora história de Ida Dalser, amante de Benito Mussolini. Desde que Charlotte Rampling hipnotizou plateias em O porteiro da noite (The night porter, 1974), de Liliana Cavani, nunca se viu nas telas um amor tão doente. Se no filme de Cavani a esquisita e insondável Charlotte Rampling interpretava a mulher de um famoso maestro que reconhece no porteiro do hotel o nazista que a seviciou e numa inexplicável atração volta a se envolver com ele, agora a não menos esquisita e insondável Giovanna Mezzogiorno encarna um tipo diferente e mais comum de doença: Ida Dalser ama Benito Mussolini, que não ama Ida Dalser. Relação em que ela se entrega de corpo e alma e ele apenas de corpo, para utilizar um linguajar clichê. Mas só quem já passou por isso sabe o quanto isso pode ser doentio. Enfim, o amor de Ida é tão forte e visceral que ela se considera a mulher legítima de Benito e engravida dele. Estamos em 1915. A criança é registrada com o nome do pai, e a partir daí a ascensão de Benito Mussolini como líder político afasta o foco do filme do "amor doentio" para "um estranho no ninho". Ou seja, Ida Dalser passa a assediar Mussolini e acaba numa instituição para doentes mentais. O filho é levado à força a um internato. E aí se desenvolve o drama de mãe e filho, obcecados pela figura de um ser carismático, mas maquiavélico.
Certas cenas deste filme são cinema puro, sem diálogos. Como a das explosões na rua, o povo corre para dentro da galeria, e da fumaça surge a anônima mãe empurrando calmamente um carro de bebê. Ou como a de Ida subindo na grade do hospício durante a nevasca e arremessando cartas ao léu. Destaque também para a atuação impressionante de Filippo Timi, primeiro como Benito pai, depois como Benito filho.

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