O primeiro CD da OSINCA é um belo cartão de visitas de quem logo diz a que veio. Da seleção à execução, dos arranjos aos vocais, as dez faixas do discretamente denominado “Nº 1” popularizam o clássico e elevam o pop a patamares etéreos.
Gravado com esmero na acústica perfeita da nave da
Igreja Nosso Senhor Bom Jesus, em Carazinho, o CD traz em cada celestial acorde
as marcas da gênese da OSINCA: acreditar, perseverar, realizar, transformar
sonhos em realidade.
Coloque o fone de ouvidos, feche os olhos.
Impossível não se arrepiar ao ouvir este CD.
A técnica refinada dos músicos é percebida, mas também
sua paixão.
O mais lindo de uma orquestra, afinal de contas, não é
a individualidade que aflora, mas a harmonia do conjunto, e a OSINCA nesse
quesito é imbatível. Os componentes se conhecem muito, ensaiam à exaustão, e
isso transparece no resultado.
Nada melhor que a força de um allegro de Mozart para abrir um CD cuja principal característica é
a energia, a mescla de ternura e ritmo, alegria e introspecção.
Eine Kleine
Nachtmusik de Mozart condensa tudo isso e abre os trabalhos de
modo impactante.
O contraste é estabelecido com a melodia calma e as
palavras sentidas de Lascia ch’io pianga,
da ópera Rinaldo de Händel, na voz da
soprano Cintia de los Santos. Como disse Edgar Allan Poe em seu ensaio O princípio poético: “Certa tonalidade de tristeza liga-se
inseparavelmente a todas as mais elevadas manifestações da verdadeira Beleza”.
Lascia ch'io pianga mia cruda sorte, e che sospiri la
libertà. Il duolo infranga queste ritorte de' miei martiri sol per pietà. Ou em tradução livre de quem pouco entende
italiano: Deixe
que eu chore/Minha má sorte/E que eu suspire/Por liberdade!/Que a dor estoure/Grilhões
e corte/O meu martírio.../Por piedade! Aqui,
a orquestra humildemente se põe a serviço das sublimes cordas
vocais da soprano, num dos pontos altos do CD.
A terceira faixa é uma curiosidade, mas também uma
afirmação: somos de Carazinho, somos brasileiros. Mas temos sotaque! Somos
também gaúchos, da ponta mais austral desta república, falamos “tchê!” e
ouvimos música nativista, como este tradicional chamamé argentino. Não só ouvimos, como adaptamos para um arranjo
clássico. Sob esse prisma, a adaptação de Km 11,
por mais rápida e despretensiosa que seja, é também uma das mais significativas
do CD.
Quem brilha na faixa 4, Con te Partiró, de Francesco Sartori, é outra voz, a do tenor Luiz
Wiedthauper, na canção gravada por Andrea Boccelli em 1995. Num crescendo, a
música de Sartori prepara os ouvidos para Nella Fantasia, ápice orquestral de Ennio Morricone, da trilha sonora do filme A missão. A percussão dá um tom de
suspense à peça dominada pela harmonia dos vocais com os múltiplos instrumentos
da OSINCA.
Completa a homenagem ao cinema a faixa 6, o solo de
violino de A lista de Schindler, do
compositor contemporâneo John Williams, num momento de melancolia
que serve de interlúdio para o retorno às árias. A faixa 7, Ombra mai fu, da ópera Xerxes, de Händel, enaltece a
incomparável sombra de um plátano. Um tema prosaico é o mote para esta que se
tornou uma das mais famosas árias händelianas.
A mistura de pop com clássico da OSINCA chega ao auge
na faixa 8, talvez a mais emblemática do CD. O maestro Fernando Cordella compôs
o arranjo para o sucesso do Alphaville, Forever Young, para sua bem afinada orquestra acompanhar o inspirado dueto de
soprano e tenor.
O CD está chegando ao fim. É hora de um allegretto de Beethoven para educar os
ouvidos e preparar o grand finale da
faixa 10: Aleluia de Händel.
Por sinal, não é à toa que o compositor barroco, com 3
peças, constrói a “coluna vertebral” do CD: a música de Händel, embora ligada a
um “movimento”, é cosmopolita e popular, até mesmo pela trajetória do
compositor alemão, naturalizado britânico.
Tanto melhor: são nessas faixas barrocas que o ouvinte
tem a oportunidade de captar todas as sutis e delicadas sonoridades do cravo,
instrumento em que Fernando Cordella é especialista.
Os 44 minutos do No. 1 passam voando e são uma
excelente pedida para relaxar numa chuvosa tarde de sábado ou como trilha
sonora de um glorioso amanhecer na rodovia.
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