quarta-feira, setembro 12, 2018

O Babadook

O segundo filme de Jennifer Kent, The Nightingale (2018), acaba de receber dois prêmios no Festival de Veneza: o Special Jury Prize e o Marcello Mastroianni Award for Young Performer (pela atuação do jovem Baykali Ganambarr). Durante uma das sessões, um jornalista insultou a diretora.

Mas o assunto deste texto é o primeiro filme da australiana que aprendeu com Lars von Trier a importância de ser teimosa: The Babadook (2014).


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Reza a lenda que, após desiludir-se com a carreira de atriz, Jennifer Kent ofereceu-se para participar do staff do diretor dinamarquês nas filmagens de Dogville, e conquistou o cargo de assistente do diretor. Reza a lenda que o principal aprendizado de Jennifer no estágio foi a importância da teimosia.

E depois de muita persistência, conseguiu realizar o primeiro longa-metragem, inspirado num curta de sua autoria. The Babadook, produzido pela Causeway Films, foi divulgado em mais de 70 festivais e aclamado em muitos deles, como Sitges e Sundance.

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Com um elenco mínimo e cenários intimistas (nada a ver com o estereótipo dos filmes australianos), Jennifer Kent faz o espectador se embrenhar na assustadora história de Samuel (Noah Wiseman), menino de 6 anos que carrega consigo a culpa de ter nascido no dia da morte do pai, falecido enquanto levava a esposa à maternidade.

A mãe de Samuel, Amelia (Essie Davis), isolou-se no luto pela perda do marido, concentrando-se na rotina diária de criar o filho e trabalhar na casa geriátrica, praticamente sem vida social, e uma vida sexual (?) típica de uma pessoa solitária.

O cachorrinho de Samuel, a vizinha Gracie Roach (Barbara West), simpática anciã que às vezes cuida do garoto, a irmã de Amelia, a priminha de Samuel, o colega de Amelia na casa geriátrica e Oscar Vanek, o pai de Samuel que morreu há 6 anos e cujos pertences são guardados no porão da casa, completam o quadro de personagens deste horror gótico.

O roteiro é muito bem construído e na parte inicial apresenta Amelia como uma mãe dedicada e abnegada, que abriu mão da vida pessoal em prol de criar o filho. Apesar dos esforços da mãe, o menino Samuel, por sua vez, é problemático, obcecado em armas e violento na escola e na interação com outras crianças.

Amelia enfrenta a situação com estoicismo até que o filho começa a enxergar uma criatura chamada Babadook, personagem de um livro que surge misteriosamente em meio aos demais.

A história progride até em torno da metade do filme como um drama sobre perda, dificuldades para criar os filhos, medos inerentes à infância, etc.

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Daí em diante há uma reviravolta de tom e o foco no menino dá espaço para o foco na mãe. O filme de Jennifer Kent se torna um terror hardcore, daqueles de "scare the shit out of" até do mais corajoso espectador.

O forte de O Babadook é explorar ao máximo o tênue limite entre o que é delírio e o que é sobrenatural. À medida que a transformação de Amelia vai se consolidando, a fragilidade da situação de Samuel se escancara, e caberá ao espectador avaliar quem são os verdadeiros monstros da história.

Ridiculamente o filme não foi lançado nos cinemas e inexiste no Brasil em dvd e Blu-ray. Para ter acesso a algumas preciosidades assim, a alternativa do cinéfilo relutante é engolir em seco e aceitar as limitações patéticas dos serviços de streaming


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