quarta-feira, fevereiro 10, 2021

Mank


 Com roteiro de seu pai, Jack, o cineasta David Fincher, em produção da Netflix, realiza um ambicioso exercício de metalinguagem que delineia a personalidade do roteirista Herman J. Mankiewicz e, paralelamente, aborda como o roteiro de Cidadão Kane foi composto.

E eis que o melhor de Mank é o roteiro mesmo.

A atuação de Gary Oldman como Mank é muito convincente, a direção funciona, os demais atores colaboram com boas participações. O roteiro ilumina alguns detalhes do fazer textual de Herman J. Mankiewicz, de seu problema com o álcool, de suas amizades e sua relação sólida, mas inusitada, com a esposa Sara. Mank é uma iniciativa ousada que resultou num filme de boa qualidade, isso é indiscutível.

É o suprassumo do cinema falando sobre ele mesmo, mas esse é também o seu principal problema: uma história que só vai interessar pessoas que se interessam por cinema...

E quem conhece as referências vai se divertir mais e aproveitar mais a experiência.





O filme aborda en passant a discussão ética sobre o crédito do roteiro de Cidadão Kane. Orson Welles também foi creditado como corroteirista e levou um Oscar de Melhor Roteiro Original para casa.

Mank, o filme de David Fincher, mostra que Orson sugeriu mudanças e deixa a critério do espectador fazer o seu julgamento.

Mas dá a entender que uns 90% do trabalho são de autoria de Herman.

Em tempo: a estética da fotografia em preto & branco escolhida para contar a história de como o roteiro de Cidadão Kane foi composto é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que transmite uma sensação de anos 30 e 40, às vezes passa um ar de solenidade, uma preocupação demasiada em chamar a atenção para a fotografia em si, em detrimento da história.

Voltando ao ponto forte do filme, que é o roteiro de Jack Fincher.

O roteiro envolveu muita pesquisa e parece um misto de imaginação com fatos.

Um pouco hermético em sua construção em tomadas precedidas com os dizeres de um script, em uma citação quase icônica sobre a arte de fazer roteiros, uma homenagem aos artistas que passam a vida fazendo rubricas e diálogos em roteiros de filmes medianos.

O trabalho do roteirista Herman J. Mankiewicz, Mank para os mais íntimos, atingiu o ápice eCidadão Kane, filme que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro, dividido com Welles.

A propósito, o próximo Oscar 2021 só acontece em 25 de abril, mas já tem um injustiçado: Jack Fincher, falecido em 2003, incrível e inexplicavelmente, não foi indicado para Melhor Roteiro Original.



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