Franco Nero encarna Django, este improvável herói do Oeste dos EUA que simboliza o melhor do cinema de Sergio Corbucci. Na abertura do filme, um homem arrasta pesadamente um caixão em meio a terrenos áridos e lamacentos, ao som da canção de Luis Bacalov, entoada por Rocky Roberts.
Django (1966) é um faroeste spaghetti que se destaca dos demais pela originalidade das cenas e pelo modo como o personagem desenvolve a sua trajetória.
A grande sacada é o caixão que ele arrasta por onde vai, em cuja tampa consta uma cruz.
A curiosidade é despertada naturalmente por quem vê o esquife.
O que haverá lá dentro?
Um cadáver?
Ao ser indagado sobre isso após as escaramuças iniciais, recém-chegado a um saloon, o misterioso personagem responde que sim, há uma pessoa morta dentro do caixão.
E o nome dela é
Django.
Como um morto-vivo, um zumbi sem alma, este pistoleiro devassa esse território sem lei.
Sem alma e com lama.
A lama é a marca registrada deste filme de Sergio Corbucci, cineasta reverenciado por Tarantino no documentário Django & Django, prato cheio para cinéfilos e amantes de bangue-bangue, disponível no streaming.
Diga-se de passagem, Quentin Tarantino já havia escancarado essa admiração ao realizar o filme Django livre.
O documentário assinado por Luca Rea enaltece as qualidades pouco reconhecidas da obra de Corbucci, relegada a segundo plano quando comparada à de seu xará, Sergio Leone. Django & Django, por meio de entrevistas com Franco Nero, Ruggero Deodato e Tarantino, desperta a curiosidade do espectador para conferir a filmografia de Corbucci.
Foi isso que aconteceu comigo.
Encomendei na Zílvia Locadora filmes do diretor, e havia um punhado de seus filmes mais importantes, entre eles o seriíssimo Django e o engraçado Vamos a matar, companheiros (no título brasileiro, Pistoleiros da fronteira).
De quebra, o dvd de Django traz uma entrevista com Franco Nero. O ator casado com Vanessa Redgrave conta que foi escolhido por sua boa aparência. Os realizadores levaram fotos de três atores ao distribuidor, que escolheu a foto de Nero.
Na época, Franco Nero aspirava a se tornar um ator de filmes "sérios", era um ator com treinamento shakespeariano. Mas foi aconselhado por amigos, entre eles, o famoso cineasta Elio Petri, a aceitar o trabalho.
Nero também relata que as filmagens foram interrompidas porque o filme não tinha roteiro. Provavelmente as peripécias que envolvem o roubo do ouro no forte vieram desse esforço para dar alguma consistência à narrativa.
Mas o que permanece em Django é a personalidade misteriosa do herói, sua relação estranha com Maria (Loredana Nusciak), a magnetizante mulher que ele salva e depois desdenha.
Quem assiste aos extras do dvd?
Só um movie freak.
Essas histórias contadas por Franco Nero só causam deleite a quem tem o cinema nas veias, alguém que passou a infância indo às matinês de sábado em sua cidade natal, solitariamente em sua poltrona (?), assistindo a trashs e faroestes e filmes de qualquer gênero.
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