Segue a minha relação ambígua com o cinema de Robert Eggers.
Diferentemente de um Peter Weir, um David Lynch e um Darren Aronofsky, Eggers é um cineasta que mexe com meu intelecto, mas nem sempre consegue fazer o mesmo com minhas emoções.
Visualmente, Nosferatu é um triunfo.
Tem cenas que merecem ser emolduradas como clássicas do cinema gótico.
Depois do palhaço Pennywise em It, o sueco Bill Skarsgård segue sua senda de monstros encarnados.
A sorumbática protagonista lembra a imagem de uma Emily Dickinson, a poetisa da solidão e da angústia, misturada com o tormento interno das personagens arrebatadoras de uma Emily Brontë, autora de outro clássico da literatura fantástica (O morro dos ventos uivantes).
Outro porque Drácula de Bram Stoker está no livro O horror sobrenatural na literatura de ninguém menos que H. P. Lovecraft, e Drácula é o gatilho que levou Murnau a lançar o filme Nosferatu em 1922, película que depois foi condenada por quebra de direitos autorais. Na década de 70, também da Alemanha, veio o remake de Werner Herzog, com Klaus Kinski no papel principal.
Agora temos um filme mais americanizado, moderninho, com cenas que lembram cenas de possessão, devido ao domínio a distância que a criatura exerce sobre a heroína, que sofre transes e acessos oníricos.
O foco de Eggers é provocar o medo, mas sua obsessão com a estética às vezes perturba os seus objetivos. Entre criar uma imagem bonita e um efeito eficiente, parece que Eggers sempre escolha a primeira opção. Quando as duas coisas convergem o seu cinema funciona, e é bom frisar que isso acontece em 80% das cenas.
Meu problema é com esses 20% restantes, em que a plateia está em silêncio e eu caio na risada por achar um exagero, ou porque a cena não me convenceu. Em vez de pavor, a cena me insuflou perplexidade... Seriously?
Então, é isso, mas não vou cuspir no prato que me nutriu, e claro que vou continuar a acompanhar a interessante trajetória de Eggers, sem me empolgar, mas sem me privar desses momentos de "self-indulgement".
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