segunda-feira, maio 11, 2020

Jo-Jo Rabbit

Jojo Rabbit review: Taika Waititi laughs in the face of fascism ...

Hoje em dia há uma aparente falta de talento na indústria de cinema. Assim, qualquer cineasta com um mínimo de inspiração pode ser a "bola da vez", ganhar os holofotes e, de quebra, ser escalado para encabeçar o novo filme de uma velha e combalida franquia. Numa era sem heróis, a indústria se esforça para inventar alguns.

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O que Taika Waititi tem com isso? Nada. Ele apenas tem uma boa dose de imaginação e talento. O cineasta neozelandês segue à risca a cartilha de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa: "Ah, se ousares, ousa!". Os filmes de Waititi são agradáveis, abordam temas interessantes, são repletos de citações, provocam discussões, risos e talvez algumas lágrimas. Ninguém poderia exigir mais de um diretor hoje em dia.

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Acontece que Jo-Jo Rabbit ganhou nada mais nada menos que um Oscar de Melhor Roteiro. Estamos falando do ápice da qualidade textual em termos de cinema. Algo me diz que a honraria foi mais pela "temática" do que pelo roteiro em si, que tem várias partes desconjuntadas, e que, em muitos momentos, "it does not ring true".

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Não é preciso ser um gênio para perceber que esta é a resenha de alguém que estava com muita vontade de assistir ao filme, mas, ao pagar o "pay-per-view" em streaming, coisa que nunca fizera em sua carreira de cinéfilo, e assistir ao filme em sua casa, com a internet travando toda hora, decepcionou-se. 

Claro que eu teria apreciado mais a experiência em uma sala de cinema decente, mas é inegável que eu esperava mais deste filme. É o tipo do filme inferior ao trailer. Não estou dizendo que não vale a pena assistir a Jo-Jo Rabbit ou que o filme não merece a atenção que recebeu. Ele se destaca justamente porque vivemos numa era de mesmice, na qual um mínimo de originalidade e ousadia é suficiente para a tentativa de criar "the next big thing".

Scarlett Johansson e Taika Waititi no mais novo trailer de Jojo Rabbit

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A indústria do cinema parece em vias de falta de oxigenação. Já estava a perigo antes da pandemia, e agora o seu futuro é mais incerto ainda.

O cinema está em franca decadência em dois planos: na qualidade das produções e nas políticas de distribuição.

A arrogância de manter a política de ingressos caros, a burrice de inventar regras burras e de tirar a autonomia dos funcionários.

A mania de nivelar por baixo a inteligência do público e a obsessão por pasteurizar cineastas promissores.

Eu já vi este filme antes... Tantos diretores talentosos que "vendem a alma para Hollywood" e, após dirigirem filmes de franquias famosas, ficam mascarados e "perdem a mão". Acabam presos numa gaiola como coelhinhos e jamais voltam a ser os mesmos.

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É um círculo raramente virtuoso. Quando se é independente, reclama-se da falta de grana. Quando se tem grana, reclama-se da falta de liberdade artística. Vamos ver se Taika Waititi conseguirá o tão sonhado equilíbrio entre sucesso comercial e artístico, coisa que pouquíssimos diretores foram capazes de conseguir.


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