A máxima do Barão de Itararé, "De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo", não vale para este filme de baixo orçamento que rendeu três vezes o seu custo nas bilheterias e acabou se tornando um cult do terror.
Lewis Teague é o nome dele. Ninguém esperava muito deste filme, então um cara sem muita expressão foi escalado para dirigi-lo.
O moçoilo, que havia se preparado como diretor de segunda unidade de ninguém menos que Samuel Fuller no filme Agonia e glória e estreado com Alligator (1980), ao pegar o roteiro adaptado da obra de Stephen King nas mãos, murmurou consigo: "Eu não chamo Lewis Teague se este filme não fizer um baita sucesso".
Dito e feito.
A direção é extremamente bem elaborada, e obteve resultados sensacionais no trabalho com o protagonista, levando em conta que muitas das cenas em que Cujo aparece foram feitas com um cachorro de verdade. Hoje em dia jamais esse filme poderia ter sido feito, pois as Associações de Proteção aos Animais não teriam deixado. Afinal de contas, o belo são-bernardo que interpreta Cujo é submetido a uma horrenda maquiagem e atua com perfeição em todas as cenas.
Na direção das cenas dos ataques e do pavor das personagens, Lewis Teague também mandou bem. Ele inclusive bolou uma tomada clássica, dentro do carro, em que a câmera vai girando lentamente, ora focando a mãe que está com a coxa toda arrebentada pelas mandíbulas do cão raivoso, ora o filho dela, praticamente asfixiado de terror, e a câmera vai aos poucos acelerando, até chegar a um ritmo vertiginoso...
É mais ou menos assim que a história de Cujo se desenrola.
A situação impasse é algo só possível na mente de um demente Stephen King: um carro estragado, um cão raivoso, duas pessoas dentro do carro sem poder sair, nem pedir socorro.
As pessoas que não concebem a vida sem telefone celular deveriam assistir a este filme. A ação ocorre há poucas décadas, mas algumas inovações tecnológicas não existiam ainda. Telefonia, só de aparelhos fixos.
Mas no fundo Cujo mostra um modus vivendi pouco diferente do atual... O adultério é um subtema importante aqui, e Stephen King procura investigar se existe uma redenção possível nesses casos.
Na ocasião, o diretor Lewis Teague mal sabia que estava dando um passo importante para dois anos depois realizar seu filme de maior orçamento: Joia do Nilo (1985, cuja lucrativa bilheteria quadruplicou o orçamento), não sem antes fazer outro inspirado em Stephen King: Olhos de gato (dobrou o orçamento).
Não dá para entender por que cargas d'água esse diretor parou de ser aproveitado em Hollywood. Seus filmes sempre lucraram bem mais que o valor investido nas realizações, e ele demonstrou talento em seus projetos. Por algum motivo foi sendo colocado de lado pela indústria e, após a década de 80, só fez filmes para a televisão.
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