segunda-feira, julho 18, 2011
Stake Land
Stake Land foi o "final dish", nas palavras do simpático diretor Jim Mickle no colóquio com a plateia que lotava o Cinebancários. A terminologia é adequada, já que o filme revisita um tema que remete à fome, no caso, de sangue. Eterna fonte de cults como Fome de viver, Quando chega a escuridão e Deixa ela entrar e de abordagens mais populares como Drácula de Bram Stoker, A hora do espanto, Entrevista com o vampiro e Vampiros de John Carpenter, ultimamente o gênero andava carecendo de incursões sérias, que acrescentassem elementos à mitologia dos seres de caninos avantajados. Stake Land pode se orgulhar disso, ao entremear um clima de Red Dawn (Amanhecer violento), o apocalíptico filme de John Milius, à temática vampiresca. Talvez por isso o título Anoitecer violento que o filme ganhou no Fantaspoa. Diga-se de passagem, sem o dedicado trabalho de tradutores (tanto na legendagem quanto na tradução intercalada durante as sessões comentadas), o Festival não seria possível. O título desse filme é um exemplo de dificuldade tradutória. Com alta carga semântica, polissêmico, com um "pun" inteligente, Stake Land é o tipo do título que se costuma rotular de "intraduzível". Mas, como já dizia Paulo Rónai, se o poeta quer exprimir o inexprimível, não é surpreendente que o tradutor queira traduzir o intraduzível. Voltando à vaca fria, o diretor contou que a ideia inicial era fazer uma série para a web, com trinta episódios. O projeto estava pronto para ser realizado, mas o episódio piloto acabou se transformando nos primeiros dez minutos do filme. Elementos dos outros episódios foram reciclados e remoldados para caber no formato longa metragem. O roteiro traz ideias bem interessantes, como diversas espécies de vampiros diferentes, vide os berserkers, que não morrem com estacas no coração e sim na nuca, perfurando o cérebro reptiliano. O filme se concentra na saga de dois personagens, o jovem Martin (Connor Paolo), que perde a família num sanguinolento ataque dos vampiros, e Mister (Nick Damici, também roteirista), o tipo do cara ideal para se ter ao lado numa situação extrema: sangue frio, destemido, hábil com tudo que é tipo de arma e estudioso do comportamento transilvânico. Personagem importante também é Sister, uma religiosa que é salva pelos dois de um estupro. Surpresa: Sister é interpretada por ninguém menos que a sumida Kelly McGillis, que virou a cabeça de Tom Cruise em Top Gun - Ases indomáveis. Junto com Sister, Willie (Sean Nelson) e a grávida Belle (Danielle Harris), Mister e Martin tentam desesperadamente chegar à New Eden, um lugar pacífico e livre de vampiros. Nisso o filme lembra também Mad Max, em que os poucos humanos sobreviventes tentam chegar a um lugar melhor para se viver. Indagado sobre influências, o diretor assumiu apenas haver muita coisa de faroeste inserida na roupagem vampirífera. Antes da sessão, Jim Mickle disse que o objetivo maior do filme era fazer os vampiros parecerem "cool" again. O personagem Jebedia Loven (Michael Cerveris), o messiânico líder de uma seita, pode ser interpretado como crítica subjacente às seitas e pseudorreligiões que grassam no mundo. Jebedia talvez não seja exatamente "cool", mas o filme é.
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