sexta-feira, maio 10, 2019

Um homem de sorte




















Henrik Pontoppidan é um escritor dinamarquês vencedor do Prêmio Nobel da Literatura em 1917. Sua obra-prima, Lykke-Per, publicada entre 1898 e 1904, entrou em 2006 para o Cânone Cultural Dinamarquês.  A primeira tradução para o inglês, de Naomi Lebowitz, surgiu apenas em 2010.


Em 2018 foi lançada uma nova tradução, do irlandês Paul Larkin. Ele explica neste artigo por que todo mundo deveria ler o livro e também sua abordagem em relação à tradução literária. Uma resenha sobre a tradução compara a grandeza de Pontoppidan à de Tolstoy.




O renomado diretor Bille August é um dos dinossauros do cinema que souberam "dançar conforme a música" e procurar meios para continuar a produzir filmes valorosos. O dinamarquês antes de embarcar neste projeto realizou o filme A viúva chinesa, lançado em mandarim. Aqui no olhar cinéfilo, August marcou presença em 2013, na resenha sobre o filme Trem noturno para Lisboa.

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Da união de uma grande obra literária com um grande diretor, em geral, surgem grandes filmes.
Um homem de sorte é uma afortunada escolha para um cinéfilo zapeando no Netflix.

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Sob todos os prismas, como adaptação de uma obra literária, Um homem de sorte beira o sublime. Parece que estamos lendo o calhamaço de 900 páginas em pleno dinamarquês, ouvindo os diálogos no musical idioma, comparando as palavras parecidas com as do português e com as do inglês. É possível calcular que o livro é escrito com um narrador neutro, que só vai acompanhando os fatos ligados à trajetória de altos e baixos do protagonista, Per Sidenius. 

Em determinadas situações, imaginamos que estamos diante de personagens redondas, aquelas que em teoria literária são as mais difíceis de perscrutar, as capazes de surpreender o leitor, as multifacetadas. Jakobe, a primogênita de uma rica família judaica, é uma dessas personagens.

O próprio Per vai mostrando aos poucos uma personalidade fragmentada, um herói pelo qual tentamos torcer, mas que a cada movimento pode acabar surpreendendo a todos, por motivos dos mais variados.

Em essência, Per Sidenius está em constante luta interna. De um lado, a sua ambição pecuniária, o seu idealismo técnico, o seu talento de engenheiro. De outro, a criação ultracristã que ele deixou para trás e tenta negar a todo custo. É nesse embate que se travam as batalhas de uma alma perturbada e que ironicamente parece sempre querer fugir da felicidade.

O título da obra original brinca com a ambiguidade da palavra lykke, que pode significar "sortudo" (lucky) ou "feliz" (happy). A primeira tradução para o inglês optou por Lucky Per, enquanto a segunda por A fortunate man. Este último acabou sendo o título adotado internacionalmente para comercializar o filme.

O produto também foi vendido para a TV, no formato de minissérie de 4 capítulos, com metragem estendida.

A versão cortada para filme de longa-metragem, que passou em festivais de cinema, está agora disponível no Netflix.

É justamente por filmes como este que um cinéfilo como eu está começando a aceitar o Netflix e aprendendo a aproveitar o que a plataforma oferece de melhor. 

Abaixo um vídeo em que o diretor Bille August é entrevistado durante uma carona para a exibição do filme.





Este outro vídeo (Lykke-Per er en kæmpe idiot = Lykke-Per is a huge idiot) contém uma entrevista com os dois protagonistas (bem que eu gostaria de ter a sorte de entender o que eles estão dizendo):





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