sexta-feira, abril 26, 2019

Border

Se me perguntassem qual o filme mais "fora da caixa" atualmente em cartaz, não seria exagero se eu respondesse Border, coprodução iraniana e sueca assinada pelo diretor Ali Abbasi.

Eero Milonoff and Eva Melander in Gräns (2018)

A crítica norte-americana em geral depreciou o filme dizendo que é muito difícil de se identificar com os protagonistas. Afinal de contas, Tina (Eva Melander) e Vore (Eero Milonoff) têm feições não muito delicadas, com testa proeminente e dentes imperfeitos. São portadores de uma síndrome bizarra e atraem raios. Na visão desses críticos, sem empatia, não há solução. 
Críticos mais "cabeça aberta", porém, como canadenses e o júri da mostra Un Certain Regard, centraram-se mais nas qualidades do que nas imperfeições. Tanto isso é verdade que o filme recebeu o prêmio da mostra, uma espécie de competição paralela em Cannes, com visões, digamos, "menos tradicionais".





O filme é inspirado no conto neogótico "Gräns", de John Ajvide Lindqvist, o mesmo autor de "Deixa ela entrar", que originou dois filmes, um sueco e outro norte-americano, praticamente um remake do primeiro. 

Sobre o enredo de Border, não vou entrar em detalhes para não estragar surpresas. Apenas dizer que é um instigante estudo sobre a diferença, sobre sentir-se alguém deslocado no mundo, sobre o que é, afinal, a condição humana. 



É verdade, não é assim tão fácil de se "identificar" com Tina ou Vore. Será que é preciso estabelecer um vínculo com os personagens para apreciar um filme? Mas quem é que nunca se sentiu um "estranho no ninho"? Talvez essa seja a maior sensação que o filme nos passa. A sensação de ser alguém que, por mais que esforce, não consegue se adequar ou se "encaixar" nos moldes preestabelecidos. As metáforas e conotações aqui podem ser muitas. 

Border : Poster


Do ponto de vista mais objetivo, quais seriam as qualidades de Border? A maquiagem do filme é simplesmente fantástica, transfigurando de modo contundente o rosto da dupla de atores principais. Tem cenas chocantes, que marcam por sua força inerente e originalidade. Um conto misterioso sobre personagens que lutam para encontrar seu lugar no mundo. Existe algo mais humano do que isso? 











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