quinta-feira, julho 28, 2011

Malditos sejam!

Filme argentino vencedor da competição Íbero-americana do VII Fantaspoa. A dupla de roteiristas/diretores Fabían Forte e Demian Rugna estruturou o filme em um prólogo seguido de três capítulos. O prólogo se passa em 1979 e faz um link direto com o terceiro capítulo; na verdade, o terceiro capítulo explica e desenvolve as situações suscitadas no prólogo. O capítulo 1 é sobre um matador de aluguel perseguido pela imagem de uma de suas vítimas: um menino inocente. O matador consulta um vidente que lhe diz que a alma do menino só vai descansar se Hugo, o matador, colocar numa caixa o coração do mandante e do comparsa de Hugo. Mas dois corações talvez não sejam o suficiente para aplacar o tormento da jovem alma...
O interessante capítulo 2 trata de um grupo de mulheres virgens que praticam a cafeomancia, processo de ver o futuro na borra do café, que tem raízes na cultura árabe.
Um homem vai consultar as moças (entre elas, a inquietante Gabriela Mocca) e, durante a consulta, a moça vê que ele é o portador de um espírito mau. Assustada, pede para ele se retirar do recinto e consulta a vidente mais experiente, que, por sua vez, consulta o guru já meio caduco. Ele manda trazer um revólver. E acho que chega de detalhes, não é mesmo? Este capítulo é o melhor resolvido em termos de roteiro e o que mais transmite medo, por conta do asqueroso monstro que deseja trucidar todas as virgens.
O capítulo 3 volta ao prólogo para explicar como um policial desapareceu no meio dos anões de jardim. Este capítulo, o mais desconexo e mal explicado, se dá o direito de incluir cenas meio nonsense (quando aparecem os anões de verdade).
No geral, Malditos sejam! revela o bom nível do terror made in Argentina.

segunda-feira, julho 18, 2011

Stake Land

Stake Land foi o "final dish", nas palavras do simpático diretor Jim Mickle no colóquio com a plateia que lotava o Cinebancários. A terminologia é adequada, já que o filme revisita um tema que remete à fome, no caso, de sangue. Eterna fonte de cults como Fome de viver, Quando chega a escuridão e Deixa ela entrar e de abordagens mais populares como Drácula de Bram Stoker, A hora do espanto, Entrevista com o vampiro e Vampiros de John Carpenter, ultimamente o gênero andava carecendo de incursões sérias, que acrescentassem elementos à mitologia dos seres de caninos avantajados. Stake Land pode se orgulhar disso, ao entremear um clima de Red Dawn (Amanhecer violento), o apocalíptico filme de John Milius, à temática vampiresca. Talvez por isso o título Anoitecer violento que o filme ganhou no Fantaspoa. Diga-se de passagem, sem o dedicado trabalho de tradutores (tanto na legendagem quanto na tradução intercalada durante as sessões comentadas), o Festival não seria possível. O título desse filme é um exemplo de dificuldade tradutória. Com alta carga semântica, polissêmico, com um "pun" inteligente, Stake Land é o tipo do título que se costuma rotular de "intraduzível". Mas, como já dizia Paulo Rónai, se o poeta quer exprimir o inexprimível, não é surpreendente que o tradutor queira traduzir o intraduzível. Voltando à vaca fria, o diretor contou que a ideia inicial era fazer uma série para a web, com trinta episódios. O projeto estava pronto para ser realizado, mas o episódio piloto acabou se transformando nos primeiros dez minutos do filme. Elementos dos outros episódios foram reciclados e remoldados para caber no formato longa metragem. O roteiro traz ideias bem interessantes, como diversas espécies de vampiros diferentes, vide os berserkers, que não morrem com estacas no coração e sim na nuca, perfurando o cérebro reptiliano. O filme se concentra na saga de dois personagens, o jovem Martin (Connor Paolo), que perde a família num sanguinolento ataque dos vampiros, e Mister (Nick Damici, também roteirista), o tipo do cara ideal para se ter ao lado numa situação extrema: sangue frio, destemido, hábil com tudo que é tipo de arma e estudioso do comportamento transilvânico. Personagem importante também é Sister, uma religiosa que é salva pelos dois de um estupro. Surpresa: Sister é interpretada por ninguém menos que a sumida Kelly McGillis, que virou a cabeça de Tom Cruise em Top Gun - Ases indomáveis. Junto com Sister, Willie (Sean Nelson) e a grávida Belle (Danielle Harris), Mister e Martin tentam desesperadamente chegar à New Eden, um lugar pacífico e livre de vampiros. Nisso o filme lembra também Mad Max, em que os poucos humanos sobreviventes tentam chegar a um lugar melhor para se viver. Indagado sobre influências, o diretor assumiu apenas haver muita coisa de faroeste inserida na roupagem vampirífera. Antes da sessão, Jim Mickle disse que o objetivo maior do filme era fazer os vampiros parecerem "cool" again. O personagem Jebedia Loven (Michael Cerveris), o messiânico líder de uma seita, pode ser interpretado como crítica subjacente às seitas e pseudorreligiões que grassam no mundo. Jebedia talvez não seja exatamente "cool", mas o filme é.

domingo, julho 17, 2011

Harold está ficando cadavérico

Filmado em sete dias pelo diretor Keith Wright, Harold is going stiff (2010) é original e inovador. Uma epidemia de DAR (Doença do Ataque de Rigidez) acomete a população do interior da Grã-Bretanha. A primeira pessoa infectada, Harold Gimble (Stan Rowe) vira cobaia de um cientista que tenta descobrir a cura para o inédito mal. Enquanto isso, Penny (Sarah Spencer), uma cativante enfermeira, torna a vida de Harold mais suportável, com sessões de massagem para devolver um pouco da flexibilidade e retardar o avanço da doença. O estágio mais avançado conduz à "zumbificação", e o paciente se torna violento. Por isso, um grupo de "vigilantes" se forma para eliminar, com tacos de beisebol, os enfermos já desenganados. O lance genial do roteiro é "humanizar" os tão difamados e estereotipados zumbis. Regado a múltiplas xícaras de chá, Harold está ficando cadavérico surpreende pela verossimilhança interna e pelo bom humor.

sábado, julho 16, 2011

Molina's Ferozz - The Wild Red Riding Hood

O cubano Jorge Molina estudou cinema na Rússia e é considerado o principal expoente do cinema fantástico da ilha dos Castro. É o primeiro filme que vejo dele e, espero, o último.
Irritantemente tosco. E para quem já viu A Serbian Film esta semana nada mais impressiona. Muito menos um roteiro cuja única razão de ser é

SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER IRRITANTEMENTE TOSCO
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DEPOIS NÃO DIGA QUE NÃO AVISEI


o desejo de um tio deflorar a sobrinha. A estética de Molina é a estética da sujeira. O personagem "Dully" é disparado o mais patético do Fantaspoa, com os cabelos compridos sebentos, o rosto sempre imundo e a obsessão onanista.Irritantemente tosco.
Onanismo, aliás, é uma boa explicação para esse novo gênero que surge em nossos dias, que une sexo com decapitações. Novo pretexto para se fazer pornochanchada. A única tensão existente no filme é justamente a sexual: um freak que se m******* vendo as moças tomando banho no rio, uma viúva que tenta seduzir o irmão do falecido marido, uma menina que usa o cachorrinho como brinquedo sexual, uma adolescente que provoca o tio, o tio que quer possuir a adolescente. Nesse meio-tempo, algumas alusões malfeitas a uma suposta entidade maligna que vive nas florestas e uma ou outra cena grotesca de magia negra. Tudo se dirige para a cena ápice, a cena auge, a cena êxtase: a cena em que toda essa tensão deve se consumar. O roteiro tem sérios problemas, mas o pior mesmo é a direção. A cena final é uma aula de antidireção, com os atores perdidos, banhados em sangue, se esforçando para, e não conseguindo, demonstrar tesão. Molina's Ferozz: definitiva e irritantemente tosco!

Krokodyle

O cineasta Stefano Bessoni (que estreou com a coprodução espanhola e italiana Imago Mortis em 2009) realiza com Krokodyle o seu segundo longa. De acordo com o diretor, que conversou com a plateia antes e depois da exibição, trata-se de uma obra essencialmente autoral e bastante particular. Kaspar, o personagem principal, é o alter ego de Stefano. Ambos são film-makers e ilustradores. A moradia de Kaspar é na verdade a moradia de Stefano na vida real. As piras do personagem, em última análise, que tem amigos imaginários e o sonho de fabricar homúnculos, são as piras do diretor. Stefano contou para os espectadores que o filme nasceu da vontade de escapar do controle artístico imposto pelos produtores, coerção que ele sentiu na pele ao fazer o primeiro filme, uma produção de mainstream. Krokodyle é uma produção mais independente, sem as concessões inerentes a uma superprodução. A proposta de Stefano, cujo sonho quando criança era ser coveiro, é realizar um cinema macabro que entretenha o público e o instigue a pensar.
Um dos fios condutores de Krokodyle é a envolvente música de Michael Nyman, compositor que se tornou famoso pela parceria com outro cineasta, Peter Greenaway, que, por sinal, é citado em Krokodyle. Wim Wenders e seu soporífero Asas do desejo (em cuja sessão às 24 horas no cine ABC eu adormeci) também são homenageados em Krokodyle. O roteiro é subdividido em rápidos capítulos que contam a saga de Kaspar, um cineasta que espera um telefonema dos produtores para poder rodar o próximo filme. Há no roteiro uma mágoa com o "sistema" que talvez não seja muito producente para um diretor que deseja se firmar. E a julgar pelas palavras acerbas de Stefano contra o cinema comercial, a intenção dele é ficar à margem e não "vender a alma". Louvável a intenção de se manter íntegro, mas é preciso ressaltar que muitos diretores conseguem autonomia artística justamente por conseguirem autonomia econômica e poder na indústria (vide Steven Spielberg).
Até que ponto essa postura de animosidade contra o "sistema" vai ajudar a carreira de Stefano, o tempo dirá. Quanto ao filme em si, não chegou a empolgar a plateia presente ao Cinebancários. Destaque para a música e as ilustrações bizarras de Kaspar/Stefano. Ilustram esse post o cartaz de Krokodyle e ilustrações feitas pelo diretor para o filme Imago Mortis. Diga-se de passagem, outro diretor italiano também gostava de desenhar: Federico Fellini.

quinta-feira, julho 14, 2011

O último empregado

Outro charme do Fantaspoa é matar as saudades do tempo em que eu morava na Duque de Caxias e caminhava muito pelas ruas do centro. Tempos em que eu subia a rampa da João Manoel depois de ter assistido no Cacique Uma noite alucinante ou no Scala a pré-estreia de O selvagem da motocicleta ostentando no sobretudo um button do Cramps, aquele da caveira com os cabelos espetados.
De volta a 2011. Ao sair da sessão de HRWWM (ver post abaixo), que passou na sala Eduardo Hirtz, da Casa de Cultura Mário Quintana, na rua dos Andradas, carinhosamente chamada de rua da Praia, me encaminhei ao Cinebancários, a cerca de três quadras dali, na célebre rua da ladeira (General Câmara). O tempo estava esquisito, meio abafado, e uma garoa morna começava a molhar as ruas. Fui assistir ao segundo filme da noite: horror made in German, O último empregado, que tem no currículo o The Mélies D'Argent, a láurea mais elevada do Festival de Cinema Fantástico de Leeds, na Inglaterra. Diferentemente dos demais filmes que assisti no Fantaspoa, este não tem nada de engraçado. Aqui a proposta é deixar o espectador com o cabelo em pé. Enervar, inquietar, encucar, apavorar, aterrorizar. E, guess what, o filme de Alexander Adolph é realmente creepy. À primeira vista, o roteiro parece um estranho híbrido de Amor sem escalas e O sexto sentido, com o tema do desemprego mesclado a assombrações. Envolve um homem que tem o mesmo trabalho de George Clooney em Up in the air, isto é, despedir uma equipe de funcionários, com a diferença que também irá fazer o inventário da empresa. David (Christian Berkel), homem que já tem um histórico de problemas psiquiátricos, ganha uma nova oportunidade no mercado de trabalho. Depois de pôr todos os funcionários no olho da rua, ele adota o abandonado e fantasmagórico escritório da empresa como local de trabalho. A mórbida presença de uma das funcionárias mais antigas da empresa, a sra. Block (Bibiana Beglau, numa performance arrepiante) vai ser sentida por David, com todos e em todos os sentidos. E o problema vai influenciar seu relacionamento com os familiares, notadamente a sogra Greta, a esposa Irina e o filho Simon.

O massacre de Reykjavic


Um dos charmes do Fantaspoa é a diversidade linguística que serve de bálsamo a ouvidos já fatigados da mais recente língua franca (o inglês). Assistir a um filme falado em islandês, com locações na longínqua Islândia, num cenário natural maravilhoso de fiordes e mares onde as baleias se reproduzem com liberdade, sem dúvida já paga o ingresso promocional de cinco pila.
E se o produto em questão for um slasher movie de roteiro razoavelmente bem amarrado com pitadas de meditação ecológica (num diálogo o Greenpeace é chamado de green piss) e, de quebra, uma abertura tipo documentário que lembra os trágicos dias da caça à baleia, então o espectador não muito exigente com certeza já está no lucro.
O massacre de Reykjavik (Harpoon: Reykjavik Whale Watching Massacre, ou HRWWM para os mais íntimos), obra de Július Kemp, retrata o que devia ser um inofensivo passeio de turistas para ver baleias em seu hábitat. No cais da capital islandesa, sobem a bordo do Poseidon, barco pilotado por ninguém menos que Gunnar Hansen (o ator que interpreta o psicopata Leatherface em Massacre da serra elétrica, o clássico de 1974, dirigido por Tobe Hooper), turistas de vários países, como Alemanha, França, Inglaterra e Japão. O intertexto com The Texas Chainsaw Massacre não é apenas no título e no elenco. É também na sede de sangue de uma família de freaks e na falta de motivos para explicar essa sede de sangue. O fato é que os desavisados turistas se veem numa situação periclitante quando acidentalmente o capitão é trespassado por um arpão. O grupo dá graças aos céus quando é "resgatado" por um dos membros da desajustada família que vive num velho barco ancorado numa pacata enseada defronte aos majestosos fiordes e a um farol (com um faroleiro weirdo, diga-se de passagem). Logo o grupo percebe que a situação que era crítica passou a ser dramática, e é um Deus nos acuda no convés quando um dos freaks enfia o martelo na testa de uma das alemãs. Cada um a seu modo procura se esconder no sinistro barco para salvar a pele, à exceção do nosso inteligente japonês, que pega um colete salva-vidas e pula no mar.

quarta-feira, julho 13, 2011

A Serbian Film - terror sem limites

Pensar em cinema iugoslavo é pensar em Emir Kusturica (nascido em Sarajevo) e em Quando papai saiu em viagem de negócios, Palma de Ouro de 1985 em Cannes. O cinema que se fazia na antiga Iugoslávia era denso e ao mesmo tempo bem-humorado; local (ao retratar os costumes, as músicas e as particularidades do povo iugoslavo) e ao mesmo tempo universal (ao retratar sentimentos que podem ser compartilhados por qualquer pessoa do mundo, independentemente da nacionalidade).
Mas se você esteve no planeta Terra nos últimos vinte anos sabe que a Iugoslávia, esta "casa muito dividida" como a National Geographic estampou numa de suas capas, se desmantelou, e se desmantelou da pior maneira possível. Um dos filmes mais interessantes sobre os conflitos da separação é Terra de ninguém (2001), do diretor bósnio Danis Tanovic, que com seu humor negro levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Depois de tantas guerras, agora é bola para frente (sem trocadilho), tanto em termos cinematográficos como políticos. Mas a verdade é que o diretor Srdjan Spasojevic e o roteirista Aleksandar Radivojevic chutaram o balde dos limites do razoável. Na sala Paulo Amorim lotada, antes da sessão, uma moça comentou com o namorado: "a sinopse é realmente promissora".
Bem, eis que não vou dar sinopse alguma do filme nem falar de nada das coisas inomináveis que acontecem nele. Em vez disso, vou procurar avaliar o filme pelas reações da plateia.
No começo, lá na fileira bem da frente, depois que deu a vinheta dos Correios, uma moça moderninha gritou tirando sarro: "Viva, é filme de terror!". O clima era de descontração e certo ceticismo sobre o conteúdo (sem trocadilho) da película. O tempo vai passando, as personagens vão se delineando, o roteiro se desencadeando, e as reações variam entre uma curiosidade crescente e certa decepção incipiente. Em alguns diálogos bate certo enfado e o público se mexe inquieto e pensa, puxa, nada acontece neste filme. Eis que o roteiro inclui numa situação inominável uma coisa que não combina de modo algum com situações inomináveis. A partir daí o filme toma um rumo extremamente hardcore. E o clima de desconcentração no cinema muda completamente. Ao ver uma cena de inusitada violência, a plateia emudece. A tensão toma conta dos espectadores, e o silêncio perdura até o fim do filme, interrompido uma ou duas vezes para uma gargalhada (quando o diretor diz que seu filme pulou pela janela) e algumas risadinhas constrangidas. Mas na sequência derradeira o nojo é tanto que, e agora eu trago o testemunho de minhas reações, confesso, cheguei a pensar em sair do cinema. Ou seja, se o objetivo dos realizadores era provocar sensações fortes e quebrar paradigmas do que se pode ou não mostrar/sugerir nas telas de cinema, bem, eles alcançaram plenamente o objetivo.
Falando em nojo e revolta, antes de escrever este texto eu pesquisei sobre o filme e encontrei uma entrevista concedida a David Harley pelos realizadores, no site Bloody Disgusting. O roteirista alega que o filme é uma metáfora sobre a condição de ser transformado em marionete pelo sistema. Abaixo transcrevo um trecho da entrevista (para ler na íntegra, siga o link http://www.bloody-disgusting.com/interview/638). Com a palavra o nada modesto roteirista, que chama as barbaridades gráficas do filme de "arte": "Catharthis through art is something that’s really liked in Serbia these days. Catharthis through really subversive, really strong art; that’s what people need because they’ve been desensitized because of the wars and it’s like they need some kind of cold shower through art to show them what really happened with their lives. The film is an exaggeration of all the problems. We took our own experiences and truths about our government and flowed it into this genre and embedded it with meaning and ferocity."
Na parte sobre o exagero, eu concordo.

sábado, julho 09, 2011

Horror gráfico sexual

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

Presságio

Falado em inglês e filmado no lindo cenário da ilha de Malta, sob a batuta do mestre do cinema de horror Lamberto Bava (filho de Mario Bava), Presságio (Visions of Murder) é um thriller eficiente, que aborda um tema mórbido (rapto de meninas) com sensibilidade. Desde o início, Bava prende a atenção do espectador e cria um clima de crescente suspense. A história se concentra na personagem Anna (a bela húngara Andrea Osvart), jovem viúva que tem o dom da premonição. Ela vai ajudar o policial interpretado por Craig Bierko a investigar o rapto de uma menina. No fundo o filme é um quebra-cabeça do qual o espectador é convidado a participar, algo como um "whodunnit", ou melhor, nesse caso, um "whoisdoing". Diga-se de passagem, talvez pela minha vasta experiência como leitor de Agatha Christie, eu descobri o assassino. Mas daí para dizer que o final é previsível seria cometer o pecado da generalização. Destaques para a trilha sonora com delicados acordes de violino e para as boas atuações dos protagonistas. A produção faz parte de uma série formatada especialmente para TV. A sessão no Cinebancários foi a primeira exibição pública do filme e contou com a presença do diretor, que teceu comentários e respondeu perguntas da plateia sobre Presságio e outros filmes. O diretor italiano elogiou Christopher Lee e Max von Sydow, dois grandes ícones do cinema com quem ele trabalhou.

terça-feira, julho 05, 2011

A noite do chupacabras

Segundo longa metragem do cineasta capixaba Rodrigo Aragão, A noite do chupacabras marcou a abertura do VII Festival Internacional de Cinema Fantástico - o Fantaspoa - e teve na segunda-feira à noite uma nova sessão no Cinebancários. A sala estava lotada para conferir o novo filme do diretor do cultuado Mangue Negro. Que, por sinal, saudou os presentes antes da sessão e explicou que a versão assistida aqui em Porto Alegre ainda vai sofrer alterações. Também contextualizou o filme numa espécie de "trilogia" que focaliza três ecossistemas diferentes: mangue (Mangue Negro), montanhas com florestas (A noite do chupacabras) e praia (Mar Negro, título provisório do próximo filme).
Carlos Primati, especialista em cinema de horror e host do site Cine Monstro, alguns meses antes da estreia do filme já destacava a importância da hostilidade do cenário para o filme: "Até onde posso falar do CHUPACABRAS, não é muito diferente dos filmes de "horror caipira" estadunidenses,como O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA ou VIAGEM MALDITA: o cenário é um meio do mato hostil, onde habita um monstro selvagem." (http://cine-monstro.blogspot.com/2011/03/noite-do-chupacabras-2011.html#comments). Sem dúvida, a ambientação em meio a trilhas e regatos dá ao filme um clima extremamente sombrio, o que contribui para uma sensação de claustrofobia - não há como escapar daquela selva, daquele monstro, daquela demência que comanda os atos de duas famílias que se odeiam, os Carvalho e os Silva. A saga de ódio familiar é o pano de fundo para o protagonismo da mítica figura do chupacabras. O realizador em uma entrevista declarou sobre a criatura: "Demorou oito meses de estudos e testes com diversos materiais - entre eles a espuma de poliuretano, silicone e látex -, até que encontrei uma fórmula de uma espuma de látex, leve, elástica e resistente o suficiente para dar ao ator a liberdade de movimento necessária para o personagem. Pegamos um molde de corpo inteiro do Walderrama dos Santos [ator que interpreta (?) o monstro] e modelamos a criatura, com mais de 70 chifres". O filme dá os minutos regulamentares de apresentação de personagens até a sequência chave da escatológica briga no bar. Depois disso a bem-humorada carnificina não dá trégua para o espectador. Uma cena surpreendente engata na outra, com direito a inserções de personagens horrendos como o velho do saco.
Mais informações sobre o VII Fantaspoa: http://www.fantaspoa.com/2011/novo/index.php
Mais informações sobre a produção de A noite do chupacabras: http://fabulasn.blogspot.com/p/noite-do-chupacabras.html

sábado, julho 02, 2011

Amizades e... rodas!

O que têm em comum um drama dinamarquês, uma animação ianque e uma comédia francesa? À primeira vista não muita coisa, mas em dois aspectos os enredos de Em um mundo melhor, Carros 2 e Potiche - mulher troféu se interligam de modo cristalino: a importância das amizades e a importância das... rodas!
A película dinamarquesa Em um mundo melhor, assinada por Susanne Bier, alcançou reconhecimento artístico ao abiscoitar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011. O filme tem subtemas, mas em essência narra a peculiar amizade entre os meninos Elias e Christian. Elias é um garoto que sofre bullying na escola. Uma gangue sempre murcha os pneus da bicicleta de Elias. Quando Christian vem morar na cidade e começa a estudar na mesma escola, logo se revolta com aquela situação e tenta proteger Elias. Mas Christian é uma personalidade multifacetada: bom por um lado mas sem limites quando o assunto é fazer justiça com as próprias mãos, que inclui até o plano de mandar pelos ares o furgão de um cara que agrediu o pai de Elias. Amizades + rodas.
Já no hollywoodiano Carros 2, Relâmpago Mcqueen discute com Mate, e a rusga põe em xeque a velha amizade. Às voltas com muitas peripécias de uma trepidante trama de espionagem industrial, os dois percorrem o mundo num circuito de corridas em belas cidades do mundo. O filme mostra que pode haver substituto para o petróleo, para rodas tortas e pneus carecas, mas não para uma boa e velha amizade.
Da França vem o novo filme de François Ozon, Potiche - mulher troféu, que tem como trunfo a imbatível dupla Catherine Deneuve e Gerard Depardieu. Ela é Suzanne, cujo marido, Robert Pujol, tem uma fábrica de guarda-chuvas. Ele é Maurice Babin, político de esquerda. Quando o marido de Suzanne é capturado pelos funcionários em greve, Suzanne recorre a Maurice, que intercede. O episódio obriga Robert Pujol a se internar por problemas de saúde. Suzanne toma as rédeas da empresa e com a ajuda dos filhos a remodela e moderniza. E, de quebra, retoma a ligação com Maurice. Anos atrás, Suzanne trocava o pneu do carro na rodovia quando Maurice parou e se ofereceu para ajudar. Nenhum dos dois esqueceu das coisas que aconteceram naquele dia, e o que era uma paixão impossível se transformou talvez numa bonita amizade.
Três filmes de diferentes nacionalidades para diferentes públicos, mas que servem para realçar a importância das amizades e das rodas.