Bare Indiscretion of an American Wife (1954), uma parceria entre o grande produtor americano Selznick e o diretor italiano Vittorio De Sica, é o "filme dentro do filme" que aparece rapidamente em Gilbert Grape, aprendiz de sonhador.
A história se passa em Roma, em tempo real, numa estação ferroviária.
Visitando a irmã na Itália, longe do esposo e da filha, uma mulher americana (Jennifer Jones) enfrenta uma crise de consciência, desiste de um encontro marcado e vai para a estação. Liga para o sobrinho pedindo para levar sua mala. E tenta embarcar no trem para Milão. Quando aparece o motivo de seu coração transtornado: um jovem italiano, que, apaixonado, fará de tudo para demover a mulher de sua intenção de partir.
Interpretado por Montgomery Clift (espécie de Jude Law dos anos 50), o amante (pelo menos, em termos platônicos, já que a consumação da paixão fica a critério da interpretação do espectador) encarna muito bem todo o sofrimento de quem se envolve com alguém comprometido.
O filme tem rápidos 63 minutos e é uma inusitada mistura de praticidade americana com a paixão italiana.
Tem cenas belas, carregadas de um transbordante desejo, de uma infinita sensação de 'unfinished question', tudo pela competência do casal principal, que convence numa relação tempestuosa, literalmente entre "tapas e beijo(s)".
Uma cena fortíssima é a aquela em que, desesperado pela iminência do abandono derradeiro, o amante lasca uma bofetada na mulher, na frente do sobrinho dela.
Mas, é claro, a cena mais emblemática do filme é o mais "chorado", mais difícil, e, por isso mesmo, um dos mais explosivos e flamejantes beijos da história do cinema.
Não é à toa que, volta e meia, faço posts com filmes da década de 1950: com a ajuda de bons roteiros, o cinema tentava explorar todas as suas potencialidades como arte.
Este texto foi publicado originalmente em 30 de agosto de 2003, no endereço antigo do blog.
Tentei adaptar o texto para tirar alguns spoilers.