Hidden figures é o título original deste filme que lotou a
sessão de terça-feira no GNC-Praia de Belas de Porto Alegre. Quem chegou de
última hora teve de se contentar com os lugares nas fileiras A e B, leia-se bem
na frente, com risco a sofrer um torcicolo. A proximidade com a tela deixa tudo meio esquisito, mas o
filme era envolvente o bastante para que esse detalhe se tornasse apenas isso, um detalhe
quase irrelevante.
O filme conta a história das três amigas que trabalham na NASA fazendo e refazendo cálculos. Mas como diz o personagem de Kevin Costner, na conquista espacial, é preciso ir além dos algarismos. Não basta apenas aplicar fórmulas e resolver equações, é preciso utilizar a geometria e todas as ferramentas matemáticas para resolver problemas de ordem prática, em especial, como sair da trajetória elíptica para entrar na trajetória parabólica, a velocidade de reentrada, ou as coordenadas a serem seguidas pelo astronauta John Glen em sua façanha de orbitar a Terra em 1961.
Hidden figures tem duplo sentido. A escolha da palavra “figures” é proposital e ambígua. O título poderia ser traduzido como "Figuras ocultas" ou como "Números ocultos".
As “figuras ocultas” são as amigas Katherine, Dorothy e Mary Jackson. Cada uma tem uma história de superação em sua trajetória na NASA.
A ênfase é em Katherine (Taraji Henson), a menina prodígio que usa óculos e é capaz de resolver as mais complicadas equações com uma tranquilidade e uma precisão fabulosas. Ela vai ser promovida para trabalhar no mesmo setor de Al Harrison (Kevin Costner) e precisará enfrentar a resistência dos colegas, em especial, Paul Stafford (Jim Parsons, do seriado The Big Bang Theory, decisão de casting um tanto controversa).
Trama paralela é o interesse que a enxuta viúva com 3 filhas desperta no coronel Jim Johnson (Mahershala Ali), recém-chegado na cidade.
Dorothy (Octavia Spencer) precisa convencer a rigorosa chefe Vivian (Kirsten Dunst, cuja covinha na face só apareceu uma vez em todo o filme) de sua capacidade para se tornar supervisora e ganhar uma promoção. Para isso, clarividentemente, Dorothy percebe que precisa aprender Fortran, a linguagem de computador, e conseguir programar o novo computador IBM instalado na NASA.
Por sua vez, a ousada Mary Jackson (Janelle Monáe) encasqueta que vai ser a primeira negra a cursar engenharia no Estado de Virgínia, mas para isso terá que convencer um impassível juiz.
As três amigas são “estrelas” anônimas que brilham com suprema magnitude, mas que passariam despercebidas do público, e ficariam no anonimato, não fosse o livro de Margot Lee Shetterly (Hidden Figures - The American Dream and the Untold Story of the Black Women Mathematicians Who Helped Win the Space Race) e a boa adaptação fílmica de Theodore Melfi, que mereceu três indicações ao Oscar: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz Coadjuvante (Octavia Spencer) e Melhor Filme.
A sessão abarrotada de Hidden figures é a prova real de uma equação simples que os CEOs das redes de cinema parecem se recusar a entender com clareza:
filme atrativo + ingresso
acessível =
cinema lotado.
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