Há algumas semanas, no post sobre Até o último homem, de Mel Gibson, toquei no assunto de atores que se arriscam na direção. É um tópico apaixonante, entre outros motivos, pela análise das influências apresentadas; na “incorporação”, pelos atores, do método de trabalho dos diretores com quem trabalharam. Por exemplo: os filmes de Clint Eastwood não negam as influências de Sérgio Leone, o criador do faroeste spaghetti, e de Don Siegel, o especialista em policiais da série Dirty Harry.
E por onde passam as influências de Bill Paxton, o diretor? De James Cameron, Paxton pegou o apelo pop, o faro pela história certa. Do amadurecido Sam Raimi de Um plano simples, a cadência adequada a um suspense. De Kathryn Bigelow, o gosto pelo gótico. Mas quando à experiência com bons diretores soma-se uma "queda" natural para a coisa, tudo fica mais fácil. Parece ter sido o caso de Bill Paxton.
Um dos grandes méritos de um diretor é saber escolher um bom roteiro. Foi esse o caso da estreia de Paxton atrás das câmeras, em A mão do diabo.
Tudo tranquilo na vida de Fenton Meikes. Mora com o pai e o
irmão três anos mais novo, Adam, em uma pequena cidade do Texas. A casa é perto
de um belo jardim. A escola é boa, o pai tem um bom emprego: mecânico na cidade
vizinha. O pai é afetuoso, compensa a falta da mãe. Tudo parece tranquilo. E o
leitor também pode ficar tranquilo: não vou contar mais nada. A não ser que a
uma certa altura, a tranquilidade será substituída pela instabilidade, a
certeza pela dúvida, a força pela fragilidade.
A propósito: o título original, escolhido pelo roteirista Brent Hanley, é Frailty. Fragilidade,
fraqueza, debilidade, facilidade em faltar a seu dever. Instabilidade.
Este conto moderno de suspense gótico nos lembra que vivemos
em um pálido ponto azul, onde a harmonia, a natureza, a informação, a paz e as
relações familiares estão sob a égide da fragilidade. Longe de ser frágil é a
interpretação de Bill Paxton. Como o chefe da família, o experiente ator, que participou do clássico dark Quando chega
a escuridão (direção de Kathryn Bigelow), do suspense Um plano simples (Sam Raimi) e uma penca de filmes com James
Cameron (Titanic, True Lies, Aliens), realiza um trabalho consistente e seguro.
Powers Boothe, como o detetive do FBI que investiga o caso do assassino da
"Mão de Deus", e Matthew McConaughey, como o misterioso homem que diz
saber a identidade do assassino, não decepcionam. Fechando o elenco principal,
uma boa promessa: Matt O'Leary, que interpreta Fenton na infância. A história é
contada sob o seu ponto de vista, o ponto de vista de um menino encurralado,
que só pensa em fugir – mas não tem para onde.
Para os fãs de ficção científica, Bill Paxton será sempre lembrado como o irônico soldado Hudson de Aliens. Mas não custa lembrar que o prolífico ator também deu seus pitacos na direção. Por duas vezes, arriscou-se atrás das câmeras: depois de A mão do diabo (2001), ele realizou o elogiado drama esportivo O melhor jogo da história (2005), sobre o universo do golfe.
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