sábado, dezembro 29, 2012

O Hobbit: uma jornada inesperada


Shopping Bella Città, Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Quarta-feira, 21 horas. Dia de promoção: ingresso a 9 reais. Ou seja: fila na bilheteria, fila para a pipoca. Pessoas de todas as idades peregrinam ao templo da experiência sensorial "da moda": o cinema 3-D. Só entrei na primeira fila. Um filme de Peter Jackson já é alimento e distração suficiente para meu cérebro. Ainda mais em 3-D.
Cheguei em cima da hora, o cinema já está quase lotado. Mas quem está sozinho sempre consegue um lugar bem no centro de uma das fileiras. É só ter a cara de pau suficiente para pedir licença até chegar à tão oportuna poltrona livre. Sentei-me ao lado de duas moças desconhecidas, uma das quais abria e fechava incessantemente as pernas, roçando de leve na minha.

Bem, isso não estava no script, mas tudo vale a pena quando a alma não é pequena, os fins justificam os meios e o que nem tem remédio, remediado está. Mas by the way, uma perguntinha para quem entende de etiqueta: abrir e fechar as pernas num cinema apertado não pode ser considerado um tanto vulgar? Mas até mesmo a inquieta (ou fogosa?) moça teve de dar o braço (e as pernas) a torcer e se concentrar na tela, pois O Hobbit: uma jornada inesperada é um filme soberbo, com estofo raro. Jackson e Tolkien têm café no bule. Bala na agulha.

A magia e a densidade de Tolkien são transferidas à tela de modo sublime. O cineasta neozelandês conta a história sem a mínima pressa, com todos os detalhes necessários. Nada sobra e nada falta. O filme tem um ritmo todo especial, com passagens dedicadas à construção das personagens e contextualização do enredo, e com momentos especiais dedicados à ação, à aventura e à magia. As paisagens maravilhosas da Nova Zelândia servem de cenário para cenas de plasticidade inigualáveis, recriando uma Terra Média da qual Tolkien se orgulharia.

sábado, dezembro 15, 2012

Compramos um zoológico

Cameron Crowe tem uma carreira não muito prolífica, mas eclética. Entre os seus filmes mais conhecidos: Vida de solteiro (1992), Jerry Maguire (1996), Quase famosos (2000) e Vanilla Sky (2001). Mas vamos combinar, ninguém vai locar Compramos um zoológico pelo diretor. Nem eu, a propósito. Foi uma grata surpresa saber que atrás das câmeras estaria um diretor do gabarito de Cameron Crowe. Este típico filme "para toda a família" lembra algumas antigas produções da Disney e conta a história da família Mee, que realmente comprou um zoológico depauperado e o transformou num local de sucesso. O roteiro aproveita o tema de modo hábil, e Crowe conduz sublimemente o filme, conseguindo interpretações comoventes tanto do elenco mirim (que inclui Elle Fanning, como Lily Miska, uma das funcionárias do zoo; a carismática Maggie Jones, a caçula Rosie Mee; e Colin Ford, o primogênito Dylan Mee) quanto dos mais crescidinhos (Scarlett Johansson, que interpreta a tratadora-chefe Kelly Ross; Thomas Haden Church, na pele de Duncan Mee, o irmão do dono do zoo). Mas a maior proeza de Crowe é ter sido o responsável por algo que também aconteceu com Tom Cruise em Jerry Maguire: enfim, Matt Damon se tornou um ator. Em tempo: este é o típico filme que pode ser deixado para ser visto no conforto do lar, com a vantagem de ter nos extras um documentário sobre a família Mee verdadeira.

 

Take this waltz

Bem-sucedido estudo sobre a incompreensibilidade da alma feminina. Margo (Michelle Williams) conhece durante uma viagem o misterioso e sedutor Daniel (Luke Kirby). O moçoilo, apesar de magrelo, tem um papo envolvente, olhar penetrante e um humor espirituoso. Características suficientes para despertar um sentimento novo em Margo, que a princípio não consegue decifrar exatamente qual é. Além do mais, ela é casada e se considera uma moça séria. A coincidência que possibilita a ideia do filme: Daniel é vizinho de Margo. Consequentemente, de Lou (Seth Rogen), o incauto, ingênuo e inocente maridão de Margo, chef especializado em frangos que pretende lançar um livro sobre o assunto. Mais uma "comédia romântica" sobre um triangulozinho amoroso? Não!
Entre o amor e a paixão (Take this waltz, 2012) é escrito e dirigido por Sarah Polley, e isso faz toda a diferença. O roteiro corajoso e a câmera sensível dão ao tema da infidelidade (?) feminina uma contextualização, um estofo, uma tentativa de entender... Pois entender não há como. Margo é dessas personagens que a teoria literária classifica como redondas, ou seja, imprevisíveis, humanas, demasiadamente humanas. Sarah Polley não julga sua personagem, nem a tenta entender, ou dissecá-la, ou coisa parecida. Em vez disso, conta a história de uma moça que completa cinco anos de um casamento, digamos, feliz, mas algo lhe falta. Uma lacuna. Será que vale a pena tentar preenchê-la? Ou essa lacuna é algo com que todo mundo (pelo menos, todo mundo que pretende continuar casado) precisa conviver e "sublimar"? Esse contraponto vem numa fala da personagem Geraldine (Sarah Silverman), talvez não coincidentemente a ébria do filme. Será que Margo vai "dançar essa valsa", ou, em outras palavras, ceder à tentação?  
A diretora Sarah Polley (nascida em 1979) começou sua trajetória artística como atriz mirim em seu país natal, o Canadá. Tem um longo currículo em filmes um tanto fora do mainstream, como Existenz, Madrugada dos mortos e A vida secreta das palavras. A moça, que chega ao segundo filme como diretora (Longe dela, 2006, foi a estreia), tem o cacoete de quem sabe o caminho das pedras e entende do riscado.
 

domingo, dezembro 02, 2012

O moinho e a cruz

Antes tarde do que nunca. Conheci o cinema de Lech Majewski! Sem dúvida, é um marco extraordinário na vida de um cinéfilo. Quando as luzes se apagam e aqueles segundos de expectativa pulsam nas veias, tudo que um cinéfilo deseja é isto: ser surpreendido. E surpresas é o que não faltam em O moinho e a cruz. Aliás, o filme é uma surpresa atrás da outra. Em primeiro lugar: o filme é contado por meio de imagens e sons. Para que palavras? Para que diálogos? A força das imagens e dos ecos. Essa é a tônica de O moinho e a cruz. Imagens e sons em movimento inspirados no quadro Procissão para o calvário (1564), de Peter Bruegel, o velho, exposto no Museu Kunsthistorisches, em Viena. Da contemplação minuciosa da obra-prima flamenga, surgiu esta obra-prima polaca. Eu já vira o filme no Instituto NT e meu estupor havia sido tão grande que nem conseguira me manifestar. Acabo de revê-lo na sessão do Clube de Cinema no Cinebancários. Pela sua detalhada e primorosa construção, é o tipo de experiência multissensorial inesquecível indicada para se ver e rever. O som e os ecos são elementos cruciais no efeito estético da obra. As cores. E a profundidade! Parece que todas as cenas foram cuidadosamente planejadas para transmitir um efeito tridimensional. O apuro visual e técnico é realmente impressionante. Rutger Hauer (que vive o pintor Peter Bruegel), Michael York (banqueiro Nicholas Jonghelinck) e Charlotte O porteiro da noite Rampling (Maria) são os principais nomes do elenco desta onírica e perturbadora jornada às raízes do surrealismo.  
 

 

 

 

 

 

 

 


As palavras

Hoje está na moda dirigir filmes em dupla. Nada contra, mas isso não facilita a vida de quem gosta de decorar o nome dos diretores prediletos. De qualquer modo, não vai ser desta vez que Brian Klugman e Lee Sternthal vão entrar nessa seleta lista. Não que As palavras seja um filme descartável. Longe disso. A história de um livro dentro de um livro tem lá seus momentos e conta com a participação de atores de peso, como Jeremy Irons e Dennis Quaid. O também produtor executivo Bradley Cooper encarna o, digamos assim, "protagonista" da história dentro da história. É dele o maior dilema moral da película, o verdadeiro leit motiv desse ensaio sobre autoria/plágio. O escritor interpretado por Dennis Quaid lança o livro The Words. Está participando de uma audição em que o escritor lê parte de sua obra a uma plateia ansiosa. A "trama dentro da trama": o escritor ainda não publicado Rory Jansen (Cooper), em sua viagem de lua de mel, ganha da esposa (Zoe Saldana) uma velha pasta de couro pela qual se interessa.
  Mal sabia o casal que a pasta continha um livro datilografado que vai mudar sua vida. Rory lê o manuscrito e resolve transcrevê-lo, sem mudar uma só vírgula, para o seu computador. O livro é publicado, e ele recebe todos os méritos. Tudo corre bem, até surgir um idoso, interpretado pelo oscarizado Jeremy Irons. O filme se desenvolve nesses dois planos: o da realidade, com o escritor sendo assediado por uma fã louca para ir para cama com seu ídolo, e o da ficção, em que um homem que cometeu um erro terá a chance de se redimir. Num mundo em que o plágio corre solto nos meios acadêmicos e que cada vez menos se dá o crédito aos autores das ideias e das palavras, o tópico vale uma reflexão.

Os intocáveis

Uma das fontes de Os intocáveis é o livro You Changed My Life: A Memoir, de Abdel Sellou. O argelino narra sua experiência inusitada como enfermeiro/motorista/faz-tudo de um magnata paraplégico. Na adaptação fílmica, Omar Sy é Driss, um senegalês sem papas na língua, desbocado, às vezes bruto, mas extremamente eficaz, pragmático e genuíno que cuida do sisudo Phillippe (François Cluzet). De modo não planejado, acaba conquistando um emprego que não queria, mas o desempenha com dedicação e humanidade ímpares. A outra fonte é O segundo suspiro, do milionário Phillipe Pozzo di Borgo, no qual o herdeiro de duas tradicionais famílias francesas conta sua vida e o modo como ela foi afetada pelo acidente sofrido na prática de voo livre com parapente. Claro que a sua relação com o cuidador Abdel também é tópico da obra. Neste filme europeu de estética e ritmo americanizados, a dupla Olivier Kanache e Eric Toledano, que assina o roteiro e a direção, consegue o equilíbrio ideal entre humor e sensibilidade.
 

sábado, dezembro 01, 2012

Era uma vez em Tóquio

 
 
Também conhecido como Viagem a Tóquio (Tokyo Story / 東京物語, Tōkyō Monogatari), este filme de 1953 faz jus à fama de ser considerado pela crítica um dos melhores filmes de todos os tempos. O diretor Yasujiro Ozu (1903-1963) retrata a pungente história de um casal de idosos que mora no interior e vai visitar filhos e netos na capital. A princípio, são bem recebidos, mas à medida que a estadia se prolonga, acabam se tornando um estorvo na vida agitada e ensimesmada dos parentes. Essa é uma sinopse relapsa de um filme encantador e cujo argumento não se resume em duas frases. Com delicadeza extrema, sem pressa nenhuma, Ozu permite ao espectador não só um mergulho na cultura de um povo, mas, principalmente, na natureza de uma espécie que se autointitula Homo sapiens.

Selvagens

O universo das drogas é uma constante no cinema de Oliver Stone. Já abordou drogas das mais variadas. Por exemplo, dois de seus mais importantes trabalhos como roteirista (Expresso da meia-noite, 1978, com direção de Alan Parker, e Scarface, com direção de Brian De Palma, 1983) abordam as consequências de traficar haxixe e cocaína, respectivamente. O primeiro inclusive valeu a Stone um Oscar de melhor roteiro. Nos filmes em que venceu Oscar de melhor direção também há consumo de drogas: Platoon (1986) e Nascido a 4 de julho (1989). Em 1991 dirigiu The Doors, filme regado a sexo, drogas e rock'n'roll. Isso sem falar em Nascidos para matar (1994, roteiro de Tarantino), em que um casal movido pela drogadição deixa um rastro de violência através dos EUA.
Em Selvagens (2012), o cineasta premiado investiga a violência do narcotráfico, com ênfase na droga considerada por muitos inofensiva: a maconha. Dois amigos dividem uma empresa que desenvolve uma variedade mais forte de maconha e, com o diferencial no produto, conquistam o mercado da Califórnia. Dividem também a bela Ophelia (Blake Lively), que acaba raptada por uma traficante concorrente, Elena (Salma Hayek), como forma de obrigá-los a ceder mercado e compartilhar sua variedade superpotente de marijuana. O elenco ainda conta com John Travolta, na pele do indefectível policial corrupto, e Benicio del Toro, em um de seus papéis mais asquerosos. Para livrar Ophelia das garras de Elena, os jovens empresários se envolvem numa inevitável rede de retaliação e de violência desenfreada. Se eu fosse um cara chato e exigente (será que eu não sou mesmo?), eu ia dizer que Stone já fez coisa melhor e que agora "descansa sobre os louros do passado". Mas vou dizer outra coisa. Bom filme em cuja cena crucial toca uma canção que mescla com maestria peso e lirismo: Do ya, da Electric Light Orchestra (confira o clipe original em http://www.youtube.com/watch?v=XLbqJz90VeE).

domingo, novembro 11, 2012

Porto dos Mortos

Um filme não precisa de um roteiro bem amarrado para ser cult. Nem de atores ou diretores famosos. Vai analisar, para ser cult uma película não precisa de muita coisa, não. Uma canção, um carro, um diálogo, uma cena, uma originalidade, uma quebra de paradigmas, uma otimização do baixo custo.  E Porto dos Mortos (Beyond the Grave, 2012) tem tudo isso e mais uma hipnotizante personagem que só fala uma palavra no filme antes da sua talvez prematura eliminação.
Senão, vejamos.

Uma canção: Porto dos Mortos,  composta por Felipe Longhi, é considerada pelo diretor a “canção de sua vida”. Um carro: um dos trunfos do filme, o Maverick preto e seu motor V8 emprestam uma sonoridade que domina o road movie. Um diálogo (?): emblema da falta de comunicação de nossos dias, o garoto caroneiro simula um diálogo com o calado motorista do Maverick. Uma cena: o cinema trash já tem sua clássica e desconcertante cena de escada (ver foto abaixo); os degraus de Eisenstein e De Palma que se cuidem. Uma originalidade: os zumbis, aqui, são um mal a ser evitado, não uma ameaça real e imediata; estão ali, ao redor, e inspiram mais pena do que medo; os retornados são, nas palavras do diretor Davi de Oliveira Pinheiro após a sessão do Clube de Cinema, uma espécie de “direção de arte” do filme.
 Uma quebra de paradigmas: se você vai ver um filme de zumbi, espera ver um zumbi atacar e devorar miolos de pobres humanos; em Porto dos Mortos, porém, a maior e dantesca crueldade é perpetrada por um humano “não infectado” contra um zumbi cego e indefeso. Uma otimização do baixo custo: a película porto-alegrense entra para o rol de cults como Repo Man, Liquid Sky, Bad Taste e El Mariachi, em que orçamentos relativamente baixos são otimizados pela produção; chega a ser comovente o esforço do elenco e dos responsáveis pelas diversas áreas técnicas como figurino, fotografia, som, etc. para obter ótimos resultados apesar do orçamento limitado.
A falta de “alívio cômico” tem uma explicação: o diretor contou para os presentes à sala P. F. Gastal que a cena mais engraçada foi cortada, com o objetivo de manter a unidade e o clima da obra. Pensando bem, existe um humor nas entrelinhas do roteiro, como na mencionada conversa unilateral e nas falas monossilábicas do protagonista. Tudo somado, dos requisitos necessários para se tornar cult, Porto dos Mortos talvez ainda não tenha apenas um: cultuadores.

sábado, novembro 03, 2012

Moonrise Kingdom

Que Wes Anderson é, entre os diretores da novíssima geração, um dos "queridinhos da crítica", isso é sabido e notório. O quanto isso influencia o impacto de seus filmes sobre o público em geral? Quase nada. O "público em geral" não está nem aí para o opinião da crítica tampouco acompanha a trajetória desse ou aquele diretor. Uma pequena parcela de cinéfilos correlaciona cinema com autor, quando isso é possível. No caso de Anderson, indubitavelmente isso é possível. Seus filmes têm a marca da autoria: estilo, ritmo, apuro formal, roteiro com originalidades, presença de atores de peso em papéis inusitados.


Por exemplo, Edward Norton como um monitor de escoteiros meio atrapalhado, que não consegue controlar os meninos sob seu comando. Ou quem imaginaria ver Bruce Willys encarnando o chefe de polícia de uma ilha quase sem habitantes e nenhuma (até prova em contrário) ação? Harvey Keitel como o chefe maioral dos escoteiros? Bill Murray como um advogado sem perspectivas cuja mulher lhe trai com o chefe da polícia? Frances McDormand como a mulher que trai o marido com o chefe de polícia? Tilda Swinton como a impertinente representante do Serviço Social que deseja a todo pano a custódia do órfão Sam (o novato Jared Gilman), que fugiu com Suzy (a também novata Kara Hayward)?
Essas personagens se movem num cenário belo: uma ilha de New Jersey com poucas estradas e pessoas, mas muitas belezas em termos de história, relevo e vegetação. Ali que está acampando um grupo de escoteiros, até que um deles, o problemático Sam, desaparece. Paralelamente, a primogênita de uma família que habita uma das enseadas da ilha também some. Ambos têm doze anos e passam a ser procurados pelas autoridades.
 A partir dessa premissa, Anderson constrói um filme estranho como todos os seus outros filmes, impregnado de uma atmosfera que mescla fábula e realidade de um modo cada vez mais característico. Gostar do cinema de Anderson não é difícil. O difícil é saber descrever o porquê.

A vida útil



A primeira sequência de A vida útil, a premiada e curta segunda película de Federico Veiroj, retrata a rotina dos bastidores de uma cinemateca: acaba de chegar uma remessa de filmes islandeses para uma mostra e os dois responsáveis dividem entre si a tarefa de assistir aos filmes antes da exibição pública.  Um deles é o protagonista deste “conto de cinema”, o subtítulo da obra: Jorge (interpretado por um ator não profissional, o crítico de cinema Jorge Jellinek). Diga-se de passagem, o outro ator também faz sua estreia à frente das câmeras. Figura importante no cinema uruguaio, ex-diretor da Cinemateca Uruguaia, Manuel Martínez Carril é presença frequente no Festival de Gramado.
Mas é bom frisar que A vida útil não é um documentário. Deve aproveitar em seu roteiro, é claro, experiências da vida real de quem respirou/respira esse mundo abnegado e altruísta de cinematecas frequentadas por gatos pingados, com a nobre causa de divulgar o cinema alternativo. Sessões com a presença dos diretores (que, às vezes, reclamam de problemas técnicos na projeção). A chave escondida na embalagem de um filme. O programa sobre cinema na rádio. A amiga convidada para a sessão. Todas essas são cenas do cotidiano de uma cinemateca, sem dúvida.
Como também a luta pela “viabilidade financeira”. Na história, Jorge é o funcionário/voluntário responsável por projetar os filmes, apresentar o programa na rádio, encarregar-se de fazer o social quando vem um realizador, ou seja, é o “faz-tudo” da cinemateca. Ainda mora com os pais aos 45 anos. Tem um alvo na mira: uma professora de Direito, mas ela é uma mulher muito ocupada, pelo jeito.
Quando a cinemateca se vê à beira da insolvência e os antigos parceiros roem a corda e negam o estribo, cai a ficha e Jorge vai ter que procurar outra maneira de sua vida fazer sentido.





Até que chega o fatídico e derradeiro dia em que ele precisa juntar suas coisas. É o último dia de funcionamento da sua amada cinemateca. Ele liga para o “papá” e diz que não precisam esperar por ele em casa. E sai pelas ruas de Montevidéu carregando uma sacola.
Esta parte do filme remete a Um dia de fúria de Joel Schumacher. Como dissemos, Jorge sai do trabalho carregando uma sacola. O que ela contém? Será que armas, como as que Michael Douglas carregou pelas ruas de Los Angeles? O que Jorge fará, que medidas extremas tomará ao ver seu mundo “Falling Down”?


Se ainda não assistiu ao filme, encerre a leitura aqui.


SPOILERS - SPOILERS - SPOILERS- SPOILERS - SPOILERS - SPOILERS


A decisão de utilizar atores não profissionais tem seu ônus: nalgumas cenas é visível o nervosismo do protagonista, enquanto noutras seu desempenho é surpreendente para um amador estreante. Mas o realizador deve ter pesado prós e contras e no contexto a decisão até se justifica.
Paradoxalmente, a película uruguaia tem na curta metragem sua principal qualidade e seu principal defeito: qualidade, pois o filme não contém cenas supérfluas; defeito porque o filme termina passando certa sensação de que “não tinha como terminar”.  

sábado, outubro 13, 2012

Linkin Park em Porto Alegre

12 de outubro de 2012. Dia do agrônomo, da criança e da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. E de Linkin Park no Gigantinho.

Desde já, faço um pacto com o leitor.
Este texto não terá adjetivos além dos que Chaz, um dos vocalistas do Linkin Park, usou para classificar a plateia: amazing, awesome e wild.

A recíproca vale aqui. O público que lotou o Gigantinho pensa o mesmo dos seis californianos, atrasos à parte.
Após o show de abertura da Reação em cadeia, um roadie ameaçou estender, defronte a uma das plataformas com teclados, uma bandeira do Brasil com o símbolo do Inter no meio.

 A tentativa provocou protestos de parte do público, o que obrigou o técnico a retirá-la. Em seguida apareceu uma bandeira do Estado do Rio Grande do Sul, para a ovação e, enfim, unanimidade da plateia, com direito inclusive ao hino do Rio Grande entoado por 15 mil vozes. Um pouco de bairrismo não faz mal a ninguém.
Em seguida um atraso que só aumentou o suspense e a vontade do público de conferir ao vivo o hibridismo e a inovação dos hits dos cinco álbuns da banda.

Por mais rótulos que se deem ao “estilo” do grupo, e apesar das camadas de som que involucram suas canções, o Linkin Park é, antes de tudo, uma banda pop.
Letras pop. Melodias pop.

Se você considerar que “pop” vem de popular, foi-se ao brejo minha disposição de poupar adjetivos.
Mas “pop” é o mínimo que se pode dizer desses caras. Hibridez, inovação, loucura.

 Dois vocalistas se digladiando com precisão e química, uma cozinha (baixo e bateria) que prima pela discrição e pela competência, e um DJ que se apresenta descontraidamente de... chinelos!
Faltou falar do guitarrista, um pândego que toca de bermuda e não tá nem aí para se exibir, quem quiser escutar a guitarra sob a massa de acordes que escute.

O show, ou melhor, a sucessão de sucessos, fez o velho ginásio trepidar como poucas vezes antes, talvez rivalizando com os 17 mil insanos que em 1987 impressionaram o The Cure.
Não tem jeito, entra geração sai geração, no sangue de Porto Alegre (ops, olha mais um adjetivo aí!) pulsa o rock, não importa a jazida, o filão ou o veio.

O Linkin Park não vai esquecer a noite de 12 de outubro de 2012!
 Foto extraída de
 http://www.blog-br.com/uploads/a/AdemirPeixoto/122366.png

domingo, outubro 07, 2012

Hotel Transilvânia

 
O primeiro filme 3-D do Félix, às vésperas de completar cinco anos, foi Hotel Transilvânia. A escolha não podia ter sido melhor: o filme passa rápido e apresenta personagens clássicos da literatura, como Drácula, Frankenstein e o homem invisível. Não é todo filme infantil que cita numa tacada só Bram Stoker, Mary Shelley e H. G. Wells. E, de quebra, também critica a pseudoliteratura vampiresca atual: ao ver uma cena de um filme atual sobre vampiros, o dono do Hotel Transilvânia e pai da vampirinha Mavis comenta, pesaroso: "Então é assim que somos retratados hoje em dia".
O enredo: às vésperas de completar 118 anos, Mavis sonha em sair do castelo-hotel em que mora e conhecer o mundo (leia-se, humanos). Sim, pois seu pai superprotetor criou um lugar onde só monstros são permitidos. Tudo seria perfeito, não fosse um visitante inesperado: Johnny Stein, o adolescente humano que chega para tumultuar (ou turbinar?) a festa de aniversário da linda Mavis. Apesar do final à la Um lugar chamado Notting Hill, o diretor Genndy Tartakovsky (que tem no currículo a animação Star Wars: Guerras clônicas) fez um bom trabalho, homenageando personagens imortais e introduzindo as crianças ao maravilhoso (e tenebroso) mundo dos monstros!

Os infiéis

A prova de que existe gente sem um pingo de senso de humor é o fato de o filme Les infidèles (lançado na França no começo de 2012) ter provocado censuras e protestos em vários países, começando pela própria França, onde os cartazes originais foram proibidos. Protagonizado por ninguém menos que Jean Dujardin (vencedor do Oscar de melhor ator por O artista) e Gilles Lellouche, o filme consiste numa série de episódios cujo tema é (ou deveria ser) a infidelidade, mas acaba sendo um retrato de quanto certos seres humanos (leia-se, seres humanos do sexo masculino na "idade do lobo") são patéticos.
Personagens da primeira historieta voltam na última e confirmam que o filme não pode ser levado a sério. Neste meio-tempo, os dois atores interpretam personagens diferentes ao longo de cada episódio ou vinheta. Numa delas, o peripatético participante de uma convenção (Jean Dujardin) tenta de todas as formas conseguir uma parceira eventual entre as colegas hospedadas no hotel. Noutra, o ortodontista interpretado por Lellouche aventura-se com uma lolita de quem corrigira os dentes. A infidelidade feminina surge também no conto que aborda a conversa de um casal, em que ambos resolvem revelar suas "puladas de cerca". Outra personagem feminina é a terapeuta tenta curar um grupo de viciados em traição em encontros em que cada um conta suas experiências. Apesar de frívolos e hiperbólicos (ou talvez por isso mesmo), os episódios de Os infiéis têm um mérito: podem ser lidos como apologia ou crítica. Traçam uma caricatura crível e até simpática dos/as traidores/as. A certa altura, até a feminista mais radical é capaz de se compadecer do comportamento irremediável do homem que trai. A propósito, o filme não é indicado para feministas ortodoxas (só aquelas com um pouquinho de senso de humor).

domingo, setembro 30, 2012

Na estrada e 360

Walter Salles e Fernando Meirelles, os dois cineastas brasileiros mais influentes e respeitados na indústria cinematográfica da atualidade, lançam em 2012 seus novos trabalhos: respectivamente, Na estrada e 360.
Ambos filmes baseiam-se na obra de dois escritores cultuados e polêmicos: Jack Kerouac e Arthur Schnitzler.
On the Road de Kerouac foi considerado o retrato perfeito de uma geração ao ser publicado em 1957: uma geração obcecada por liberdade e sexo. Por sua vez, a peça teatral La Ronde, do austríaco Schnitzler, foi escrita em 1897, e provocou polêmica por sua ousadia em mostrar como as classes sociais se misturam através do sexo.
Não li Kerouac nem vou ler. A julgar pela adaptação fílmica, o livro não tem história, só acompanha várias viagens e várias aventuras sexuais do amigo do narrador. Algo no espírito de "E aí, comeu?". Dean abandona a esposa com a filha pequena para atravessar os EUA em companhia da ex-mulher. Viagens para preencher o vazio, para aproveitar a vida, experimentar drogas. O filme todo passa uma sensação de vazio existencial e não chegou a me empolgar em nenhum instante. Mas também é longe de ser entediante. Bem ou mal, estamos diante de um "road movie", e um road movie baseado no mais famoso "road book" de todos os tempos. E Salles é um bom diretor de atores e consegue boas atuações de Garrett Hedlund, Sam Riley, Kirsten Dunst e até de Kristen Stewart.

360 acompanha a trajetória de personagens que, como elos de uma corrente, vão se entrelaçando até formar um círculo completo, de volta ao início.  O roteiro do filme de Meirelles apresenta certos ingredientes como surpresa, algumas cenas e desfechos desconcertantes. Talvez eu leia Schitzler. No geral, é uma experiência mais compensadora.
 Mas tanto Na estrada como 360 enchem de orgulho os cinéfilos brasileiros, pois é a comprovação do talento de cineastas nacionais no mercado internacional.
   

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, setembro 10, 2012

Morus nigra

Pintam calçadas e mãos.  Remetem à infância.  Refestelam passarinhos, atletas e pedestres. Renovam energias de ávidos predadores. Salvam o dia com seu sabor agridoce.

Dedos manchados, pedras sarapintadas de púrpura. No parque, no campus, na beira das ruas.
Uma moça sobe no pilar do muro do DMAE. Um atleta de fim de semana dá uma pausa. O dono de um cachorro se distrai. Três moças fazem uma parada estratégica. Um universitário faz a sobremesa.

Setembro! É a nova safra das amoreiras de Porto Alegre.
No Parcão, na Redenção, no Campus do Vale, na PUC, na praça da Encol, no DMAE.

Colhidas direto da fonte, as amorinhas fazem a festa de quem passa.
Espalhadas na selva de pedra, as amoreiras de Porto Alegre pintam calçadas e mãos. E salvam o dia com seu sabor agridoce.

Foto extraída de: http://www.institutohorus.org.br/index.php?modulo=inf_banco_imagens_morus_nigra

sábado, agosto 25, 2012

Além da liberdade

Um filme é um filme é um filme, como diria Gertrude Stein. Ao que eu acrescentaria: um filme de Luc Besson é um filme de Luc Besson é um filme de Luc Besson. O cara que levou Jean Reno ao estrelato (mais ou menos como Almodóvar fez com Banderas) e deixou atônitas plateias de filmes como, entre outros, Imensidão azul (1988), Nikita (1990), O profissional (1994, que lançou ninguém menos que Natalie Portman), O quinto elemento (1997) e Joana d'Arc (1999) agora focaliza com sua câmera a Birmânia.
The Lady (Além da liberdade, 2012) conta a trajetória de Aung San Suu Kyi (Michelle Yeoh), a guinada em sua vida, passando dos afazeres domésticos e literários, exercidos na Inglaterra, para a atuação política no país natal. O fator desencadeador é o derrame sofrido pela mãe de Suu Kyi, o que leva a filha a retornar ao país, governado com mão de ferro por uma ditadura militar. Sendo a filha do herói birmanês assassinado pelas mesmas pessoas que agora detêm o poder, desde o momento em que ela pisa em solo birmanês, seus passos são vigiados pelo regime. Casada com Michael Aris (David Thewlis), professor de História, e com dois filhos, ela subitamente se vê num dilema: escolher entre família ou nação. A situação encrudesce e Suu Kyi acaba em prisão domiciliar. Para chamar a atenção do mundo para a situação birmanesa, Michael Aris encaminha a candidatura da esposa para o Prêmio Nobel da Paz de 1991. Destaque para a presença do U2 na trilha (e na camiseta do Joshua Tree que um dos filhos da protagonista usa numa cena). O roteiro procura involucrar muita coisa num tempo relativamente exíguo: política, liberdade, relações familiares, amor e distância entre marido e mulher. Cabe ao espectador avaliar o quão bem Luc Besson se desincumbiu da tarefa.

sábado, junho 16, 2012

Deus da carnificina

Com roteiro adaptado da peça de Yasmina Reza, encenada pela primeira vez em dezembro de 2006 em Zurique, Deus da carnificina é uma “comédia dramática” (seja lá o que isso quer dizer) com qualidade rara hoje em dia: a metragem de 80 minutos, ideal para quatro atores brilharem com diálogos ácidos sob a direção cirúrgica de Polanski.
Enxuto mas ao mesmo tempo claustrofóbico, afinal Nancy e Alan (Kate Winslet e Christoph Waltz), por mais que tentem, parecem não conseguir escapar da sala de Penelope e Michael (Jodie Foster e John C. Reilly). O motivo do encontro é que, numa briga ocorrida dias antes no parque, o filho dos anfitriões teve dois incisivos fraturados por um golpe de um bastão desferido pelo filho dos visitantes. Penelope deseja que o menino agressor peça desculpas ao filho dela.
A conversa, porém, vai tomando rumos inusitados, em meio a “tramas paralelas”, quais sejam, os celulares a toda hora tocando. Roteiro cortante, direção simples, atuações notáveis: sem dúvida, Deus da carnificina é filme para se ver duas vezes.

domingo, abril 01, 2012

Inquietos

Inquietos é fruto do poder de Gus Van Sant. Um diretor iniciante não se daria ao luxo de fazer um filme tão pueril e autocondescendente assim. A naturalista e doente terminal Annabel (Mia Masikowska) e o frequentador de funerais Enoch (Henry Hooper, filho de Dennis) se conhecem, e a amizade dos dois desafia a fugacidade da vida e a antissocialidade mórbida. A construção tênue do filme, que inclui a existência do amigo imaginário Hiroshi, um piloto kamikaze, serve de metáfora aos próprios temas abordados. Caso inusitado de filme cujo maior defeito (ser frágil) é também a melhor qualidade.

terça-feira, janeiro 17, 2012

As aventuras de Tintim

Ninguém precisa ler biografias sobre Spielberg para notar que o diretor de As aventuras de Tintim leu pouco na infância. Também não é preciso 3-D para saltar aos olhos que a psicologia dele continua sendo a mesma do escoteiro que, ansioso, mostrou aos colegas um filme de sua autoria. Spielberg quer agradar as massas. Isso esclarece muito sobre a importância que As aventuras de Tintim dá ao que os fãs de Hergé vão pensar. Ou seja, nenhuma.

Ler pouco, aqui, significa ler gibis apenas. E olhe que Spielberg não leu nem Tintim. Tenho lá minhas dúvidas, também, que o dinâmico trio de roteiristas tenha lido os 23 álbuns da coleção. Será que leram ao menos O segredo do Licorne e O tesouro de Rackam, o Terrível? Algumas poucas cenas dos dois álbuns são aproveitadas em As aventuras de Tintim, e nas raras vezes que isso acontece, os fãs das histórias de Hergé se regozijam.
Edgar Wright e Joe Cornish (dupla que assina o roteiro de Ataque ao prédio), com a ajuda do estreante Steven Moffat, pasteurizaram Tintim. Indianajonizaram Tintim. Na melhor das hipóteses, modernizaram Tintim, na ânsia de torná-lo mais apetecível às novas e novíssimas gerações.

Pensando bem, eles devem ter lido a coleção toda, sim. Imagino inclusive que tenham recebido “carta branca” para fazer uma mixórdia de citações e uma cornucópia de situações. Toda e qualquer “cena de ação” poderia ser pinçada de outros álbuns e acrescentada ao enredo. E, é claro, uma ou outra “criação original”, como atesta a esdrúxula cena dos guindastes no porto.
É preciso fazer justiça: algumas misturas funcionam, como a participação da carismática Branca Castafiore. Mas nada, absolutamente nada, perdoa a ausência do professor Girassol.
A pergunta inevitável: eu gostei de Tintim pasteurizado, indianajonizado e modernizado?
A resposta irrefutável: claro!
O tintinófilo é, antes de tudo, um cinéfilo.
E até mesmo os tintinófilos mais ortodoxos têm lá seus motivos para gostar de As aventuras de Tintim.
Milu não fala nem pensa como nos quadrinhos de Hergé, mas em compensação Spielberg e seu trio parada dura de roteiristas nos reservam sequências em que o cãozinho-de-pelagem-de-neve revela toda a sua perspicácia.
A Tintim, por mais descaracterizado, sobram ainda resquícios de sua magnética personalidade. Tintim é honesto, intimorato, arguto, direto. No filme de Spielberg essas qualidades transparecem.
O capitão Haddock é o trunfo da adaptação, o personagem mais fielmente transposto à tela. E é por meio de Haddock que o filme se sustenta. As idiossincrasias do velho lobo do mar provocam risos no público, mais ainda naqueles que cresceram (?) aprendendo, nos balões de Hergé e no palavreado sui generis do capitão Haddock, xingamentos como flibusteiros, sacripantas, bucaneiros, cataplasmas, marinheiros de água doce, cornamusas, etc.
Os atrapalhados gêmeos Dupont e Dupond também receberam a merecida relevância.
Sobre os ‘aspectos técnicos’: seria, além de redundante, desnecessário, mencionar que os efeitos de captura de movimentos impressionam pela perfeição e que a escolha desse método híbrido e inovador foi (é) eficaz.
Pergunto-me o que Hergé acharia se pudesse assistir, seja lá de onde ele esteja, ao filme inspirado em sua obra. Misto de orgulho com surpresa? Quem sabe, uma ponta de decepção pelas “liberdades” tomadas?
Uma coisa é certa: se Hergé, o gênio dos quadrinhos, assistisse ao filme sem os pudores de autor que teve a obra adulterada, teria que reconhecer: Spielberg é um gênio do cinema.

sábado, janeiro 14, 2012

SPIELBERG: SHALLOW OR SUBSTANTIAL?



SHALLOW OR SUBSTANTIAL:

SPIELBERG’S BLOCKBUSTER POETRY



A paper by HENRIQUE DE OLIVEIRA GUERRA

CONTENTS

INTRODUCTION

1. FILMS AND SOCIETY

2. SHALLOW SPIELBERG

3. SUBSTANTIAL SPIELBERG

FINAL CONSIDERATIONS

REFERENCES


INTRODUCTION

This paper aims at investigating the cultural and (if there is some) social influence of Steven Spielberg over American and world audiences throughout the past 35 years, since the smashing success of Jaws (1975). My motivation is try to understand his work as a whole and to see to which extent this work was essential (or no) in shaping American culture (and, why not, global culture) during this time. By writing this paper I want to be able (and, I hope, the readers by reading it) to offer more consistent answers to questions such as: Can films actually influence people’s opinions and standpoints? Why do some scholars around the world despise Spielberg? Is success incompatible with a deeper, more intellectual culture? Are Spielberg’s movies worth seriously discussing?

In order to achieve these goals, I structured this paper in three parts. First section deals with general, sociological aspects concerning the film industry and its impact on mass culture. Some books about the subject are quoted, mainly regarding the question of how movies have been influencing culturally and socially the audiences since the 1890s. This initial part is important because it will give the basis to the following discussions on Spielberg’s films.

The second part investigates why some Spielberg’s movies are considered superficial and why some scholars and “intellectuals” consider most Spielberg’s movies shallow. The emphasis on this section is to quote reviews which stress negative aspects of his work as a whole. Some aspects of Spielberg’s biography will be covered, mainly when these life facts can throw some light to Spielberg’s so-called “superficiality”.

The third part is dedicated to a new way of considering Spielberg’s films. Since 1993 – the year Schindler’s List gained huge audiences, and the Academy finally awarded Spielberg an Oscar –, Spielberg’s films started to be seen with more attentive, thoughtful eyes. Nowadays his work is being increasingly studied. Every aspect of his movies is being explored, from technical to sociological and even philosophical.

Last but not least, a brief section called “Final considerations” sums up the main ideas of the paper, followed by a list of references.

1. FILMS AND SOCIETY

From its very beginnings it was clear that the “seventh art” had an amazing ability to both awe and move audiences. Those first days when movies had no sound going to theaters became a habit to millions of Americans. Steven Ross, in his preface to Movies and American Society (2002), gives astounding numbers: by 1914, all American towns with over 5,000 inhabitants had movie theaters; by 1920, there were 15,000 theaters all over the USA, and 50 million Americans (nearly half the population) flocked to one of them weekly; by 1930, almost 100 percent of the nation’s population were moviegoers. People from every class had access to the cinema. Robert Sklar, one of the first authors who investigated social influences of the film industry, with the book Movie-Made America (1975), points out that this “new medium of entertainment” was discovered by “the urban workers, the immigrants and the poor”.

Another author, John Belton (American Cinema, American Culture, 2005), explains that industrialization and the rise of mass culture gave rise to two movements: populism and progressivism. The roots of populist ideology were the very ideals of Jeffersonian tradition. The contact with Nature and association with land were the main virtues of the American citizenry. Ownership of property meant power and independence. Populism opposed big business, industrialism and commercial agriculture, and believed that progressive ideologies hampered the individual’s pursuit of happiness. John Belton argues: “Much of American cinema can be mapped in terms of its relation to notions of political, social, cultural, and economic reform articulated by populist and progressive ideologies” (Belton, 2005).


Belton continues his analysis by giving examples of how “American masculinity survived the onslaught of modernity”. One of the instances he chooses is Steven Spielberg’s Jaws (1975), where the character portrayed by Roy Scheider (Chief Brody) “opposes civic corruption and battles a great white shark, proving that in modern America one man could still make a difference”. Movies like It’s a Wonderful Life (1946), by Frank Capra, represent the “‘lost Eden’ of small-town America”, while movies like Taxi Driver (1976) show the nightmares of urbanization. In other words:

The boundaries of the American cinema are defined by these two diametrically opposed visions—the utopian vision found in Capra, Spielberg and others and the dystopian vision found in film noir, Scorsese, Lynch, and others. These two visions constitute a single, larger, more complex vision that represents the deeper contradictions within the American psyche (Belton, 2005, p.xxii).

That movies can move audiences nobody has doubts. But can movies change people’s behavior and way of thinking? Are movies really culturally and socially influential? Robert Sklar provides a good answer: “American movies, through much of their span, have altered or challenged many of the values and doctrines of powerful social and cultural forces in American society, providing alternative ways of understanding the world” (Sklar, 1975).

Not so different is Steven Ross’s opinion. For him, more than just entertainment, films are “(…) historical documents that help us see – and perhaps more fully understand – the world in which they were made” (Ross, 2002). He holds that movies both reflect and shape changes in society. Movies not only show people how to dress, look and buy, but also teach them how to think about relevant issues such as race, class, ethnicity, politics and gender. Besides, Steven Ross adds that the cinema is a medium which combines entertainment and politics in a form highly accessible to world audiences. He exemplifies how movies help to raise public consciousness:

Movies depicting the evils of child labor, the demand for women’s suffrage, the financial hardships of the elderly, the tragedy of racism, and the problems of sexual discrimination helped raise public consciousness and in so doing helped ease passage of bills aimed at remedying these problems (Ross, 2002, p.4).

Another important question mentioned by Ross refers to audience reception. Initially, scholars assumed that movies acted as “hypodermic needles”, that is, audiences interpreted movies through filmmakers’ intentions. According to this view, movies helped to maintain the status quo instead of making people question the fundamental tenets of their societies. Nowadays, a new generation of scholars demonstrated that moviegoers were not blank slates and did not passively accept everything that was shown on the screen.

Among this new generation probably is Tom Stempel, who published the book American audiences on movies and moviegoing (2001). Through questionnaires, Stempel collected opinions and impressions of many moviegoers about movies in general. He devoted one chapter to Spielberg’s movies. The chapter starts with this sentence: “The most commercially successful director, and certainly the best known to the public, since the seventies is Steven Spielberg” (Stempel, 2001). Moviegoers tell how they were impressed, surprised, marveled, thrilled and even bored by Spielberg’s movies. No matter the reaction of the audience, most people emphasized the importance of Spielberg in their future relation with the cinema. It is interesting to think that the same respondents to the questionnaire are probably people who grew up in the 1970s and the 1980s watching Spielberg’s movies – the same generation which today occupy important positions in firms and governments.

On his own turn, John Belton believes that there is extreme complexity in the relationship among American cinema and American identity. “Each shapes and is shaped by the other in a constant process of mutual determination” (Belton, 2005). This reasoning could be applied in more international terms, if we consider the nowadays cinema globalization. The relation between world cinema and world identity is extremely complex. Each helps to determine the other in a never-ending flow.

More specifically, Belton is worried with how the American cinema contributed with national identity. According to him, films act as a cohesion element in periods of cultural transition and instability. While I quote the following Belton’s words (which emphasize the important of American cinema to American identity), I wonder how this same American cinema influences national identities other than American:

More importantly, the American cinema plays a crucial role in assisting audiences in negotiating major changes in identity; it carries them across difficult periods of cultural transition in such a way that a more or less coherent national identity remains in place, spanning the gaps and fissures that threaten to disrupt its movement and to expose its essential disjointedness (Belton, 2005, xx).

Does Spielberg’s filmography span gaps and fissures of American identity? In the next topic I turn my attention to Spielberg, his background, some criticisms he has been receiving, and prejudices evoked by his work. Some of these prejudices help to explain why he is sometimes considered “shallow”.

2. SHALLOW SPIELBERG

If movies can change society, one logical assumption is that the movies of the nowadays most influential director have been shaping moviegoers minds, and therefore, their cultural and social standpoints since the mid seventies. Just to give an example of Spielberg’s importance, let’s consider one easily found (and incredibly shallow) guide called 501 Movie Directors. Anyone who briefly takes a look in this guide in a bookstore can verify: Spielberg (besides being on the cover) receives four pages, while other important filmmakers – such as Australian Peter Weir – deserve only one page. And I defy any creature in the whole world to prove me that Peter Weir is shallower than Spielberg.

What is to be shallow, anyway? I mean, cinematographically speaking. A good explanation is found in one of Pauline Kael’s fine essays about movies. More specifically, On the future of the movies, originally published in The New Yorker magazine, in 1974, and later compiled in Raising Kane and other essays. Kael – one of the most respected movies critics of all times – suggests (even though she does not actually use the word ‘shallow’) that shallow movies are those which people cannot discuss after the lights are on. In other words, shallow movies are those consumed entirely in the movie theater, those movies that do not provoke further thoughts and debate. She criticizes the new generations of high school and college students who enjoy movies that make the whole job for them; and she sadly concludes that people more and more prefer what is obvious and easy to swallow (Kael, 2000).

How would you classify, for instance, Spielberg’s latest movie as a director, Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull (2008)? Have you seen this movie? If the answer is yes, do you remember anything about the plot? Does the movie convey any social message? After watching it, did you go to a bar with your intellectual friends and discuss its many aspects? Is anything worth discussing in it, by the way? Now, apply the same questions to Munich (2005). By this reasoning, one could label (at least in a shallow look) the former as a good example of Spielberg’s “shallowness”, and the latter of his “substance”.


The same way one can ask himself “Does being popular mean be shallow?” he or she can add the question “Can talent be measured with school grades?”. The common sense answer for both questions would be “Not necessarily”. No wonder that in Portuguese common sense is “bom senso”.

Spielberg’s biographers are almost unanimous in affirming that Spielberg had poor grades in high school. That’s why he had problems with getting a position in a good cinema college. These poor grades would arise from Spielberg’s poor abilities in reading. Through his childhood, he preferred watching TV to reading literature (Powers, 2005). The only type of “literature” he enjoyed was comic books. Maybe this could help explain the visual strength of his movies.

The purpose of this paper is not to make a Spielberg’s profile. But I find pertinent to mention just two more facts: when he was a 6-year-old kid, his father woke him up late at night. They both drove into the countryside to watch a meteors rain (Powers, 2005). This experience was never forgotten by Steven. In my point of view, this memorable night explains some of the Spielberg’s fascination for everything that comes from space. Another important fact in his childhood occurred when he showed his Boy Scouts group a movie that he had made. The reaction of acceptance thrilled the little Steven in a way he would never forget.

In a book of interviews, Spielberg comments this event: “For me nothing’s changed from the first day when I was a twelve year old and showed a 8 millimeter movie I had made to Boy Scouts” (Friedman & Notbohm, 2000). The relevance of this emotion is emphasized by the authors of Steven Spielberg: interviews. A collection of various interviewers, 1974-1999:

Spielberg’s psyche remains indelibly stamped by this childhood image of himself as a perpetual outsider and of filmmaking as the key to acceptance. His aesthetic sensibility, therefore, is almost always bent to his ongoing need for us to like his films – and by extension the man himself (Friedman & Notbohm, 2000, Introduction, xi).

However, sometimes not even Spielberg manages to please audiences. Sometimes, even his most passionate fans and movie critics who generally appreciate his work are let down by his movies. Referring to Hook (1992) and Always (1989), two of the most unsuccessful Spielberg’s movies, Friedman says: “It’s more fun to talk about Hook and Always than to watch them. Neither offers a sustained sense of pleasure or the complexity of Spielberg’s finest works.” (Friedman, 2006).

Jean Tulard, in his Dictionnaire du Cinéma – Les Réalisateurs (Dicionário de Cinema – Os Diretores, L&PM), speaking of Jaws (1975) and Close Encounters of the Third Kind (1977), classify both movies as “neither innovating regarding the script, nor convincing regarding the interpretation”; both movies are “highly puerile, mainly in the moral they convey” (Tulard, 1996).

Pauline Kael was on the top of her career when Spielberg was starting (the seventies). Julie Rigg, writing a tribute on Kael’s work, quoted a Kael’s review on Spielberg’s first cinema movie (he had already directed Duel [1971] for television):

The Sugarland Express is like some of the entertaining studio-factory films of the past (it's as commercial and shallow and impersonal) yet it has so much eagerness and flash and talent that it just about transforms its scrubby ingredients. The director, Steven Spielberg is twenty six, I can't tell if he has any mind, or even a strong personality, but then a lot of good moviemakers have got by without being profound.

While considering worth studying Spielberg’s work, other authors acknowledge the scholarly despise and prejudice that his movies inspire. Warren Buckland, author of Directed by Steven Spielberg: Poetics of the Contemporary Hollywood Blockbuster (2006), comments: “Just as traditional critics in the 1950s did not consider the work of Hitchcock, Hawks, et al. to be worth as analyzing as films, film scholars today do not consider Spielberg’s film style and narration to be worthy of study.” Friedman and Notbohm, in the interviews book mentioned above, confirm that Spielberg is seen with contempt by “most film scholars”, who “contemptuously dismiss Spielberg as little more than a modern P. T. Barnum, a technically gifted and intellectually shallow showman who substitutes spectacle for substance.” They regret that too little efforts are made “to analyze the components of his essential worldview, the issues which animate his most significant works, the roots of his immense acceptance, and the influence his vast spectrum of imaginative products exerts on the public consciousness.”

Stephen Jay Gould accepted an invitation by Mark Carnes to analyze one of Spielberg’s most stunning successes: Jurassic Park (1993), based on Michael Crichton’s book. Gould’s essay appears in the collection Past imperfect: History According to the Movies. Gould criticizes two mistakes of the movie (while highlighting that he, as economist Pareto, prefers a fruitful mistake to a sterile truth): 1) insufficient acknowledgment of Nature complexity; and 2) stereotypes of science and History. These mistakes are even more frightful when you consider that some science teachers (for instance, in Porto Alegre, Brazil) showed the movie to their students without pointing out the scientific weaknesses of the movie. One Spielberg’s defender could reasonably argue that despite the scientific superficialities of Jurassic Park, the movie had the merit of calling attention to biological and paleontological studies, and to provoke ethical discussions about cloning.

To end this section of the so-called “shallow” and “puerile”, it would be appropriate to add some comments regarding two at first sight shallow Spielberg’s movies: Jaws and E. T. Prized by Pauline Kael as “the most cheerfully perverse scare movie ever made”, Jaws (1975) combines classical Hollywood genres (monster movie, slasher film, thriller, buddy film, chase film). Based on a novel that sold 7 million copies, the movie ends stressing the friendship between three men. Because of its fantastic action and suspense sequences, the movie became a “must-see” movie in 1975. The proof that the white shark not only attacks in “shallow waters” but also makes his way in “deeper”, bluer sea, is this very paper. I could write an essay only about Jaws if I wanted to. The movie inspired a lot of publications, even one of Brazilian cartoonists. I think it would be not stupid to say that Jaws both thrills and provokes some (at least superficial) thoughts.

As for E. T. (1982), although superficial in form, it has the merit of showing to whole generations how big (and deep) the universe is. Rolf Jensen (1999, quoted by Buckland, 2006) identifies six basic types of emotions that are essential to advertising: adventure, love and friendship, care, self-identity, peace of mind, and beliefs and convictions. According to Buckland, Jensen’s list of six emotions can easily be found in Spielberg’s films – and, taken together, they seem to sum up the emotions conveyed in E. T. (Buckland, 2006).

Ten years have passed since Friedman & Notbohm regretted that too few books have been made seriously addressing Spielberg’s work. During these ten years, I think, the situation has changed. As one can see by mere looking at some references of this paper, interest in Spielberg’s work is increasing. His movies have recently inspired a lot of research and books, even philosophical essays! (One of them, by the way, entitled What is wrong with cloning a dinosaur? Jurassic Park and Nature as a Source of Moral Authority, by James Spence). Next section will explore what gives substance to Spielberg’s movies and discuss some of the latest developments in the way his movies are seen.


3. SUBSTANTIAL SPIELBERG

Last section I quoted Jean Tulard and Pauline Kael criticizing some aspects of Spielberg’s work. However, both Tulard and Kael’s general opinions about Spielberg gradually became favorable. Despite his “shallow” and “puerile” movies, he would be a talented filmmaker after all. Tulard affirms that “his fabulous recipes make him an accomplished producer-director” and that Schindler’s List is a “profound, dramatic vision of the Jew holocaust” (Tulard, 2000). Kael acknowledges Spielberg’s talent in her essay On the future of the movies.


As for the question if a movie can be popular and deep at the same time, according to Spanish writer and reviewer Javier Ortega, author of Diario de un cinéfilo distraído (2001), the answer is yes. In his book Spielberg, el hacedor de sueños, he holds that there is a class of moviemakers who both entertain the audiences and make them think. These directors manage to produce honest, extremely delightful movies that can be enjoyed by great audiences and at the same time be full of interpretations and meanings of no little substance. “Among this class of filmmakers, Steven Spielberg is, in my point of view, both commercially and artistically speaking, the most talented and brilliant” (Ortega, 2005, my translation from Spanish).

Warren Buckland (2006) analyzes Spielberg technical virtuosities. “Spielberg does not invent a new film language, but manipulates the existing language in a distinct and completely effective manner to create a quality specific to his films.” For Buckland, Spielberg’s long takes display a mastery of vision similar to poetry. “Spielberg’s poetics is based on his internalization of a series of highly ritualized skills and habits, which constitute his tacit knowledge. This tacit knowledge enables Spielberg to make a series of (usually consistent) choices in the construction of his blockbuster films” (Buckland, 2006). Buckland tells that the “blockbuster era” became dominant from 1975. The Movie Brats are a group of blockbuster directors, usually college educated, such as Coppola, Lucas and Spielberg. These guys recycled classical B-movie genres using A-movie budgets.

Buckland also emphasizes the task of the director: “Like the orchestra’s conductor, the film director manages the film’s total design.” The director’s job, according to Buckland, is to create what is absent in film’s discrete parts – an added value that emerges from the combination of parts into an organic unity. Through organic unity the parts reach their best possible level of integration. “In an organic unity, all the parts interrelate to create the whole” (Buckland, 2006).

To which extent can Spielberg be considered an auteur? According to Buckland, together with a handful of contemporary directors, Spielberg is an auteur, but not because he works against the Hollywood industry (as the auteurs in classical Hollywood). Instead,

(….) Spielberg is an auteur because he occupies key positions in the industry (producer, director, studio co-owner, franchise licensee); he is therefore attempting to vertically reintegrate the stages of filmmaking – but, unlike classical Hollywood, the integration is under the control of creative talent, not managers (Buckland, 2006, p. 15).

Friedman (quoting Scott) agrees with this vision: “Ironically, it is Steven Spielberg, the child of the studio system, who has become America’s truly ‘independent filmmaker, able to do his work with minimal creative interference and with very little budgetary constraint’” (Friedman, 2006).

This same author, together with Brent Notbohm, cites that five Spielberg movies are among the 100 best films of all time recently identified by an American Film Institute poll. These five movies are: Schindler’s List, E.T. The Extra-Terrestrial, Jaws, Raiders of the Lost Ark, and Close Encounters of the Third Kind. They conclude: “Given the totality of his input into our national consciousness, the combined products of Spielberg’s imagination represent a ubiquitous cultural force whose influence extends far beyond the confining screens of local metroplexes” (Friedman & Notbohm, 2000).

But when in Spielberg’s career did people start to take him more seriously? According to Nigel Morris (2007), “the shift came after Schindler’s List (1993).” Lester Friedman totally agrees with this standpoint, considering what he wrote in Citizen Spielberg:

While earlier films like Close Encounters of the Third Kind and E.T. emerged from deeply personal needs and obsessions, his latest productions turn toward broader social concerns such as racism and prejudice (Amistad and Schindler’s List), historical and cultural memories (Saving Private Ryan), humanity’s place in a technological world (A. I.), governmental intrusion (Minority Report) and restriction (The Terminal), invasion and annihilation (War of the Worlds), and personal identity (Catch me if you can) (Friedman, 2006).

All these films cited by Friedman were released after 1993, therefore confirming Morris’s opinion. Friedman then divides Spielberg’s movies in four categories: Action/Adventure Melodramas, Monster Movies, World War II Combat Films and Social Problem/Ethnic Minority Films.

For Dean Kowalski (the author who compiled essays to publish in 2008 the book Steven Spielberg and philosophy: we are going to need a bigger book), “no film director has had more impact on popular culture than Steven Spielberg.” By the way, the subtitle of the book makes a paraphrase to Roy Scheider’s comment in Jaws (we are going to need a bigger boat). Kowalski first mentions the controversy in the philosophy of film and in the philosophy of pop culture about whether a film “does” or no philosophy similarly to trained philosophers. “If ‘doing philosophy’necessarily requires constructing arguments and defending their premises via logical analysis”, explains Dean Kowalski, “it seem unlikely that popular film accomplishes that. But it cannot be denied that movies raise philosophical questions and sometimes offer suggestions about their answers” (Kowalski, 2008).

Steven Spielberg and philosophy: we are going to need a bigger book covers different philosophical topics, such as: the recovery of childhood and the search for the absent father, the paradox of fictional belief, ethics of alterity, the tragic sense of life, cloning, ethics of the family, human rights, terrorism. For Joseph McBride, one Spielberg’s biographers, the publication of this book is a “sure sign that Steven Spielberg has finally been accepted into the academic canon after many years of being unfairly disparaged as a superficial entertainer”.

All in all, since 1962, when he won “Canyon Films Junior Film Festival”, with a 40 minute World War saga titled Escape to Nowhere, Spielberg has been building a solid career as a filmmaker. After 1993, his movies became more preoccupied with deeper issues. But (with a little effort) even his first movies can be thought-provoking. I would like to appropriately close this section with a quote:

The Steven Spielberg who emerges through these interviews is a complex amalgam of businessman and artist, of arrogance and insecurity, of shallowness and substance. For good or for ill, Spielberg has emerged as a larger than life figure within American society, a cultural force that shapes our times and inhabits our dreams (Friedman & Notbohm, 2000, xiii-xiv).

FINAL CONSIDERATIONS

Writing this paper was both an exercise of academic skills and a labor of love. Not that I love Spielberg, I would not put it that way. But if I said I love the movies I would not be far from the truth. And if I said that Spielberg is in my Top Ten Directors list I would not be lying either. As a cinephile, I enjoy every phase of his career. I think this must have become clear to the reader even before I am actually writing it.

Writing this paper gave me new insights about important topics, such as social relevance of the movies. I was surprised that this is already a broad field of study and that there are plenty of books that one can read about it. Furthermore, I became aware of things I did not know concerning the subject of paper, such as details of Spielberg’s life and technical decisions. And I came to know a lot of books written about different aspects of his work. Throughout this process, my admiration for Steven Spielberg did not specially grew. Instead, my comprehension of his works as a whole and his evolution towards maturity certainly grew a lot. I can see some things clearer now.

As for the questions I asked myself in the introduction, I would not dare to say that now I have the answers for them. But it can be said that according to the readings and quotations of the first section, it is generally agreed that yes, films can actually influence people’s opinions and standpoints. Some scholars around the world despise Spielberg because of his power, I think. Is success incompatible with a deeper, more intellectual culture? A lot of people do no think so. Are Spielberg’s movies worth seriously discussing? Again, considering the amount of books and essays recently published concerning this very topic, the answer is yes.


As far as I can see, Spielberg will continue to intertwine shallower movies with more substantial ones. After Munich (2005), Spielberg made a new Indiana Jones, and prepares for the next year a movie about Tintin, the memorable reporter created by Belgian cartoonist Hergé. At first sight, it is only one more product of Spielberg’s “blockbuster poetic”. However, everyone who read Tintin albums as a kid knows that Tintin travels every country, pilots every vehicle, and fights every villain. But I can assure you one thing: there is nothing shallow about Tintin.

REFERENCES

Belton, John. American Cinema, American Culture. 2nd edition. New York: McGraw-Hill, 2005

Buckland, Warren. Directed by Steven Spielberg: poetics of the contemporary Hollywood blockbuster. New York: The Continuum International Publishing Group, 2006.

Friedman, Lester D. Citizen Spielberg. University of Illinois Press, 2006.

Friedman, Lester & Notbohm, Brent. Steven Spielberg: interviews. A collection of various interviewers, 1974-1999. University Press of Mississippi, 2000.

Gould, Stephen Jay. O parque dos dinossauros. In: Carnes, Mark (org.). Passado imperfeito: a história no cinema. Rio de Janeiro: Record, 1997.

Kael, Pauline. Criando Kane. Rio de Janeiro: Record, 2000.

Kael, Pauline. Condensed Review of Jaws. Available in: A Goldmine of Pauline Kael Reviews . Access in July 2, 2010.

Kowalski, Dean. Steven Spielberg and philosophy: we are going to need a bigger book. Lexington: The University Press of Kentucky, 2008.

Ortega, Javier. Spielberg, el hacedor de sueños. San Pablo: Berenice, 2005.

Powers, Tom. Steven Spielberg. Minneapolis: Lerner Publications, 2005.

Rigg, Julie. Pauline Kael – A Tribute. Available in: < http://archive.sensesofcinema.com/contents/01/17/kael.html>. Access in July 2, 2010.

Ross, Steven. Movies and American Society. Padstow, Cornwall: Blackwell Publishing, 2002.

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This paper was originally written for the course American Culture, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, first semester of 2010. This version contains the changes suggested by Professor Marta Oliveira.