Dersu Uzala venceu o Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro em 1976. O espectador incauto que começar a ver esse filme, com
ares de crítico, poderá pensar: "Esse filme envelheceu". Ou é da época
em que o fotograma era barato. Passam-se dez minutos em uma conversa ao redor
de uma fogueira. Acontece que Dersu Uzala é um filme sobre a
amizade. E amizade verdadeira não se constrói assim, de um minuto para o outro.
Além disso, pressa nunca foi o forte de Akira Kurosawa. Seus filmes têm um
ritmo específico, uma lentidão ilusória, um estilo, enfim. O estilo é o homem,
já disse Buffon. E o estilo de Kurosawa é esse, e ponto final.
1902. Uma equipe russa de topografia
faz levantamentos nas selvas montanhosas da Sibéria. Uma noite, aparece um
caçador no acampamento. Não tinha conseguido caçar aquele dia. O capitão o
convida para jantar. Seu nome: Dersu Uzala. Logo vê que aquele estranho, sem
ninguém no mundo, é o homem ideal para ter como guia naquelas montanhas
desconhecidas. E faz o convite.
No dia seguinte, Dersu toma a frente
do destacamento, aceitando a confiança depositada pelo capitão. E não
decepciona. É especialista em achar trilhas e decifrar pegadas. Certa manhã,
após o grupo pousar numa cabana abandonada, Dersu pede ao capitão fósforos, sal
e arroz. Intrigado, o capitão indaga o porquê. Para dar recursos às pessoas famintas
que chegarem à cabana.
Com seus pequenos atos, Dersu
conquista a admiração de todos. Sequência clássica é aquela em que o capitão e
ele se afastam do grupo e se veem perdidos no gélido deserto. A noite está
caindo e eles correm sérios riscos se ficarem ao relento. Dersu toma o comando
e ordena ao capitão que corte a vegetação seca sem parar. A única chance de
sobrevivência é construir uma espécie de cabana de palha. O capitão desmaia
devido ao esforço exagerado.
Esteticamente perfeito, Dersu Uzala
tem a cena de sol mais vermelho da história do cinema. Nessas horas que dá
raiva não estar assistindo no cinema. Mas quem não tem cão, caça com gato. E
quem não tem corças, caça humanos. Um tigre se aproxima. Dersu dá um tiro para
assustá-lo. Deste dia em diante, Dersu, o homem que fala com os tigres, nunca
mais será o mesmo. Supersticioso, acha que o tigre irá fugir até morrer de cansaço.
E que a floresta irá mandar outro tigre atrás dele.
A visão de Dersu deteriora-se. É o
triste ocaso de um caçador que depende dos olhos para continuar trabalhando. O
capitão o leva para morar com a mulher e o filho na cidade. Mas Dersu não se
adapta. Não vê lógica nenhuma na cidade.
Com seus 140 minutos desafiadores, Dersu Uzala é um filme
inesquecível sobre a amizade e o encontro de dois mundos diferentes.
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