O Brasil também tem seu sicário (matador de aluguel): Amador, o último personagem interpretado por Nelson Xavier. A trilha sonora nos remete às ruas cinzentas do subúrbio de Goiânia, o cenário onde o pistoleiro aposentado passa os dias frequentando bares e dialogando. Sim, o roteiro baseia-se em diálogos de Amador com várias pessoas e objetos. O neto do ex-comparsa. O ex-comparsa, fumante inveterado, internado com a perna inchada numa instituição. O poderoso chefão do bairro, que coopta Amador para agenciar a distribuição de "maquininhas" de jogo de azar pelos botecos da região. O teimoso dono de um desses botecos. Dois cineastas meio patetas em busca de histórias e duas metralhadoras. O armeiro que lhe devolve a sua "mausinha", como Amador chama carinhosamente a Mauser modelo antigo, sua pistola de estimação, com a explicação de que ela não tem conserto. Se falhar, só tem que dar uma batidinha na parte de baixo do pente. O álbum em que coleciona recortes de jornal com supostos trabalhos de outrora. Entre uma interação e outra, Amador percorre as ruas com sua enferrujada Parati prateada, com água no farol, levando as maquininhas para lá e para cá, fervilhando no peito o rancor do abandono e da falta de reconhecimento, até esses sentimentos ruins transbordarem numa aparentemente pouco justificável onda de violência. Comparando o filme de Érico Rassi com o de Denis Villeneuve, temos dois atores de classe (Xavier e Del Toro), dois filmes que mostram uma realidade triste e dois diretores aficionados pela tensão vagarosa e densa.
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