A
cidadezinha guatemalteca de Las Piedras,
na costa do Pacífico, vive da exploração do petróleo, realizada por uma
companhia ianque. A mão de obra barata inclui nativos e índios. Forasteiros sem
emprego têm como ponto de encontro o Corsário Negro, o bar que reúne a “nata”
local. É ali, em meio ao ócio e ao desalento, que se fica sabendo do serviço
fatídico.
A empresa necessita quatro
motoristas experientes para uma missão inusitada. O transporte de
nitroglicerina, em caminhões comuns, sem nenhum amortecedor especial, até um
campo de petróleo. O perigo é grande. O dinheiro, também. O francês Mario não
hesita em participar dos testes. Com sangue frio e habilidade, é um dos
escolhidos, para o sofrimento de sua amante, a atendente de bar Linda,
interpretada pela brasileira Vera Amado Clouzot.
O diretor Henri Clouzot (que fez o
imortal O corvo) conseguiu, em O salário
do medo, filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes, em 1953, transmitir
com sucesso o sentimento que se evola das páginas do livro de Georges Arnaud. Lançada
em 1941, a obra resume a angustiante condição humana de não ter como escapar,
não ter como modificar uma rotina de ócio e opressão, não ter como evitar o sentimento
paralisante do medo.
Arnaud parece ter escrito com o
cinema em mente. Escolheu o presente do indicativo. Em cada parágrafo revela-se
uma cena; em cada diálogo, o caráter de um personagem. O livro é rápido (180 páginas)
e do tipo difícil de largar. O filme, de 2 horas e meia, não parece longo; fiel
ao original, é um exemplo de adaptação séria, sem apelações.
Para se ter uma ideia, o livro tem
cenas de sexo, o filme não. Cenas de suspense, não raras no livro, não são
aumentadas no filme. O filme limita-se a contar, na melhor linguagem
cinematográfica, a saga destas almas perdidas.
Os perfis dos personagens são fiéis ao livro, mas alguns mudam de nome na película. No livro, o corajoso protagonista
é Gérard Stürmer, no filme, é Mario. Seu companheiro de equipe, no livro, é o
romeno Johnny; no filme, o francês Jo. Durante toda a viagem excruciante, a
coragem de Mario irá conviver com a covardia de Jo. Pelo seu trabalho como o
motorista que não consegue controlar o medo, Charles Vanel foi premiado em
Cannes. Yves Montand é Mario.
A fase preparatória, onde há o
desenvolvimento dos personagens, ocupa 40% do tempo, tanto do filme como no
livro.
Diferenças significativas entre o
livro e o filme são poucas. No filme foi retirada a parte em que os caminhões
precisam atravessar um povoado. O padre pede aos motoristas que tomem um
desvio, segundo ele, em ótimas condições. As duas equipes concordam, porém,
precisam voltar, devido ao péssimo estado da estrada. Bimba, o espanhol, vai
até a igreja e espanca o padre. No filme, a cena que “substitui” essa passagem
é a presença de uma grande pedra na estrada.
No correr das linhas ou no
desempenho dos atores Ives Montand e Charles Vanel, o desespero, o cansaço, o pavor dos
motoristas são transmitidos minuciosamente, e o leitor ou espectador parecem
estar dentro da cabine do caminhão, transportando nitroglicerina, em estradas
sinuosas e esburacadas da Guatemala, onde um simples erro de câmbio, uma freada
brusca, uma acelerada em falso, enfim, a mínima falta de atenção, pode mandar
tudo pelos ares.
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